quinta-feira, agosto 13, 2009


TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 205





Por mais de uma vez Astério lhe perguntou o que tem, qual o motivo dessa tristeza, Elisa respondeu que não tem nada, tristeza nenhuma, não se preocupe com ela. Não rira nem mesmo quando ele lhe comunicou estar Osnar disposto a propor à secretária-executiva da Brastânio, aquela de faixa prateada na cabeleira ruiva, se lembra?, o mesmo que propôs à polaca, imagine o despropósito!

Inacreditável: Elisa ficara arrasada com a morte do Velho. Enquanto ele viveu, em nenhum momento Astério percebera qualquer demonstração de amor profundo, entre filha e pai. O medo, isso sim, Elisa não conseguia esconder. Confusamente Astério se dá conta de que ela se casara sobretudo para libertar-se da tirania paterna, da prisão familiar, do cajado. Mesmo depois de casar as filhas, o Velho se impunha, a elas e aos genros. Jamais Astério o ouvira pronunciar uma palavra de carinho, esboçar um gesto de ternura, nem sequer para confortar Elisa quando do passamento de Toninho. No velório do Major, Perpétua por uma vez desfeita em lágrimas, inconsolável, Zé Esteves escarnecera:

- Nunca mais arranja outro, perca a esperança. Idiota dessa espécie aparece um em cada século e olhe lá.

Vivia a acusar Astério devido ao assunto do cheque usado para descontar a duplicata. Transcorriam os anos e o carrasco continuava a lançar na cara da filha, quando não do genro, aquela falcatrua, ameaçando de cadeia se a repetisse.

Meu Deus, como é difícil entender as pessoas! Pensou que Elisa fosse respirar, finalmente liberta do medo, medo do pai e da miséria. Feliz com o presente da irmã, solução para os problemas de dinheiro a agoniá-los, além da nova residência a lhes dar status de ricos, lugar proeminente na sociedade de Agreste. Ao contrário, Elisa parece inconsolável como se, ao perder o pai, houvesse perdido qualquer esperança de felicidade.

Astério não é exactamente um psicólogo apesar das demonstrações intelectuais fornecidas nas carambolas ao bilhar, cálculos exactos milimetrados, perfeitos; certas tacadas suas são obras de arte. Mas as complicações no comportamento das pessoas, calundus, choradeiras, fossas, o perturbam e apoquentam. Talvez dona Carmosina, tão inteligente e lida, possa entender e explicar. Tieta também, nada lhe escapa.

Quando conversaram, ele e Tieta, a propósito do desejo de mudança para São Paulo, expresso por Eliza, a cunhada o aconselhara a botar rédea curta na esposa, a seguir o exemplo do velho Zé Esteves e até falara no bordão.

Tão bondosa, coração de ouro, todavia, em certos instantes, Tieta se parecia com o Velho. Erguer a voz contra Elisa? Trazê-la de rédea curta? Mas por que se ela é tão direita e delicada, dona de casa cuidadosa, sem falar na beleza e elegância?

Recordando tais virtudes da esposa, comove-se Astério. Que mal existe em choro e tristeza da filha, lastimando perda de pai? Com o tempo passará. Mais dia, menos dia voltará a ser a menina Elisa, ostentando o ar distante e um pouco esnobe, um tanto melancólico que lhe vai tão bem. A mulher mais bela e elegante da cidade; outrora pobre, hoje proprietária de terras, quem tem terras é dono de um pedaço do mundo, frase do Velho excomungado. Dona de uma senhora bunda. Falaram a Astério numa tal de Maria Imaculada cujo traseiro sendo cuidado, um dia… Tolice. Igual ao de Elisa, nenhum, por mais se esforce a natureza.

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