TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 207
EPISÓDIO Nº 207
Seixas ainda resmunga, Fidélio mantém silêncio, Osnar continua:
- Vocês sabem que o sargento Peto vai completar treze anos por esses dias? Estou acertando com Zuleika uma grande festa para sábado que vem, para comemorar a data.
- Com Zuleika? Por que com ela? – espanta-se Seixas, um resto de magoa na voz: - Aniversário de garoto se festeja em casa dos pais com guaraná, coca-cola, mesa de doces, umas festinhas que são o fim da picada. Mas se dona Perpétua comemorar, tenho de ir para levar Zelita, minha prima mais moça, de onze anos. Ela adora.
Osnar sorri para Seixas, agradecido. A conversa toma rumo a seu gosto. Está cansado de ouvir bate-boca sobre fábrica e poluição, actualmente não se fala de outro assunto em Agreste. Nem o rápido avanço dos postes da Hidrelétrica, consegue agora desviar as atenções do problema a dividir a cidade desde que as máquinas da CBEP, a mando da Brastânio, asfaltaram num piscar de olho o antigo caminho da lama, futura rua Antonieta Esteves Cantarelli.
Segredo mal guardado, a programada homenagem anda na boca do mundo, diversas pessoas viram a placa na mão de Ascânio. Somente Tieta, veraneando em Mangue Seco, ignora a próxima consagração oficial de seu nome, dos projectos actuais da Municipalidade, o único a reunir aplausos. No mais, reina a discórdia, a cidade dividida.
Nas ruas antes tão pacatas, travam-se polémicas, trocam-se desaforos. Argumenta-se a favor ou contra a instalação da fábrica. Deve-se ou não permitir, saudar com entusiasmo ou repelir com indignação, significa vida ou morte? Uma parte da população mantém-se indecisa, sem saber em qual dos murais acreditar. No da Prefeitura, onde se afirma a completa inocuidade da indústria de dióxido de titânio e são prometidas mirabolantes maravilhas ao município e ao povo? Ou no da agência dos Correios, a proclamar a extrema periculosidade da Brastânio e o perigo que correm o céu, a terra, o mar e a atmosfera de toda a região, desgraças mil devidas à indústria de dióxido de titânio? Dióxido de titânio, nome sugestivo, apaixonante, ameaçador, misterioso.
Existem alguns ecléticos que misturam alegações dos dois murais ou seja: acreditam haver muita verdade nas afirmativas sobre a terrível porcentagem de poluição causada pela discutida indústria mas acham que nem por isso se deve impedir a sua instalação no coqueiral de Mangue Seco ou em outro ponto qualquer de Sant’Ana do Agreste. Segundo eles não existe progresso sem poluição e citam o exemplo dos Estados Unidos, do Japão, da Alemanha, de são Paulo, quatro colossos.
Debate altamente intelectual a ganhar a rua, extra limitando das fronteiras do Aerópago, do Bar dos Açores, da pensão da Zuleika, da Matriz, centros culturais de Sant’Ana do Agreste, sendo o último especializado em questões de liturgia, nas quais as beatas são peritas dando, por vezes, quinaus no próprio padre Mariano.
Passou-se a discutir nas lojas, nos armazéns, na feira, nas casas e nas esquinas. Até no Beco da Amargura, no boteco de Caloca. Com ardor, por vezes apaixonadamente. Aqui e ali aconteceram as primeiras desavenças sérias. Bacurau e Carioca (devia o apelido a ter vivido no Rio durante uns anos e ser metido a letrado), ambos empregados no curtume, foram às vias de facto quando Bacurau tratou Carioca de pestilento e este, em troca, o ofendeu acusando-o de medieval, xingo grave pois desconhecido para Bacurau, homem de poucas luzes. Dióxido de titânio tornou-se expressão popular, signo ao mesmo tempo do bem e do mal.
- Vocês sabem que o sargento Peto vai completar treze anos por esses dias? Estou acertando com Zuleika uma grande festa para sábado que vem, para comemorar a data.
- Com Zuleika? Por que com ela? – espanta-se Seixas, um resto de magoa na voz: - Aniversário de garoto se festeja em casa dos pais com guaraná, coca-cola, mesa de doces, umas festinhas que são o fim da picada. Mas se dona Perpétua comemorar, tenho de ir para levar Zelita, minha prima mais moça, de onze anos. Ela adora.
Osnar sorri para Seixas, agradecido. A conversa toma rumo a seu gosto. Está cansado de ouvir bate-boca sobre fábrica e poluição, actualmente não se fala de outro assunto em Agreste. Nem o rápido avanço dos postes da Hidrelétrica, consegue agora desviar as atenções do problema a dividir a cidade desde que as máquinas da CBEP, a mando da Brastânio, asfaltaram num piscar de olho o antigo caminho da lama, futura rua Antonieta Esteves Cantarelli.
Segredo mal guardado, a programada homenagem anda na boca do mundo, diversas pessoas viram a placa na mão de Ascânio. Somente Tieta, veraneando em Mangue Seco, ignora a próxima consagração oficial de seu nome, dos projectos actuais da Municipalidade, o único a reunir aplausos. No mais, reina a discórdia, a cidade dividida.
Nas ruas antes tão pacatas, travam-se polémicas, trocam-se desaforos. Argumenta-se a favor ou contra a instalação da fábrica. Deve-se ou não permitir, saudar com entusiasmo ou repelir com indignação, significa vida ou morte? Uma parte da população mantém-se indecisa, sem saber em qual dos murais acreditar. No da Prefeitura, onde se afirma a completa inocuidade da indústria de dióxido de titânio e são prometidas mirabolantes maravilhas ao município e ao povo? Ou no da agência dos Correios, a proclamar a extrema periculosidade da Brastânio e o perigo que correm o céu, a terra, o mar e a atmosfera de toda a região, desgraças mil devidas à indústria de dióxido de titânio? Dióxido de titânio, nome sugestivo, apaixonante, ameaçador, misterioso.
Existem alguns ecléticos que misturam alegações dos dois murais ou seja: acreditam haver muita verdade nas afirmativas sobre a terrível porcentagem de poluição causada pela discutida indústria mas acham que nem por isso se deve impedir a sua instalação no coqueiral de Mangue Seco ou em outro ponto qualquer de Sant’Ana do Agreste. Segundo eles não existe progresso sem poluição e citam o exemplo dos Estados Unidos, do Japão, da Alemanha, de são Paulo, quatro colossos.
Debate altamente intelectual a ganhar a rua, extra limitando das fronteiras do Aerópago, do Bar dos Açores, da pensão da Zuleika, da Matriz, centros culturais de Sant’Ana do Agreste, sendo o último especializado em questões de liturgia, nas quais as beatas são peritas dando, por vezes, quinaus no próprio padre Mariano.
Passou-se a discutir nas lojas, nos armazéns, na feira, nas casas e nas esquinas. Até no Beco da Amargura, no boteco de Caloca. Com ardor, por vezes apaixonadamente. Aqui e ali aconteceram as primeiras desavenças sérias. Bacurau e Carioca (devia o apelido a ter vivido no Rio durante uns anos e ser metido a letrado), ambos empregados no curtume, foram às vias de facto quando Bacurau tratou Carioca de pestilento e este, em troca, o ofendeu acusando-o de medieval, xingo grave pois desconhecido para Bacurau, homem de poucas luzes. Dióxido de titânio tornou-se expressão popular, signo ao mesmo tempo do bem e do mal.
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