quarta-feira, setembro 09, 2009


TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 228



Disse e mamou, com satisfação de expert, um trago largo de uísque, degustando-o. Por detrás do balcão, agitando a coqueteleira, o barman sorri, pensa no valor das aparências.

Para os simplesmente vaidosos, a retorcida garrafa de cristal, em tons verdes, sinal de alta consideração. Para os suficientes e orgulhosos, a simples garrafa original do reino Unido, fechada, selada, lacrada, sinal de respeito ainda maior. Numa e noutra, para uns e outros, idêntico uísque falsificado da reserva do hotel, diferença apenas de preço. Também, que gosto e refinamento pode ter um bebedor de uísque? Nenhum, na opinião do barman.

Durante a curta hora em que permaneceram bebericando e trocando ideias à borda da piscina, em cuja água azulada e transparente os corpos das mulheres eram visão amena e grata, Ascânio foi apresentado a uma quantidade de pessoas, todas de evidente importância, que paravam para cumprimentar Rosalvo Lucena e trocar uma palavra com o Magnífico Doutor, por vezes segredar-lhe ao ouvido. Sem falar das moças, algumas delas certamente a serviço da Brastânio, pois Mirko as encarregava de tarefas diversas: telefonemas, reserva de mesa no Chez Bernard para um jantar de seis talheres naquela mesma noite, compra de discos de Caymmi numa das butiques. Ao apresentar Ascânio, o Magnífico não informava sobre o cargo por ele exercido na Prefeitura de Agreste nem o dizia vindo de lá. Ressaltava, porém, sua condição de dinâmico dirigente, de muito futuro, destinado a desempenhar importante papel na vida do Estado, quiçá do país. Un vrai conducteur d’hommes.

Palavras agradáveis de ouvir, embalam como um acalanto, traçam uma perspectiva, dão força e ânimo. Idealismo e ambição dissera o jovem e vitorioso empresário. Idealismo, Ascânio sempre teve, a ambição nasce e cresce à beira da piscina.

Manhã de sol, ambiente cordial, a graça das mulheres, a inteligência dos companheiros de mesa, a bebida cara, isso, sim é uísque. Já não se sente tão mísero joão-ninguém ao lado de Rosalvo Lucena. Que por sinal se despede, tem almoço marcado com alta figura da administração estadual:

- Em breve, nos veremos em Agreste.

- Lá estarei às suas ordens.

Ouve a murmurada ponderação do doutor Mirko Stefano quando Lucena se levanta:

- O homem é uma parada difícil, vá com cuidado. Dele depende muita coisa. Diga-lhe que a encomenda já está a caminho.

O Magnífico ainda se demora a saborear o uísque, a roda crescendo em torno dele. Apesar de ter pela frente une journée terriblement chargée, não se apressa, preza e desfruta tudo aquilo: o dia claro de sol, o movimento da gente ociosa no bar e na piscina, a visão dos corpos seminus, as moças se oferecendo, o mexerico e adulação dos ávidos foliculários. Levanta-se, finalmente, assina a nota, marca um encontro com Ascânio para as quatro da tarde. Pat o acompanhará à sede da companhia:

- Temos muito a conversar. Bye bye.

Enfim, pensa Ascânio, a esperada conversa, motivo da sua vinda. Pat
aproxima-se, comboiando outra moça, morena magra, de busto saliente:

- Esta dondoca é Nilsa, neném. Acaba de ser nomeada tua secretária. Não posso te acompanhar hoje, é folga de Ismael na redacção, só tem de entregar a coluna, o dia é dele – Olha com ternura para o noivo que, tendo-se servido do fundo da garrafa, voltara à piscina: - Você compreende, né? Nilsa fará as minhas vezes. Você vai gostar dela e ela de você, neném.

Nilsa ri muito, fala pouco, usa qualquer pretexto para exibir o seio farto. Propõe almoço frio, é mais rápido e não pesa no estômago. Não houve sesta, ela o acompanhou directamente ao quarto. Ao despir a cueca, contemplando os seios de Nilsa, grandes, redondos, túmidos e o pequeno ventre de espessa mata negra. Ascânio considera que o atraso na conversa que o trouxera à capital tinha suas compensações. Não fossem
as saudades de Leonora, não se importaria de
demorar mais alguns dias.

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