A RELIGIÃO E O EVOLUCIONISMO
“O conceito de uma vida eterna gloriosa foi inventado para mitigar o nosso medo da morte”.
Esta é uma teoria dezenas de vezes repetida e aceite porque, aparentemente, faz sentido. E digo aparentemente uma vez que, posta a questão aos enfermeiros e assistentes sociais em lar de idosos, os testemunhos vão no sentido inverso, ou seja: os crentes apresentavam maior receio da morte.
De qualquer forma a crença numa religião é uma inevitabilidade ou, com uma cotação negativa, uma fatalidade.
Recebemo-la logo após o nascimento como uma herança cultural (o crucifixo na parede e o rosário pendurado na cabeceira da cama) e ao longo da vida, ou se instala e nos comanda, ou por ali fica num "faz de conta" para não destoar dos outros. Raramente temos coragem para a renegar quando ela já pouco ou nada nos diz.
Não esqueçamos que tanto os nossos sentidos como as nossas crenças são ferramentas para a nossa sobrevivência e evoluíram para se alimentarem mutuamente. Sem os sentidos não podíamos conhecer o mundo perceptível e sem as crenças não poderíamos saber o que está fora do alcance dos sentidos, nem sobre significados e causas. Por isso elas persistem apesar das evidências contraditórias.
Eu próprio já desisti, relativamente à minha neta, quatro anos acabados de fazer, de outra explicação que não seja “enviar para o céu” os parentes e pessoas conhecidas que, entretanto, vão falecendo.
É um assunto que mais tarde ela terá que descodificar. Para já vão todos para o céu e ponto final. De resto, para dificultar as coisas, as crianças revelam uma tendência natural para adoptarem a teoria dualista da mente que consiste em aceitar que esta é uma espécie de espírito incorpóreo que habita o corpo mas pode existir em qualquer outro lado.
De qualquer forma a crença numa religião é uma inevitabilidade ou, com uma cotação negativa, uma fatalidade.
Recebemo-la logo após o nascimento como uma herança cultural (o crucifixo na parede e o rosário pendurado na cabeceira da cama) e ao longo da vida, ou se instala e nos comanda, ou por ali fica num "faz de conta" para não destoar dos outros. Raramente temos coragem para a renegar quando ela já pouco ou nada nos diz.
Não esqueçamos que tanto os nossos sentidos como as nossas crenças são ferramentas para a nossa sobrevivência e evoluíram para se alimentarem mutuamente. Sem os sentidos não podíamos conhecer o mundo perceptível e sem as crenças não poderíamos saber o que está fora do alcance dos sentidos, nem sobre significados e causas. Por isso elas persistem apesar das evidências contraditórias.
Eu próprio já desisti, relativamente à minha neta, quatro anos acabados de fazer, de outra explicação que não seja “enviar para o céu” os parentes e pessoas conhecidas que, entretanto, vão falecendo.
É um assunto que mais tarde ela terá que descodificar. Para já vão todos para o céu e ponto final. De resto, para dificultar as coisas, as crianças revelam uma tendência natural para adoptarem a teoria dualista da mente que consiste em aceitar que esta é uma espécie de espírito incorpóreo que habita o corpo mas pode existir em qualquer outro lado.
Portanto, aos quatro anos, o melhor é mandá-los todos para o céu… lutar por crenças racionais no imaginário de uma criança de 4 anos não é tarefa fácil. No melhor dos casos, não estimular crenças irracionais e ensiná-la a pensar com lógica, o resto ficará para mais tarde.
Esta é mais uma razão pela qual as religiões se “colam”: dão explicações simples e directas para as almas simples…e levam a não pensar mais no assunto.
Mas esta relação da religião com o além, relação vertical, talvez não seja a mais importante. As religiões são imensamente eficazes na formação de relações sociais conferindo coesão às sociedades e, nesta medida, fomentam a sobrevivência naquela a que podemos chamar a relação horizontal.
Se o desejo de servir um Deus for mais motivador do que o desejo de ajudar os outros então a solidariedade será, pelo menos, reforçada pelo facto de se ser crente.
É claro, que também podemos concluir como Einstein: “Se as pessoas só são boas (solidárias) porque temem o castigo e esperam recompensa, então somos mesmo uma triste cambada”.
As religiões, dentro de si próprias evoluem, adaptam-se, ajustam-se e tiram partido de novas realidades sociais. O Deus hebraico era essencialmente um guerreiro que comandava o seu povo para combater e prometia-lhe a vitória no futuro por muitas derrotas que tivesse sofrido no passado. O Deus cristão, por outro lado, reflectia a realidade da vitória militar já não ser possível e a única estratégia de sobrevivência envolver uma coexistência mais pacífica.
O Deus cristão baixou as armas numa estratégia tão radicalmente diferente que era possível afirmar que o seu Deus era completamente distinto do Deus hebraico, como alguns especialistas afirmaram.
No entanto, quando os cristãos se tornaram politicamente poderosos, a evolução cultural promoveu a retoma das estratégias militares, como foi o caso das cruzadas, esquecida, então, a política da “outra face”.
Hoje, de novo, a Igreja de Roma, força a componente pacifista entre os homens e o respeito das religiões umas pelas outras, o chamado ecumenismo, com o objectivo primeiro de manter os homens como pessoas crentes contra o pensamento ateu que é, sem dúvida, o principal inimigo.
E como a propensão para as crenças, como já vimos, parece ligar-se à própria sobrevivência, são já os ateus, alguns, que se atrevem a apresentar o seu pensamento como uma “religião” de crenças racionais.
Os cépticos, na opinião de Gregory W. Lester, Prof. de Psicologia da Universidade de St. Thomas em Houston, devem adoptar uma estratégia de longo prazo afirmando as suas crenças racionais sem entrar em lutas de morte numa batalha com pessoas que têm convicções únicas.
Os cépticos ou não crentes, constituem o exemplo vivo que é possível, por “uma alta função do cérebro”, vencer e modificar crenças irracionais no sentido em que vai contra algumas das urgências biológicas fundamentais.
Acredito que esta aptidão, uma vez disseminada, pode ser assustadora para os líderes das religiões, mais de umas que de outras, e por isso novas estratégias, permanente evolução...
Esta é mais uma razão pela qual as religiões se “colam”: dão explicações simples e directas para as almas simples…e levam a não pensar mais no assunto.
Mas esta relação da religião com o além, relação vertical, talvez não seja a mais importante. As religiões são imensamente eficazes na formação de relações sociais conferindo coesão às sociedades e, nesta medida, fomentam a sobrevivência naquela a que podemos chamar a relação horizontal.
Se o desejo de servir um Deus for mais motivador do que o desejo de ajudar os outros então a solidariedade será, pelo menos, reforçada pelo facto de se ser crente.
É claro, que também podemos concluir como Einstein: “Se as pessoas só são boas (solidárias) porque temem o castigo e esperam recompensa, então somos mesmo uma triste cambada”.
As religiões, dentro de si próprias evoluem, adaptam-se, ajustam-se e tiram partido de novas realidades sociais. O Deus hebraico era essencialmente um guerreiro que comandava o seu povo para combater e prometia-lhe a vitória no futuro por muitas derrotas que tivesse sofrido no passado. O Deus cristão, por outro lado, reflectia a realidade da vitória militar já não ser possível e a única estratégia de sobrevivência envolver uma coexistência mais pacífica.
O Deus cristão baixou as armas numa estratégia tão radicalmente diferente que era possível afirmar que o seu Deus era completamente distinto do Deus hebraico, como alguns especialistas afirmaram.
No entanto, quando os cristãos se tornaram politicamente poderosos, a evolução cultural promoveu a retoma das estratégias militares, como foi o caso das cruzadas, esquecida, então, a política da “outra face”.
Hoje, de novo, a Igreja de Roma, força a componente pacifista entre os homens e o respeito das religiões umas pelas outras, o chamado ecumenismo, com o objectivo primeiro de manter os homens como pessoas crentes contra o pensamento ateu que é, sem dúvida, o principal inimigo.
E como a propensão para as crenças, como já vimos, parece ligar-se à própria sobrevivência, são já os ateus, alguns, que se atrevem a apresentar o seu pensamento como uma “religião” de crenças racionais.
Os cépticos, na opinião de Gregory W. Lester, Prof. de Psicologia da Universidade de St. Thomas em Houston, devem adoptar uma estratégia de longo prazo afirmando as suas crenças racionais sem entrar em lutas de morte numa batalha com pessoas que têm convicções únicas.
Os cépticos ou não crentes, constituem o exemplo vivo que é possível, por “uma alta função do cérebro”, vencer e modificar crenças irracionais no sentido em que vai contra algumas das urgências biológicas fundamentais.
Acredito que esta aptidão, uma vez disseminada, pode ser assustadora para os líderes das religiões, mais de umas que de outras, e por isso novas estratégias, permanente evolução...
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