TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 261
Na cozinha, dona Laura dirige a preparação do almoço, Elisa vai ajudá-la. Na varanda, dona Carmosina e o Comandante reclamam de imediato o regresso de Tieta a Agreste para colaborar na colecta de assinaturas contra os projectos da Brastânio. O Comandante, acordado desde as cinco da manhã avistara Ascânio na povoação, soubera que ele andara perguntando por uma caravana de técnicos da Brastânio que devia estar a chegar. Numerosa, segundo dissera, seria o começo da invasão.
- Pedi a Ascânio e peço a você que hoje evitem discutir sobre esse negócio da fábrica. Para não estragar a festa.
- Está bem, prometemos não discutir mas você promete voltar para Agreste. Precisamos de você lá – diz o Comandante.
- Me concedam pelo menos uns dias em minha biboca. Me deu um trabalhão e custou um dinheiro aloprado.
- Não podemos perder nem um minuto, Tieta. Se você não tomar a frente não se vai obter nada. Tudo depende de você.
- Tudo o quê? Vocês fazem que eu me sinta uma criminosa. Afinal quem sou eu para impedir que instalem aqui essa maldita fábrica?
- Quem é você? Como diz Modesto Pires, você é a nova padroeira de Agreste. Abaixo de Deus o povo só confia em você – sentencia dona Carmosina.
- Ninguém adora mais Mangue Seco do que eu. No verão, pouco apareço em Agreste – Há um laivo de censura na voz do Comandante – Mas exactamente porque sou doido por isso aqui, estou disposto a ficar na cidade o tempo que for necessário. É lá e não aqui que se pode fazer alguma coisa de concreto.
- Quem lhe disse, Comandante? – Tieta considera os amigos em silêncio, baixa a voz – Se alguma coisa se fez, capaz de surtir algum efeito, foi aqui, em Mangue Seco. Não devia contar, prometi segredo. De qualquer maneira, mais dia, menos dia, vão saber.
- O quê? – impaciente, dona Carmosina.
- A tal equipe que Ascânio anda procurando…
Ouvem estarrecidos a espantosa aventura. Dona Carmosina põe a mão no peito para conter o coração:
- Sinto até palpitações. Estou arrepiada.
Comandante Dário, homem da lei e da ordem, recomenda:
- Faz de conta que você não me disse nada.
Tieta tenta sorrir mas não há alegria em seu sorriso. Recorda o desenho exposto sobre a mesa e a segurança na voz de Ascânio: esse é um assunto definitivamente resolvido dona Antonieta. De que adianta ir para Agreste, debater contra a Brastânio? Tieta sabe que não tem como impedir o estabelecimento da indústria do dióxido de titânio no coqueiral de Mangue Seco. Problemas dessa relevância são discutidos e decididos nos altos escalões, entre os grandes, o resto não conta. Quantas vezes Felipe obtivera, com manobras, dinheiro e prestígio, passar por cima das leis e do interesse dos demais, da imensa maioria? No Refúgio dos Lordes, na tranquilidade das salas reservadas, realizavam-se encontros onde eram tratados e obtidos gabaritos de prédios, localização de fábricas, concessões de cartas patentes, favores os mais diversos, negociatas de todos os tipos.
EPISÓDIO Nº 261
Na cozinha, dona Laura dirige a preparação do almoço, Elisa vai ajudá-la. Na varanda, dona Carmosina e o Comandante reclamam de imediato o regresso de Tieta a Agreste para colaborar na colecta de assinaturas contra os projectos da Brastânio. O Comandante, acordado desde as cinco da manhã avistara Ascânio na povoação, soubera que ele andara perguntando por uma caravana de técnicos da Brastânio que devia estar a chegar. Numerosa, segundo dissera, seria o começo da invasão.
- Pedi a Ascânio e peço a você que hoje evitem discutir sobre esse negócio da fábrica. Para não estragar a festa.
- Está bem, prometemos não discutir mas você promete voltar para Agreste. Precisamos de você lá – diz o Comandante.
- Me concedam pelo menos uns dias em minha biboca. Me deu um trabalhão e custou um dinheiro aloprado.
- Não podemos perder nem um minuto, Tieta. Se você não tomar a frente não se vai obter nada. Tudo depende de você.
- Tudo o quê? Vocês fazem que eu me sinta uma criminosa. Afinal quem sou eu para impedir que instalem aqui essa maldita fábrica?
- Quem é você? Como diz Modesto Pires, você é a nova padroeira de Agreste. Abaixo de Deus o povo só confia em você – sentencia dona Carmosina.
- Ninguém adora mais Mangue Seco do que eu. No verão, pouco apareço em Agreste – Há um laivo de censura na voz do Comandante – Mas exactamente porque sou doido por isso aqui, estou disposto a ficar na cidade o tempo que for necessário. É lá e não aqui que se pode fazer alguma coisa de concreto.
- Quem lhe disse, Comandante? – Tieta considera os amigos em silêncio, baixa a voz – Se alguma coisa se fez, capaz de surtir algum efeito, foi aqui, em Mangue Seco. Não devia contar, prometi segredo. De qualquer maneira, mais dia, menos dia, vão saber.
- O quê? – impaciente, dona Carmosina.
- A tal equipe que Ascânio anda procurando…
Ouvem estarrecidos a espantosa aventura. Dona Carmosina põe a mão no peito para conter o coração:
- Sinto até palpitações. Estou arrepiada.
Comandante Dário, homem da lei e da ordem, recomenda:
- Faz de conta que você não me disse nada.
Tieta tenta sorrir mas não há alegria em seu sorriso. Recorda o desenho exposto sobre a mesa e a segurança na voz de Ascânio: esse é um assunto definitivamente resolvido dona Antonieta. De que adianta ir para Agreste, debater contra a Brastânio? Tieta sabe que não tem como impedir o estabelecimento da indústria do dióxido de titânio no coqueiral de Mangue Seco. Problemas dessa relevância são discutidos e decididos nos altos escalões, entre os grandes, o resto não conta. Quantas vezes Felipe obtivera, com manobras, dinheiro e prestígio, passar por cima das leis e do interesse dos demais, da imensa maioria? No Refúgio dos Lordes, na tranquilidade das salas reservadas, realizavam-se encontros onde eram tratados e obtidos gabaritos de prédios, localização de fábricas, concessões de cartas patentes, favores os mais diversos, negociatas de todos os tipos.
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