TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO nº 266
DA NOTORIEDADE DE AGRESTE
Dependurado em lugar de honra, na entrada de Prefeitura o vistoso desenho de Rufo, “a deslumbrante visão do futuro”, atai curiosos. Balançam a cabeça, unânimes na admiração às qualidades artísticas do decorador, divergentes quanto ao conteúdo. Formidável, apoiam alguns, com entusiasmo: Ascânio é um porreta, vai reerguer Agreste, transformar a região. Outros, mais prudentes, repetem argumentos do Comandante e de dona Carmosina: fosse essa indústria assim tão benéfica, por que se haveria de instalar em área pobre e distante desprovida de recursos? Dizem que apodrece a água, envenena o ar. Está nos jornais. Não a querem em lugar nenhum do mundo. Proibiram-na em São Paulo e no Rio. Tentaram situá-la entre Ilhéus e Itabuna, o povo se levantou. Ascânio ou está sendo enrolado ou…
Ou o quê? Ascânio é homem íntegro, sua vida um livro aberto, cidadão acima de qualquer suspeita, de qualquer insinuação…
Ninguém está insinuando nada, mas é do domínio público que ele está de olho na paulista rica, herdeira do Comendador, enteada de dona Antonieta. Postulante pobre, no caso paupérrimo, à mão de milionária, perde a cabeça com facilidade e nessas grandes empresas corre dinheiro a rodo. Para Ascânio, a instalação da fábrica no município vem a calhar, quem pode negar a evidência?
Azedam-se as discussões. Cresce o número de leitores dos jornais da capital, antes reduzido aos privilegiados assinantes de A Tarde. Por encomenda de Chalita, sempre disposto a aumentar as suas fontes de receita, chegam pela marinete de Jairo exemplares dos diversos quotidianos de Salvador. Se o dono do cinema tem juízo formado sobre o problema da indústria de titânio, não o alardeia, expõe à venda o pró e o contra, recolhe os níqueis do lucro escasso. A polémica em torno da Brastânio se alimenta de notícias e boatos, de maledicências, prossegue rua afora.
Leram e comentaram a entrevista de Ascânio, grandiloquente: “a Brastânio significa a redenção de Agreste, riqueza e progresso para o litoral norte do Estado. As moças admiraram-lhe o retrato em duas colunas, o dedo em riste, jovem líder político de grande futuro, candidato do povo à Prefeitura, no dizer do repórter. Causou igualmente sensação o ríspido suelto, com que, na sessão editorial, A Tarde comentou tais declarações. Sob o título de Candidato do povo ou da Brastânio? Classificava Ascânio de playboy matuto, hóspede da Brastânio em hotel de luxo. Quanto à riqueza e ao progresso anunciados pelo “leviano e faceto personagem” não passavam de poluição e miséria na opinião responsável de intelectuais sergipanos que assinaram memorial de apoio ao telegrama do prefeito de Estância, figuras de proa: pintor Jenner Augusto, escritor Mário Cabral, professor José Calasans, jornalista Junot Silveira.
Espanto e incredulidade causaram as confusas notícias de ameaças à vida dos componentes de uma equipe de técnicos da Brastânio, impedidos de desembarcar em Mangue Seco pela população indignada, unida em defesa do meio ambiente – aplaudia Giovanni Guimarães. Por agentes internacionais da subversão ao serviço do comunismo ateu, comandados por uma russa que outra não era senão a bolchevique Alexandra Kolontai, cuja presença no Brasil os serviços competentes haviam assinalado – denunciava a mesma gazeta onde saíra a entrevista de Ascânio.
Por fim, culminando o farto noticiário, o povo tomou conhecimento da data marcada para as eleições. Por que tão próximas? – perguntava o articulista de A Tarde. Porque a Brastânio tem pressa – respondia ele próprio.
Em que pese as divergências, resguardada a opinião de cada um sobre o problema da indústria de titânio, havia um ponto em torno do qual todos se punham vaidosamente de acordo: jamais Agreste merecera tanto destaque na imprensa. Não menos vaidoso sentia-se o Magnífico Doutor. Ângelo Bardi telefonara de São Paulo para cumprimentá-lo.
Dependurado em lugar de honra, na entrada de Prefeitura o vistoso desenho de Rufo, “a deslumbrante visão do futuro”, atai curiosos. Balançam a cabeça, unânimes na admiração às qualidades artísticas do decorador, divergentes quanto ao conteúdo. Formidável, apoiam alguns, com entusiasmo: Ascânio é um porreta, vai reerguer Agreste, transformar a região. Outros, mais prudentes, repetem argumentos do Comandante e de dona Carmosina: fosse essa indústria assim tão benéfica, por que se haveria de instalar em área pobre e distante desprovida de recursos? Dizem que apodrece a água, envenena o ar. Está nos jornais. Não a querem em lugar nenhum do mundo. Proibiram-na em São Paulo e no Rio. Tentaram situá-la entre Ilhéus e Itabuna, o povo se levantou. Ascânio ou está sendo enrolado ou…
Ou o quê? Ascânio é homem íntegro, sua vida um livro aberto, cidadão acima de qualquer suspeita, de qualquer insinuação…
Ninguém está insinuando nada, mas é do domínio público que ele está de olho na paulista rica, herdeira do Comendador, enteada de dona Antonieta. Postulante pobre, no caso paupérrimo, à mão de milionária, perde a cabeça com facilidade e nessas grandes empresas corre dinheiro a rodo. Para Ascânio, a instalação da fábrica no município vem a calhar, quem pode negar a evidência?
Azedam-se as discussões. Cresce o número de leitores dos jornais da capital, antes reduzido aos privilegiados assinantes de A Tarde. Por encomenda de Chalita, sempre disposto a aumentar as suas fontes de receita, chegam pela marinete de Jairo exemplares dos diversos quotidianos de Salvador. Se o dono do cinema tem juízo formado sobre o problema da indústria de titânio, não o alardeia, expõe à venda o pró e o contra, recolhe os níqueis do lucro escasso. A polémica em torno da Brastânio se alimenta de notícias e boatos, de maledicências, prossegue rua afora.
Leram e comentaram a entrevista de Ascânio, grandiloquente: “a Brastânio significa a redenção de Agreste, riqueza e progresso para o litoral norte do Estado. As moças admiraram-lhe o retrato em duas colunas, o dedo em riste, jovem líder político de grande futuro, candidato do povo à Prefeitura, no dizer do repórter. Causou igualmente sensação o ríspido suelto, com que, na sessão editorial, A Tarde comentou tais declarações. Sob o título de Candidato do povo ou da Brastânio? Classificava Ascânio de playboy matuto, hóspede da Brastânio em hotel de luxo. Quanto à riqueza e ao progresso anunciados pelo “leviano e faceto personagem” não passavam de poluição e miséria na opinião responsável de intelectuais sergipanos que assinaram memorial de apoio ao telegrama do prefeito de Estância, figuras de proa: pintor Jenner Augusto, escritor Mário Cabral, professor José Calasans, jornalista Junot Silveira.
Espanto e incredulidade causaram as confusas notícias de ameaças à vida dos componentes de uma equipe de técnicos da Brastânio, impedidos de desembarcar em Mangue Seco pela população indignada, unida em defesa do meio ambiente – aplaudia Giovanni Guimarães. Por agentes internacionais da subversão ao serviço do comunismo ateu, comandados por uma russa que outra não era senão a bolchevique Alexandra Kolontai, cuja presença no Brasil os serviços competentes haviam assinalado – denunciava a mesma gazeta onde saíra a entrevista de Ascânio.
Por fim, culminando o farto noticiário, o povo tomou conhecimento da data marcada para as eleições. Por que tão próximas? – perguntava o articulista de A Tarde. Porque a Brastânio tem pressa – respondia ele próprio.
Em que pese as divergências, resguardada a opinião de cada um sobre o problema da indústria de titânio, havia um ponto em torno do qual todos se punham vaidosamente de acordo: jamais Agreste merecera tanto destaque na imprensa. Não menos vaidoso sentia-se o Magnífico Doutor. Ângelo Bardi telefonara de São Paulo para cumprimentá-lo.
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