TIETA DO
AGRESTE
EPISÓDIO Nº 274
- Pouco falta – constata o Comandante.
- Falta pouco ou falta muito, tudo depende.
- Depende de quê? Você duvida, por acaso que ele seja eleito?
A voz do comandante Dário reflecte desânimo e impotência, dona Carmosina ouve em silêncio.
- Posso vir a duvidar, por que não? Dependendo das circunstâncias, posso até apostar que ele não será eleito.
- Como não há-de ser eleito? Candidato único, candidato do coronel Artur…
- Basta que ele não seja candidato do Coronel ou, em último caso, não seja candidato único…
- Você está querendo dizer… - interrompe, interessada, dona Carmosina.
Que basta surgir outro candidato, capaz de derrotar Ascânio, seja na preferência do Coronel, seja nas urnas…
- Estava me dando conta de onde você ia chegar. Mas não vejo jeito. O Coronel é padrinho de Ascânio, confia nele, no dia do enterro de Enoch disse que o novo prefeito iria ser Ascânio e todo o mundo ficou de acordo. Não vejo por que há-de mudar.
- Sei lá… O velho anda biruta, ainda ninguém procurou saber o que o cacique pensa sobre a instalação da fábrica, se é a favor ou contra. Não custa conversar, tentar convencê-lo. Mas se ele mantiver Ascânio, então nós iremos para as urnas.
- Nas urnas, Ascânio é imbatível.
- Imbatível? Talvez tenha sido, Carmô, não é mais. Antes todos viam nele um rapaz trabalhador e honesto, não havia duas opiniões sobre Ascânio e todos o queriam para prefeito. Hoje, justa ou injustamente, para muitos ele se transformou num homem a soldo da Brastânio, de olho no dinheiro de Leonora. Aqui para nós, a meu ver, Ascânio não passa de um bobo alegre. Mas por aí, o menos que dizem dele é que está de cabeça virada. Você não se deu conta Carmô, que a unanimidade acabou? Começando por nós, que estamos aqui. Antes éramos todos eleitores de Ascânio, eleitores de cabresto. Hoje, meu voto ele não tem.
- Nem o meu, concorda o Comandante.
- Ainda assim não vejo quem possa competir com ele.
- Ficou cega de todo, prima.
- Quem, me diga!
O cidadão eminente, preclaro filho de Agreste, oficial da nossa gloriosa Armada, Comandante Dário de Queluz!
- Eu? Você está maluco? Não sou político nem pretendo ser.
- Exactamente. Os políticos andam muito por baixo, quem manda actualmente no país são os militares, não é? Comandante, assuma seu posto!
- Eu, jamais!
Aminthas não lhe dá atenção:
- Vai ser dureza mas eu considero que poderemos ganhar se…
- Se?
- Se a gente contar com o apoio de dona Antonieta. Tendo Santa Tieta do Agreste do nosso lado, pedindo votos para o Comandante, é barbada.
- Não aceitarei de maneira nenhuma… - recomeça o Comandante, erguendo-se para sublinhar a sua decisão.
Dona Carmosina volta-se para ele, novamente esfogueada, em pé de guerra:
- Como, não aceita? Patriotismo se prova é nestas horas, Comandante. Dona Milú traz cálices, serve licor de violetas. A ocasião impõe um brinde.
A velha senhora, em priscas eras, foi eficiente cabo eleitoral:
- Saúde, Comandante! Vou começar a propaganda hoje mesmo. Já tenho um mote para a campanha: abaixo a podridão – Dona Milú saboreia o licor, estala os lábios
- Pouco falta – constata o Comandante.
- Falta pouco ou falta muito, tudo depende.
- Depende de quê? Você duvida, por acaso que ele seja eleito?
A voz do comandante Dário reflecte desânimo e impotência, dona Carmosina ouve em silêncio.
- Posso vir a duvidar, por que não? Dependendo das circunstâncias, posso até apostar que ele não será eleito.
- Como não há-de ser eleito? Candidato único, candidato do coronel Artur…
- Basta que ele não seja candidato do Coronel ou, em último caso, não seja candidato único…
- Você está querendo dizer… - interrompe, interessada, dona Carmosina.
Que basta surgir outro candidato, capaz de derrotar Ascânio, seja na preferência do Coronel, seja nas urnas…
- Estava me dando conta de onde você ia chegar. Mas não vejo jeito. O Coronel é padrinho de Ascânio, confia nele, no dia do enterro de Enoch disse que o novo prefeito iria ser Ascânio e todo o mundo ficou de acordo. Não vejo por que há-de mudar.
- Sei lá… O velho anda biruta, ainda ninguém procurou saber o que o cacique pensa sobre a instalação da fábrica, se é a favor ou contra. Não custa conversar, tentar convencê-lo. Mas se ele mantiver Ascânio, então nós iremos para as urnas.
- Nas urnas, Ascânio é imbatível.
- Imbatível? Talvez tenha sido, Carmô, não é mais. Antes todos viam nele um rapaz trabalhador e honesto, não havia duas opiniões sobre Ascânio e todos o queriam para prefeito. Hoje, justa ou injustamente, para muitos ele se transformou num homem a soldo da Brastânio, de olho no dinheiro de Leonora. Aqui para nós, a meu ver, Ascânio não passa de um bobo alegre. Mas por aí, o menos que dizem dele é que está de cabeça virada. Você não se deu conta Carmô, que a unanimidade acabou? Começando por nós, que estamos aqui. Antes éramos todos eleitores de Ascânio, eleitores de cabresto. Hoje, meu voto ele não tem.
- Nem o meu, concorda o Comandante.
- Ainda assim não vejo quem possa competir com ele.
- Ficou cega de todo, prima.
- Quem, me diga!
O cidadão eminente, preclaro filho de Agreste, oficial da nossa gloriosa Armada, Comandante Dário de Queluz!
- Eu? Você está maluco? Não sou político nem pretendo ser.
- Exactamente. Os políticos andam muito por baixo, quem manda actualmente no país são os militares, não é? Comandante, assuma seu posto!
- Eu, jamais!
Aminthas não lhe dá atenção:
- Vai ser dureza mas eu considero que poderemos ganhar se…
- Se?
- Se a gente contar com o apoio de dona Antonieta. Tendo Santa Tieta do Agreste do nosso lado, pedindo votos para o Comandante, é barbada.
- Não aceitarei de maneira nenhuma… - recomeça o Comandante, erguendo-se para sublinhar a sua decisão.
Dona Carmosina volta-se para ele, novamente esfogueada, em pé de guerra:
- Como, não aceita? Patriotismo se prova é nestas horas, Comandante. Dona Milú traz cálices, serve licor de violetas. A ocasião impõe um brinde.
A velha senhora, em priscas eras, foi eficiente cabo eleitoral:
- Saúde, Comandante! Vou começar a propaganda hoje mesmo. Já tenho um mote para a campanha: abaixo a podridão – Dona Milú saboreia o licor, estala os lábios
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