TIETA DO
AGRESTE
EPISÓDIO Nº 309
DA POLUÍDA VIA SACRA NA LONGA NOITE DE AGRESTE – SEXTA ESTAÇÃO: O JEJUM E A ALELUIA
- Estão dizendo que o negócio dela é pensão de rapariga – Astério chega do lar, fora de horas, desarvorado.
Elisa se alça no leito, os seios saltando da camisola curta e transparente, herdada de Tieta, meia bunda à vista. Astério desvia os olhos. Noite de novidades medonhas, própria para aflição e opróbio, nela não cabem os honestos deveres matrimoniais, muito menos depravados pensamentos.
- Mentira! Pensão de rapariga?
- Isso mesmo: castelo, randevu.
- O que é mais que soube?
- Elas estão em casa de Carmosina. Vão embora amanhã para São Paulo.
Salta do leito, enfia um penhoar também herdado, calça as sandálias, dirige-se resoluta para a porta. Astério primeiro se perturba, depois se comove: Elisa quer despedir-se da irmã, passando por cima de tudo; muito lhe devem, os linguarudos que se danem. Também ele deseja dizer adeus a Tieta. Nem por ser o que é deixa de ser boa irmã, generosa parenta.
- Tu vai ver ela? Também vou.
Elisa volta-se da porta:
- Eu vou é embora com ela.
- Embora com ela? Para São Paulo? – não compreende.
Elisa nem responde, desaparece, a casa de dona Milú fica próxima. Quando percebe Astério a segui-la, apura os passos, acelera a marcha. Corre, ao avistar Tieta chegando da rua, grita:
- Tieta! Mana!
Tieta aguarda na porta, imóvel, o rosto carrancudo, o olhar frio, hierática.
Elisa estende os braços, suplica:
- Me leve com você, mana, não me abandone aqui…
- Já lhe disse…
- Eu quero ser puta em São Paulo. Não me importo.
Astério escuta, perplexo, uma pontada no estômago, a dor aguda. Tieta desvia os olhos da irmã para o cunhado, simpatiza com ele, o bobalhão:
- Cuida da tua mulher, Astério, bota ela na linha, ensina a te respeitar. Uma vez, já lhe disse o que tinha que fazer. Por que não fez?
- Mana, por amor de Deus, não me deixe aqui – Eliza se ajoelha no chão, diante de Tieta.
- Leve ela embora e faça como eu lhe disse, Astério. É agora ou nunca – Por um momento pousa os olhos na irmã e sente pena – A casa fica com vocês. Se precisarem de alguma coisa é só dizer.
Eliza perde por completo o pundonor e a contenção:
- Me leve, Mãezinha, me bote em sua casa de raparigas.
Tieta olha para o cunhado: e então? Astério liberta-se da perplexidade, da dor de estômago, do preconceito, arranca a venda dos olhos, puxa a esposa pelo braço:
- Levanta! Vamos!
- Me solta!
- Levanta! Não ouviu?
Vibra-lhe a mão na cara. Tieta aprova com a cabeça.
- Obrigado, cunhada, por tudo. Até mais ver.
Empurra Elisa, siderada, em direcção à casa, uma das melhores residenciais da cidade, adquirida por Tieta para nela um dia vir esperar a morte, devagar, agora posta à disposição da irmã e do cunhado, em usufruto.
De empurrão em empurrão, chegam ao quarto de dormir. Elisa tenta escapar:
- Não toque em mim.
O bofetão derruba-a na cama. A camisola enrola-se no pescoço, crescem os quadris na vista turva de Astério.
- Quer ser puta, não é? Pois vai ser agora mesmo – estende a mão, arranca-lhe o trapo de nailon, a bunda inteira exposta, tanto tempo de jejum.
- Para começar, vou-te comer o rabo!
Um estremeção percorre o corpo de Elisa. Arregala os olhos. Repulsa, medo, espanto, curiosidade, expectativa? Heroína de novela de rádio, agitada por emoções contraditórias.
Ai, por amor de Deus! Esposa submissa, sobe de costas o abrupto passo, dobra os ombros sob o peso do lenho – entranhas de fogo e mel, vergalho desabrochando em flor, Elisa rompe a aleluia na noite de Agreste. Ai, o Taco de Ouro!
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