TIETA DO
AGRESTE
EPISÓDIO Nº 310
DA POLUÍDA VIA SACRA NA LONGA NOITE DE AGRESTE – SÉTIMA ESTAÇÂO: O CIRENEU BARBOZINHA SE OFERECE EM HOLOCAUSTO
Acaba Tieta de deitar-se quando, espavorido, o vate Barbozinha bate na porta da casa de dona Milú e anuncia:
- É de paz.
De paz e de amizade. Tieta vem do quarto de hóspedes onde Leonora adormecera à força de calmantes. Barbozinha prende-lhe a mão e a leva aos lábios. Está patético. A voz marcada pela embolia, mais engrolada que nunca:
- Soube que você pensa ir embora. É verdade?
- Amanhã para São Paulo.
- Por causa do que estão falando por aí? Vai, se quiser. Se quiser ficar e me dar a honra…
- Que honra, Barbozinha?
- De ser a Sr.ª Gregório Melchíades de Matos Barbosa…
- Está me oferecendo casamento? Para me tirar da lama?
- Sei que não sou mais o rapaz daquele tempo, a carcaça anda meio arruinada, mas tenho um nome honrado…
- …e ainda dança um tango como ninguém…
Tieta ri, um riso bom, alegre, de puro contentamento, um riso que lhe enche os olhos de água.
- Agora não dá, meu poeta. Eu te prezo muito e não quero te ver de chifrudo, não ias gostar. Quando eu estiver velhota, volto de vez e a gente casa. Até lá cuide da carcaça e escreva mais versos para mim.
Beija-o nas faces e deixa que as lágrimas finalmente corram.
DA NOTÍCIA E DA RESPIRAÇÃO
- Aparelho porreta! – gaba o árabe Chalita – Os anos passam e ele não nega fogo.
Refere-se ao rádio russo na manhã apenas despertada. Em frente ao cinema, com o auxílio de Sabino, Jairo ajusta o motor da marinete, enquanto aguarda os passageiros: o horário de saída é estrito. Ufano com os elogios, bota banca.:
Já me ofereceram troca por um novo, japonês. Recusei.
O locutor do Grande Jornal da Manhã de popular emissora da capital, pede atenção aos ouvintes para importante notícia que será divulgada após os comerciais. Transmissão límpida, sem estática, ratificando as alambanças de Chalita. Toalha ao ombro, doutor Franklin Lins junta-se ao grupo. Diariamente àquela hora, antes da partida da marinete, o tabelião vai ao banho ao rio.
A voz empostada do radialista reafirma o suspense: “Atenção para esta notícia! Na tarde de ontem foi oficialmente concedida autorização governamental à Companhia Brasileira de Titânio S.A. para estabelecer em Arembepe duas fábricas interligadas que produzirão dióxido de titânio. Objectivando o financiamento dentro do prazo mais breve possível do grande e discutido projecto industrial, as obras para a sua concretização serão iniciadas imediatamente, em vasta área adquirida com anterioridade pela companhia.”
Uma série de violentas descargas saúda a notícia. Levando em conta as origens do venerando aparelho, dir-se-ia tratar de um protesto.
- Vocês ouviram o que eu ouvi? – perguntou o doutor Franklin.
- É a tal fábrica que Ascânio queria trazer para Mangue Seco, não é? – acende-se o olho do árabe. Como se não bastassem os acontecidos na véspera, ainda por cima esta novidade. O dia pronuncia-se exaltante.
- Quer dizer que a tal fábrica não vai ser mais aqui? – Jairo suspende o exame do motor da marinete.
- Vai ser em Arembepe, juntinho da capital, não escutou? Era um dos lugares falados – explica o tabelião.
- Porra!
Doutor Franklin Lins toma fôlego, ajeita a toalha ao ombro:
- Agora podemos respirar de novo… - acende o cigarro de palha, encaminha-se para o rio, um ar de beatude.
DA POLUÍDA VIA SACRA NA LONGA NOITE DE AGRESTE – SÉTIMA ESTAÇÂO: O CIRENEU BARBOZINHA SE OFERECE EM HOLOCAUSTO
Acaba Tieta de deitar-se quando, espavorido, o vate Barbozinha bate na porta da casa de dona Milú e anuncia:
- É de paz.
De paz e de amizade. Tieta vem do quarto de hóspedes onde Leonora adormecera à força de calmantes. Barbozinha prende-lhe a mão e a leva aos lábios. Está patético. A voz marcada pela embolia, mais engrolada que nunca:
- Soube que você pensa ir embora. É verdade?
- Amanhã para São Paulo.
- Por causa do que estão falando por aí? Vai, se quiser. Se quiser ficar e me dar a honra…
- Que honra, Barbozinha?
- De ser a Sr.ª Gregório Melchíades de Matos Barbosa…
- Está me oferecendo casamento? Para me tirar da lama?
- Sei que não sou mais o rapaz daquele tempo, a carcaça anda meio arruinada, mas tenho um nome honrado…
- …e ainda dança um tango como ninguém…
Tieta ri, um riso bom, alegre, de puro contentamento, um riso que lhe enche os olhos de água.
- Agora não dá, meu poeta. Eu te prezo muito e não quero te ver de chifrudo, não ias gostar. Quando eu estiver velhota, volto de vez e a gente casa. Até lá cuide da carcaça e escreva mais versos para mim.
Beija-o nas faces e deixa que as lágrimas finalmente corram.
DA NOTÍCIA E DA RESPIRAÇÃO
- Aparelho porreta! – gaba o árabe Chalita – Os anos passam e ele não nega fogo.
Refere-se ao rádio russo na manhã apenas despertada. Em frente ao cinema, com o auxílio de Sabino, Jairo ajusta o motor da marinete, enquanto aguarda os passageiros: o horário de saída é estrito. Ufano com os elogios, bota banca.:
Já me ofereceram troca por um novo, japonês. Recusei.
O locutor do Grande Jornal da Manhã de popular emissora da capital, pede atenção aos ouvintes para importante notícia que será divulgada após os comerciais. Transmissão límpida, sem estática, ratificando as alambanças de Chalita. Toalha ao ombro, doutor Franklin Lins junta-se ao grupo. Diariamente àquela hora, antes da partida da marinete, o tabelião vai ao banho ao rio.
A voz empostada do radialista reafirma o suspense: “Atenção para esta notícia! Na tarde de ontem foi oficialmente concedida autorização governamental à Companhia Brasileira de Titânio S.A. para estabelecer em Arembepe duas fábricas interligadas que produzirão dióxido de titânio. Objectivando o financiamento dentro do prazo mais breve possível do grande e discutido projecto industrial, as obras para a sua concretização serão iniciadas imediatamente, em vasta área adquirida com anterioridade pela companhia.”
Uma série de violentas descargas saúda a notícia. Levando em conta as origens do venerando aparelho, dir-se-ia tratar de um protesto.
- Vocês ouviram o que eu ouvi? – perguntou o doutor Franklin.
- É a tal fábrica que Ascânio queria trazer para Mangue Seco, não é? – acende-se o olho do árabe. Como se não bastassem os acontecidos na véspera, ainda por cima esta novidade. O dia pronuncia-se exaltante.
- Quer dizer que a tal fábrica não vai ser mais aqui? – Jairo suspende o exame do motor da marinete.
- Vai ser em Arembepe, juntinho da capital, não escutou? Era um dos lugares falados – explica o tabelião.
- Porra!
Doutor Franklin Lins toma fôlego, ajeita a toalha ao ombro:
- Agora podemos respirar de novo… - acende o cigarro de palha, encaminha-se para o rio, um ar de beatude.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home