TIETA DO
AGRESTE
EPISÓDIO Nº 311
ONDE TIETA ACENA UM ADEUS
Dia fraco, poucos passageiros. Tieta despede-se de dona Carmosina:
- Desculpe o mau jeito, Carmô.
A cabeça baixa, lenço na mão, molhado de lágrimas, Leonora se esconde no interior da marinete, arriada num banco. Vindo da Praça da Matriz, em correria, aparece Peto, traz o bordão do velho Zé Esteves, herança de Tieta:
- Esqueceu o cajado, tia – Baixa a voz, acrescenta: - Vou sentir saudades.
Vai perder a grata visão de seios e coxas. Sobe para falar com Leonora, provoca abafados soluços, Adeus prima.
Peto sai em disparada para casa, deixando a inesquecível lembrança da singela gentileza e o cheiro marcante da brilhantina de lata.
Empunhando o bordão, pastora de cabras, Titã senta-se ao lado de Leonora. Deixa-a chorar, ainda é cedo para puxar conversa. Jairo cobra o preço dos bilhetes, de passageiro em passageiro. Tieta paga três:
- Nós duas e aquela cabrita lá atrás.
Aponta Maria Imaculada, num banco dos fundos, segurando baú de flandres. Jairo toma assento ao volante, coloca a chave no motor, ainda faltam quatro minutos para o horário exacto. Tieta dá-lhe pressa:
- Mete o pé na tábua, Jairo, vamos ver se esta jeringonça é capaz de levar a gente até Esplanada.
Jairo consulta o relógio:
- Se quiser, podemos ir direito a São Paulo, para a Imperatriz dos Caminhos não existem distâncias. E ainda por cima ouvindo música…
Sintoniza o rádio russo. Tieta acena um adeus para dona Carmosina de pé na calçada. A marinete avança tão na maciota que mais parece uma aeronave. Liberta de pedras, tocos e buracos, eleva-se sobre o caminho de mulas, cruza o céu de Agreste.
E aqui termina a história da volta da filha pródiga à terra onde nasceu e dos sucessos ali ocorridos durante a sua curta estada.
DAS PLACAS, LEMBRETE DO AUTOR
Aí está. Mal ou bem cheguei ao término, escrevo a palavra fim. Nos folhetins de sucesso, cobra-me Fúlvio D’Alembert, o autor costuma fornecer notícia dos diversos personagens, do que lhes sucedeu depois. Não penso fazê-lo. Deixo à imaginação e consciência dos leitores o destino posterior dos personagens e a moral da história.
Em todo o caso, para atender à crítica e na esperança de conquistar-lhes a boa vontade, acrescentarei que Agreste convalesce lentamente. Tendo despido a farda de candidato, o comandante Dário de Queluz aproveita cada minuto do verão em Mangue Seco para compensar os dias perdidos na poluição da política. Quanto a Ascânio Trindade, viram-no chorando no ombro de doa Carmosina.
A inauguração da luz proveniente da Usina de Paulo Afonso foi uma festança. Deram ao antigo Caminho da Lama, na entrada da cidade, o nome do então director-presidente da Hidrelétrica de São Francisco. As autoridades presentes descerraram esmaltada placa azul, feita a capricho apesar da pressa, em oficina da capital: RUA DEPUTADO… Como era mesmo o nome?
Durou pouco a placa azul, sumiu durante a noite. Em lugar dela pregaram uma de madeira, confeccionada por mão artesanal e anónima:
- RUA DA LUZ DE TIETA.
Mão artesanal e anónima. Mão do povo.
FIM
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home