segunda-feira, dezembro 21, 2009


TIETA DO


AGRESTE


EPISÓDIO Nº 311



ONDE TIETA ACENA UM ADEUS


Dia fraco, poucos passageiros. Tieta despede-se de dona Carmosina:

- Desculpe o mau jeito, Carmô.

A cabeça baixa, lenço na mão, molhado de lágrimas, Leonora se esconde no interior da marinete, arriada num banco. Vindo da Praça da Matriz, em correria, aparece Peto, traz o bordão do velho Zé Esteves, herança de Tieta:

- Esqueceu o cajado, tia – Baixa a voz, acrescenta: - Vou sentir saudades.

Vai perder a grata visão de seios e coxas. Sobe para falar com Leonora, provoca abafados soluços, Adeus prima.

Peto sai em disparada para casa, deixando a inesquecível lembrança da singela gentileza e o cheiro marcante da brilhantina de lata.

Empunhando o bordão, pastora de cabras, Titã senta-se ao lado de Leonora. Deixa-a chorar, ainda é cedo para puxar conversa. Jairo cobra o preço dos bilhetes, de passageiro em passageiro. Tieta paga três:

- Nós duas e aquela cabrita lá atrás.

Aponta Maria Imaculada, num banco dos fundos, segurando baú de flandres. Jairo toma assento ao volante, coloca a chave no motor, ainda faltam quatro minutos para o horário exacto. Tieta dá-lhe pressa:

- Mete o pé na tábua, Jairo, vamos ver se esta jeringonça é capaz de levar a gente até Esplanada.

Jairo consulta o relógio:

- Se quiser, podemos ir direito a São Paulo, para a Imperatriz dos Caminhos não existem distâncias. E ainda por cima ouvindo música…

Sintoniza o rádio russo. Tieta acena um adeus para dona Carmosina de pé na calçada. A marinete avança tão na maciota que mais parece uma aeronave. Liberta de pedras, tocos e buracos, eleva-se sobre o caminho de mulas, cruza o céu de Agreste.

E aqui termina a história da volta da filha pródiga à terra onde nasceu e dos sucessos ali ocorridos durante a sua curta estada.





DAS PLACAS, LEMBRETE DO AUTOR



Aí está. Mal ou bem cheguei ao término, escrevo a palavra fim. Nos folhetins de sucesso, cobra-me Fúlvio D’Alembert, o autor costuma fornecer notícia dos diversos personagens, do que lhes sucedeu depois. Não penso fazê-lo. Deixo à imaginação e consciência dos leitores o destino posterior dos personagens e a moral da história.

Em todo o caso, para atender à crítica e na esperança de conquistar-lhes a boa vontade, acrescentarei que Agreste convalesce lentamente. Tendo despido a farda de candidato, o comandante Dário de Queluz aproveita cada minuto do verão em Mangue Seco para compensar os dias perdidos na poluição da política. Quanto a Ascânio Trindade, viram-no chorando no ombro de doa Carmosina.

A inauguração da luz proveniente da Usina de Paulo Afonso foi uma festança. Deram ao antigo Caminho da Lama, na entrada da cidade, o nome do então director-presidente da Hidrelétrica de São Francisco. As autoridades presentes descerraram esmaltada placa azul, feita a capricho apesar da pressa, em oficina da capital: RUA DEPUTADO… Como era mesmo o nome?

Durou pouco a placa azul, sumiu durante a noite. Em lugar dela pregaram uma de madeira, confeccionada por mão artesanal e anónima:


- RUA DA LUZ DE TIETA.

Mão artesanal e anónima. Mão do povo.



FIM




Site Meter