terça-feira, fevereiro 02, 2010


UM PAÍS
EM
SITUAÇÃO
DE
PRÉ-
FALÊNCIA


Qualquer cidadão português que tenha seguido com atenção o último programa dos Prós e Contras sobre a situação económica/financeira do país não pode ter deixado de sentir-se apreensivo e receoso sobre o nosso próximo futuro colectivo.

Não eram quaisquer pessoas que opinaram sobre a situação: no primeiro painel estavam três ex-ministros das Finanças e um Prof. de Economia da Faculdade e se estas pessoas não nos merecem crédito então, pergunto eu, quem o merece?

E o mais grave é que elas em tom ou palavras um pouco diferentes estavam todas de acordo no essencial:

- Estamos num autêntico “buraco” sem se vislumbrar como vamos sair dele ou melhor, sem sabermos a que preço isso vai acontecer.

De há duas ou três décadas a esta parte, depois de crescimentos económicos de fazer inveja nos primeiros anos após o 25 de Abril, o que não foi muito difícil tal era a situação de atraso que trazíamos dos 40 anos da ditadura, a situação das nossas contas têm vindo progressivamente a agravar-se e ameaçam agora conduzir-nos a uma situação de falência, segundo nos foi dito pelo exuberante Medina Carreira e não contrariado por nenhum dos outros convidados.

- E o que é isso de falência de um país?

Se for uma empresa, todos sabemos: fecha as portas, os trabalhadores vão para a rua e o empresário pode ter destinos diferentes conforme a natureza das falências…

Mas um país não pode fechar as portas e mandar para a rua os seus cidadãos e os governantes responsáveis pela falência não mudam de ramo ou vão governar outros países…

O que acontece é que a falência de um país tem como consequência a perda da sua independência. É como numa guerra que perdemos, ficamos à mercê do exército vitorioso e são responsáveis políticos das tropas vitoriosas que vão passar a mandar em nós. Sabemos isso da história…

Esta situação de pré-falência em que parece encontrarmo-nos equivale também a uma guerra que perdemos ou estamos em vias de perder, sendo que o “exército vitorioso” serão os nossos credores ou as entidades que eles nomearem para discutirem connosco os termos da derrota.

Mas o que é que aconteceu de tão grave que nos conduziu a esta situação?

A minha avó responderia muito simplesmente: “mau governo” ou como se dizia então: “desgoverno”.

Durante muitos anos fomos um país de pessoas muito pobres, assumidamente pobres, quando a pobreza não era vergonha mas até uma maneira de ganhar o céu…

Depois, de uma geração para a outra, quisemos ser todos ricos, doutores e engenheiros, aspirações legítimas mas não fundamentadas numa base sustentada de trabalho sério, rigoroso, disciplinado, estruturado. Em vez disso, negócios e falcatruas e obras, muitas obras, com os dinheiros dos Apoios Comunitários Europeus.

Mas, porque é que os governos não conseguem inverter esta situação?

- Não podem, não têm condições para isso, diz Medina Carreira. Estão de tal forma comprometidos com esta situação que envolve votos dos eleitores, interesses de grandes empresas, elites partidárias e teias de cumplicidade, que a única coisa a fazer é retocar e arrastar a situação até ao momento do colapso final.

Mas, como é que vivemos a nossa democracia para ela produzir estes resultados?

Já uma vez aqui neste blog me referi à “partidocracite” como o maior vírus da nossa democracia. Os nossos partidos confundiram os seus interesses com os interesses do país numa lógica errada de que o que é bom para o partido é bom para o país.

Esta lógica tem sido aquela que mais resultados tem produzido na conquista e manutenção do poder e a arte de governar tem sido, no nosso país, a arte de agradar aos eleitores para conquistar os votos que conduzem ao poder.

Depois daquele governo “esquisito” de Santana Lopes com as consequências que todos sabemos, fui assistir, aqui em Santarém, ao comício da campanha de José Sócrates rumo à maioria absoluta que o esperava e na qual tantas pessoas depositavam esperanças.

Ouvi o discurso do líder com atenção do princípio ao fim, da primeira à última palavra e nem uma sobre trabalho, rigor, disciplina, sacrifício, seriedade. José Sócrates não apelou a nenhum destes valores, não porque desconhecesse o seu valor e importância mas pela simples razão de que podiam desagradar a uma população de votantes acomodada às facilidades e às dádivas do Estado.

Será que podemos concluir que temos vindo a ser governadas pelas pessoas erradas?

Mas se são elas que se apresentam a votos que podem fazer os eleitores?

Desde 1968 trabalhei na Função Pública e foi possível observar como as clientelas políticas se foram, paulatina e progressivamente, apoderando da máquina do Estado aos níveis da Administração Pública, Autárquica e das Empresas Públicas e aí criaram para eles, umas vezes uns outras vezes outros, nichos de excelência em termos salariais, prémios, mordomias e vantagens de toda a espécie.

Desfazer este imbróglio num país que não consegue produzir riqueza para suportar tão “maus costumes” é o grande problema a que estamos remetidos.

Daí, Medina Carreira, dizer que quanto mais depressa desembarcarem no aeroporto os representantes dos nossos credores para imporem aos nossos homens de Estado a redistribuição dos sacrifícios que vamos ter que fazer, melhor para o futuro do país. A actual classe de políticos que nos têm vindo a governar nos últimos tempos, demasiado comprometida, não tem possibilidade de o fazer só por si. Esta a opinião contundente de Medina Carreira que não mereceu o desacordo dos colegas de painel.

Os próximos anos vão ser decisivos. Aos pobres deste país, que são muitos, não se lhes pode tirar muito mais embora seja possível retirar-lhes ainda alguns benefícios que os separam do limiar da fome, o que será um péssimo caminho mas…pensões de 10.000 euros,(?) reformas milionárias por meia dúzia de anos de trabalho (?) … “valha-nos Deus!” como dizia a minha avó alentejana quando se escandalizava com qualquer coisa.

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