DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÒDIO Nº 110
Beijava em seguida a mão de dona Gisa e, como a orquestra iniciasse um samba de sucesso, lhe perguntou:
- Dança o samba? Ou, sendo americana, prefere esperar um blue…?
Vadinho punha a perder toda a finura do paulista:
- Qual quê?... Essa gringa rebola que é uma beleza…
- Vadinho, que é isso se assunte… - dona Flor ralhando a sorrir.
Dona Gisa nem ligava; em vez de ficar escabriada saía pelo braço do industrial, requebrando a bunda magra, a confirmar as palavras do abusado. Nisso, a face de Vadinho se ensombreceu, dona Flor logo descobriu a causa: uma das três mulatas da mesa de Zéquito Mirabeau, bonitinha de fazer gosto, também se aproximara, rondando ali perto. Media dona Flor de alto a baixo como em desafio, enquanto interpelava Mirabeau, muito melosa e oferecida:
- Como é querido, e nosso samba? Estou esperando, venha logo…
Mirada de desdém a dona Flor, uma fúria para o lado de Vadinho, o sorriso mais angelical e tentador para Zequito:
- Vamos, negrinho…
Dona Flor evitou olhar para Vadinho. Silêncio incómodo a separá-los, ela voltada para a pista de dança, os olhos apertados, ele fitando a sala de jogo. Por que ela quisera vir? – perguntava-se Vadinho. Por essas e outras, ele sempre se opusera. E agora, logo em festa de aniversário, em vez de estar alegre, a pobre mordia os lábios para não chorar. A burra da Zilda lhe pagaria caro. Vadinho aproximou a cadeira, tomando a mão de dona Flor, e lhe disse ao ouvido, numa ternura que ela sentiu verdadeira:
- Meu bem, não fique assim. Você quis vir, aqui não é lugar para você, meu bicho tolo. Será que agora tu vai ligar para essas vagabundas daqui, vai se importar com elas? Tu veio para ficar alegre comigo, faz de conta que aqui só tem nós dois e mais ninguém… Larga para lá essa pinóia, não tenho nada a ver com ela…
Dona Flor deixava-se enganar fácil, queria ser convencida, as lágrimas rebentando, a voz lamurienta:
- É mesmo que tu não tem nada a ver com ela?
- É ela que anda atrás de mim, você não vê? Deixa isso para lá, meu bem, essa noite é de nós dois, tu vai ver quando a gente chegar a casa… não vou nem jogar hoje, só para ficar junto de você…
A mulatinha passava a rebolar-se, agarrada ao belo Mirabeau, e ele quase em transe, mordendo o lábio, olhos no teto. Dona Flor pediu:
- Vamos dançar também?
Dançaram o samba, depois um passe-doble. Ela quis então conhecer a sal de jogo. Vadinho a conduziu, disposto a lhe satisfazer todos os caprichos.
Dona Gisa foi junto, saltitante, a querer saber de um tudo, um inferno! Nem o valor das cartas ela conhecia e nunca vira um dado em sua vida.
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