DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 133
Dona Gisa embarcou encantada no conto do vigário. O Príncipe era maneiroso, cheio de tretas: ia provocando, dona Gisa se abriu em informações. Pobre, em termos, dona Flores: não era nenhuma milionária, mas tampouco mísera e mendiga. Com a escola e sem o marido para lhe afanar os gastos tinha seu pé-de-meia, algum dinheiro junto, que ela – como sucedia com tantos paroaras – preferia ter em casa em vez de empregar ou de por no banco a juros.
Gente de mentalidade atrasada, definiu dona Gisa, incapaz de esconder seu pensamento e de esconder sua crítica a erros e absurdos. “Um dia um ladrão tem notícia do dinheiro, vem e rouba e é bem feito”.
Só asqueroso canalha pensaria em roubar dona Flor, retrucou o Príncipe, considerando o moda de agir da viúva prova do seu bom carácter, de seu desinteresse pelos bens materiais, de sua desambição. Para esposa e companheira ele buscava exactamente mulher assim, direita e simples. Pouco a pouco, ao sabor da prosa, dona Gisa forneceu ao gatuno a ficha completa de dona Flor, as poucas jóias inclusivé; o colar de turquesas, europeu, os brincos de ouro com os brilhantes verdadeiros, peça antiga, único bem de tia Lita, além dos gatos, do jardim, das aguarelas do marido.
Como jamais os punha, e em herança à sobrinha os destinara, em suas mãos o depusera pedindo que os guardasse ela; assim dona Flor os podia usar quando lhe apetecesse. Não os ofertava de logo e de uma vez, por serem aqueles brincos a única garantia dos dois velhos num caso de necessidade: uma doença longa, com hospital e cirurgia, incêndio em casa, um desastre enfim, quem no mundo está livre de inesperada precisão?
Terminou dona Gisa de procuradora e advogada do farsante. Se empenharia junto a dona Flor para que ela recebesse e ouvisse o pseudo-itabunense, mesmo se o fizesse apenas para lhe opor rotunda negativa às propostas de noivado e matrimónio. O Príncipe não queria senão ser recebido: tinha total confiança em sua basófia, em sua experiência de lisonja, na alta categoria de sua lambança. Jamais falhara; se conseguia fazer-se ouvir, eram favas contadas o noivado, era seu o dinheiro da viúva, nenhuma capaz de resistir à sua eloquência.
Naquele começo de noite, após as aulas, Marilda acendeu a luz da sala de visitas em casa de dona Flor, ligando em seguida o rádio, abrindo a janela: não viu ao lado do poste o indefectível galã. Chamando a amiga, mostrou-lhe a paisagem vazia de pretendente.
Gente de mentalidade atrasada, definiu dona Gisa, incapaz de esconder seu pensamento e de esconder sua crítica a erros e absurdos. “Um dia um ladrão tem notícia do dinheiro, vem e rouba e é bem feito”.
Só asqueroso canalha pensaria em roubar dona Flor, retrucou o Príncipe, considerando o moda de agir da viúva prova do seu bom carácter, de seu desinteresse pelos bens materiais, de sua desambição. Para esposa e companheira ele buscava exactamente mulher assim, direita e simples. Pouco a pouco, ao sabor da prosa, dona Gisa forneceu ao gatuno a ficha completa de dona Flor, as poucas jóias inclusivé; o colar de turquesas, europeu, os brincos de ouro com os brilhantes verdadeiros, peça antiga, único bem de tia Lita, além dos gatos, do jardim, das aguarelas do marido.
Como jamais os punha, e em herança à sobrinha os destinara, em suas mãos o depusera pedindo que os guardasse ela; assim dona Flor os podia usar quando lhe apetecesse. Não os ofertava de logo e de uma vez, por serem aqueles brincos a única garantia dos dois velhos num caso de necessidade: uma doença longa, com hospital e cirurgia, incêndio em casa, um desastre enfim, quem no mundo está livre de inesperada precisão?
Terminou dona Gisa de procuradora e advogada do farsante. Se empenharia junto a dona Flor para que ela recebesse e ouvisse o pseudo-itabunense, mesmo se o fizesse apenas para lhe opor rotunda negativa às propostas de noivado e matrimónio. O Príncipe não queria senão ser recebido: tinha total confiança em sua basófia, em sua experiência de lisonja, na alta categoria de sua lambança. Jamais falhara; se conseguia fazer-se ouvir, eram favas contadas o noivado, era seu o dinheiro da viúva, nenhuma capaz de resistir à sua eloquência.
Naquele começo de noite, após as aulas, Marilda acendeu a luz da sala de visitas em casa de dona Flor, ligando em seguida o rádio, abrindo a janela: não viu ao lado do poste o indefectível galã. Chamando a amiga, mostrou-lhe a paisagem vazia de pretendente.
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