DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 134
Dona Flor descreveu-lhe os últimos sucessos: fora-se o tipo, expulso, levara com a janela nas ventas. Contando, dona Flor relanceava a vista pela rua. No fundo, um tanto desiludida: bem frágil o interesse do rapaz, rompendo-se ao primeiro empecilho. Coisas muito piores fizera dona Flor com Pedro Borges, em seus tempos de solteira. O paraense amargara em suas mãos, cartas devolvidas, presentes recusados, verdadeiros desaforos, e ele firme, de aliança em punho. Aquilo, sim, era paixão e verdadeira. Esse de agora ia-se ao simples bater de uma janela…
Como quem não quer nada, no correr das horas, três ou quatro vezes veio dona flor à janela, constatando o efeito positivo do seu gesto: o indivíduo sumira de vez.
Ao deitar, dona Flor suspendeu os ombros, num sinal de indiferença: antes assim. Se não desejava realmente novo casamento, por que então preocupar-se com a frágil persistência do coió, com a debilidade de seus sentimentos? Vaidade imprópria a seu estado de viúva.
Pela primeira vez, naqueles meses todos, não adormeceu de imediato num sono reparador. Ficou de olhos abertos, a pensar. Em verdade, seria tão forte como imaginara, essa sua decisão de não casar-se, de viver sua vida em sossego, sem sair para nova aventura matrimonial? Tinha decidido, e pronto: acabou-se. Não quis sequer prolongar aquela discussão consigo mesma, não tendo, aliás, dúvida ou divergência a esclarecer. Tão disposta a cumprir sua resolução a ponto de rir livremente com as amigas, de pilheriar com as comadres quando umas e outras lhe traziam candidatos ou quando dona Dinorá traçava o perfil do soberbo quarentão. Como então perder o sono devido à simples presença de um bocó de esquina?
No dia seguinte, bem cedo ainda, dona Gisa entrou-lhe casa dentro, repleta de novidades, relatando com detalhes e entusiasmo a conversa com o pseudo comerciante grapiúna. Impossível vir na véspera, como de seu desejo; mesmo à noite tinha alunos de inglês, três vezes por semana, num curso intensivo, uma canseira.
Mal dormida, com dor de cabeça, dona Flor escutou o relato. Recebê-lo, ouvir suas propostas? Mas não tinha sentido: se resolvida a não casar-se, por que perder tempo com pretendentes? Dona Gisa desdobrou-se em argumentos e apelos, obtendo por fim o adiamento da negativa. Em atenção à amiga dona Flor prometeu reflectir na resposta, não despachando o fulano com um recado brusco. Quase no fim da conversa, dona Norma surgiu em busca de fermento para um bolo e entrou de cheio na conspiração. Comerciante rico em Itabuna? Vejam só como a gente se engana… Dona Norma sem dar nada pelo amarelo e ele revelando-se sério, estabelecido, abastado, um partido de primeira. Também com aquela cara de merda…
- Desculpe, Flor, se lhe ofendi… Mas não parece? Merda de menino pequeno…
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 134
Dona Flor descreveu-lhe os últimos sucessos: fora-se o tipo, expulso, levara com a janela nas ventas. Contando, dona Flor relanceava a vista pela rua. No fundo, um tanto desiludida: bem frágil o interesse do rapaz, rompendo-se ao primeiro empecilho. Coisas muito piores fizera dona Flor com Pedro Borges, em seus tempos de solteira. O paraense amargara em suas mãos, cartas devolvidas, presentes recusados, verdadeiros desaforos, e ele firme, de aliança em punho. Aquilo, sim, era paixão e verdadeira. Esse de agora ia-se ao simples bater de uma janela…
Como quem não quer nada, no correr das horas, três ou quatro vezes veio dona flor à janela, constatando o efeito positivo do seu gesto: o indivíduo sumira de vez.
Ao deitar, dona Flor suspendeu os ombros, num sinal de indiferença: antes assim. Se não desejava realmente novo casamento, por que então preocupar-se com a frágil persistência do coió, com a debilidade de seus sentimentos? Vaidade imprópria a seu estado de viúva.
Pela primeira vez, naqueles meses todos, não adormeceu de imediato num sono reparador. Ficou de olhos abertos, a pensar. Em verdade, seria tão forte como imaginara, essa sua decisão de não casar-se, de viver sua vida em sossego, sem sair para nova aventura matrimonial? Tinha decidido, e pronto: acabou-se. Não quis sequer prolongar aquela discussão consigo mesma, não tendo, aliás, dúvida ou divergência a esclarecer. Tão disposta a cumprir sua resolução a ponto de rir livremente com as amigas, de pilheriar com as comadres quando umas e outras lhe traziam candidatos ou quando dona Dinorá traçava o perfil do soberbo quarentão. Como então perder o sono devido à simples presença de um bocó de esquina?
No dia seguinte, bem cedo ainda, dona Gisa entrou-lhe casa dentro, repleta de novidades, relatando com detalhes e entusiasmo a conversa com o pseudo comerciante grapiúna. Impossível vir na véspera, como de seu desejo; mesmo à noite tinha alunos de inglês, três vezes por semana, num curso intensivo, uma canseira.
Mal dormida, com dor de cabeça, dona Flor escutou o relato. Recebê-lo, ouvir suas propostas? Mas não tinha sentido: se resolvida a não casar-se, por que perder tempo com pretendentes? Dona Gisa desdobrou-se em argumentos e apelos, obtendo por fim o adiamento da negativa. Em atenção à amiga dona Flor prometeu reflectir na resposta, não despachando o fulano com um recado brusco. Quase no fim da conversa, dona Norma surgiu em busca de fermento para um bolo e entrou de cheio na conspiração. Comerciante rico em Itabuna? Vejam só como a gente se engana… Dona Norma sem dar nada pelo amarelo e ele revelando-se sério, estabelecido, abastado, um partido de primeira. Também com aquela cara de merda…
- Desculpe, Flor, se lhe ofendi… Mas não parece? Merda de menino pequeno…
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