DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 150
- Você foi rude demais… Foi grosseira… - Disse-lhe dona Norma, sincera. Enaide está zangada e com razão…
Na manhã de domingo, de sol e preguiça, a seguir à tumultuosa e festiva noite de sábado e de aniversário de seu Zé Sampaio, as amigas cercavam dona Flor, ainda a ressumar uns restos de irritação.
- Não tolero ousadias…
- Ele estava apenas brincando… você tomou a mal… - dona Amélia não vira maldade em doutor Aluísio.
- Brincadeira de mau gosto…
Enérgica, dona Norma reflectia o pensamento das amigas:
- Flor, desculpe que eu lhe diga, mas você está uma não-me-toques. Por qualquer coisa se zanga, se magoa… Você nunca foi assim enganjenta… Eu não estava presente, mas mesmo que ele tenha exagerado um pouco, você não precisava se exaltar…
Dona Gisa desenvolvia toda uma tese científica para explicar a figura e as atitudes do notário de Pilão Arcado:
- Seu Aluísio é um tipo de homem do sertão, patriarcal, acostumado a tratar as mulheres como sua propriedade, uma coisa, um animal, uma vaca…
- Isso mesmo… - aproveitava dona Flor – Uma vaca… Para ele todas as mulheres não passam disso… E ele é um cavalo…
- Você, Flor, não está me entendendo e tampouco entendeu seu Aluísio. É preciso observá-lo em função do meio em que vive. Meio agro-pecuário… Quanto a ele, é um senhor feudal…
Um descarado é o que ele é… De mão maneira… vai segurando a da gente e fazendo cócega…
- Norma tem razão, Flor, você está uma sensitiva. Doutor Aluísio só fez pegar em sua mão… - opinou dona Jacy.
- Para ler a sorte… - dona Maria do Carmo constatava: - Por que é que todo o sujeito malandro vem com essa história de ler a mão?
Seu Aluísio ou doutor Aluísio? Dona Maria do Carmo, sem o querer, punha em debate um sério problema d tratamento e protocolo. Na região do São Francisco, de Juazeiro a Januária, de Lapa a Remanso e Sento Sé – zona onde exercera advocacia, rábula provisionado, orador de júri dos mais retóricos – era doutor para todos os efeitos. Na capital, no entanto, sem o curso universitário, subtraíam-lhe o curso indevido. No desejo de manter este relato equidistante da cidade e do sertão, aqui serão usados indiferentemente os dois tratamentos, atendendo-se assim aos formalistas rígidos e aos nonchalantes liberais. Quanto às amigas reunidas na sala de dona Flor, não se interessam pelo problema:
- Doutor ou não, é uma patativa, sabe falar, tem mel na língua… um finório… - resumia dona Êmina, até então calada.
Comentavam os acontecimentos, quase um pequeno escândalo, da noite de aniversário de seu Sampaio. Sendo o comerciante de sapatos avesso a festas e comemorações, restringiu-se dona Norma, a contragosto, a um farto jantar para o qual convidara amigos e vizinhos.
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 150
- Você foi rude demais… Foi grosseira… - Disse-lhe dona Norma, sincera. Enaide está zangada e com razão…
Na manhã de domingo, de sol e preguiça, a seguir à tumultuosa e festiva noite de sábado e de aniversário de seu Zé Sampaio, as amigas cercavam dona Flor, ainda a ressumar uns restos de irritação.
- Não tolero ousadias…
- Ele estava apenas brincando… você tomou a mal… - dona Amélia não vira maldade em doutor Aluísio.
- Brincadeira de mau gosto…
Enérgica, dona Norma reflectia o pensamento das amigas:
- Flor, desculpe que eu lhe diga, mas você está uma não-me-toques. Por qualquer coisa se zanga, se magoa… Você nunca foi assim enganjenta… Eu não estava presente, mas mesmo que ele tenha exagerado um pouco, você não precisava se exaltar…
Dona Gisa desenvolvia toda uma tese científica para explicar a figura e as atitudes do notário de Pilão Arcado:
- Seu Aluísio é um tipo de homem do sertão, patriarcal, acostumado a tratar as mulheres como sua propriedade, uma coisa, um animal, uma vaca…
- Isso mesmo… - aproveitava dona Flor – Uma vaca… Para ele todas as mulheres não passam disso… E ele é um cavalo…
- Você, Flor, não está me entendendo e tampouco entendeu seu Aluísio. É preciso observá-lo em função do meio em que vive. Meio agro-pecuário… Quanto a ele, é um senhor feudal…
Um descarado é o que ele é… De mão maneira… vai segurando a da gente e fazendo cócega…
- Norma tem razão, Flor, você está uma sensitiva. Doutor Aluísio só fez pegar em sua mão… - opinou dona Jacy.
- Para ler a sorte… - dona Maria do Carmo constatava: - Por que é que todo o sujeito malandro vem com essa história de ler a mão?
Seu Aluísio ou doutor Aluísio? Dona Maria do Carmo, sem o querer, punha em debate um sério problema d tratamento e protocolo. Na região do São Francisco, de Juazeiro a Januária, de Lapa a Remanso e Sento Sé – zona onde exercera advocacia, rábula provisionado, orador de júri dos mais retóricos – era doutor para todos os efeitos. Na capital, no entanto, sem o curso universitário, subtraíam-lhe o curso indevido. No desejo de manter este relato equidistante da cidade e do sertão, aqui serão usados indiferentemente os dois tratamentos, atendendo-se assim aos formalistas rígidos e aos nonchalantes liberais. Quanto às amigas reunidas na sala de dona Flor, não se interessam pelo problema:
- Doutor ou não, é uma patativa, sabe falar, tem mel na língua… um finório… - resumia dona Êmina, até então calada.
Comentavam os acontecimentos, quase um pequeno escândalo, da noite de aniversário de seu Sampaio. Sendo o comerciante de sapatos avesso a festas e comemorações, restringiu-se dona Norma, a contragosto, a um farto jantar para o qual convidara amigos e vizinhos.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home