quarta-feira, junho 23, 2010


ENTREVISTAS

FICCIONADAS

COM JESUS CRISTO

Entrevista Nº 33



Tema – A Bênção de Deus?



Raquel – Hoje estamos na antiga Sinagoga de Cafarnaum e, como nos dias anteriores, contamos com a presença de Jesus Cristo e…

Jovem – Com sua licença… poderia interromper?

Raquel – Nas E. Latinas ninguém interrompe e todos participam. É esse o nosso lema.

Jovem – A senhora não é a repórter das E. Latinas?

Raquel – Eu mesma e tu?

Jovem – Eu sou um fiel ouvinte do seu programa e para além disso…

Raquel – E para além disso?

Jovem – Pertenço à Igreja Apostólica de Jesus Cristo.

Raquel – De verdade? Pois tens agora oportunidade de falar com Jesus Cristo que está chegando.

Jesus – Aqui estou, amigo… não me vês?

Jovem – O senhor é Jesus Cristo, aquele que temos estado a ouvir na rádio nestes últimos dias?

Jesus – Me chamo Jesus. O Cristo me puseram mais tarde.

Jovem – Na verdade imaginava-o diferente…

Jesus – Com uma coroa na cabeça e lançando raios pelos dedos das mãos… ou algo assim?

Jovem – Bem… não… sim. Não se parece muito, mas… aleluia, glória a Deus! Eu não sou jornalista mestre, mestre, mas quero fazer-lhe uma pergunta, algo pessoal…

Jesus – E de que se trata, amigo?

Jovem – O pastor da minha Igreja está sempre repetindo que Deus abençoa aqueles que fazem o bem. É verdade isso?

Jesus – Diz-me, antes de mais, o que significa para ti ser “abençoado por Deus”?

Jovem – Ser abençoado é ter prosperidade, prosperar, ter negócios que corram bem… até poder ganhar a lotaria e parar de sofrer o resto da vida.

Jesus – Pois então o meu Deus nunca me abençoou… porque eu nunca tive nada, nem onde reclinar a cabeça.

Raquel – Se a nossa audiência está entendendo bem, jovem, o que tu queres saber, é se a riqueza material é a prova de uma bênção espiritual. Quanto mais rico, mais abençoado. É isso?

Jovem – Exactamente. O senhor Jesus Cristo é que disse?

Jesus – Assim pensavam no meu tempo. Assim acreditava Job, aquele homem tão honesto… Uma vez leram a sua história na Sinagoga. Job tinha filhos, rebanhos, riquezas, prosperava… e um dia perdeu tudo e Job não entendia por que Deus o castigara se ele sempre se portara bem.

Jovem – O mesmo pergunto eu. Tanto eu como a minha família somos pessoas cumpridoras, em casa, no meu trabalho, não faço mal a ninguém, até me meti a empreendedor… um fracasso. Em tudo me saio mal. Por que é que Deus não me abençoa a mim?

Jesus – Diz-me, como te chamas?

Jovem – Torcuato.

Jesus – Torcuato?

Jovem – Vês…? Até o nome que me puseram é feio… sou um desgraçado!

Jesus – Não digas isso amigo, e não acredites no que te dizem. Se a riqueza e os triunfos fossem uma prova de Bênção Divina, minha mãe, o meu pai José e eu mesmo seríamos uns malditos de Deus… porque nunca tivemos nada!

Jovem – Então?

Jesus – A bênção de Deus não é a riqueza que se tem mas sim o amor que se dá. Amar os outros, lutar por eles. Acredita, Torcuato, é mais feliz quem dá do que quem recebe.

Jovem – E… e eu?

Jesus – Deus abençoou-te. Estou certo que ele te convidará para o seu banquete.

Jovem – Jesus Cristo, deu-me muita alegria conhecê-lo. Como posso agradecer-te? Aceitaria vir a minha casa, a senhora também, posso oferecer um chá com um pão.

Jesus – Chá com um pão… quase um banquete!... vamos a tua casa Torcuato… Raquel, depois continuarás com as tuas perguntas.



NOTA

A Teologia da Prosperidade está muito em voga entre as Igrejas Neo-Pentecostes e Neo-Carismáticas evangélicas.

De acordo com esta Teologia a prosperidade económica e o êxito, especialmente nos negócios, é um sinal exterior evidente da bênção de Deus. Esta mensagem, comum aos pregadores de televisão dos E.U.A. a partir dos anos sessenta, foi transplantada para a América Latina a partir dos anos 80.

No seu livro “Os Banqueiros de Deus”, o pastor baptista peruano, Martin Ocana, faz a apologia da prosperidade considerando que ela constitui uma forma de avaliar se uma sociedade é cristã ou não, como no caso dos E.U.

Lendo a Bíblia fora do contexto, os teólogos da prosperidade espalham ideias tão disparatadas e mirabolantes como estas:

- O pecado de Adão foi o de ter contribuído para baixar a produtividade da humanidade;

- José da Nazaré, pai de Jesus, era um empresário do ramo das madeiras;

- Jesus rodeou-se de amigos e senhoras ricas e tinha tanto dinheiro que necessitou de um tesoureiro;

- Os discípulos de Jesus eram empresários da pesca;

- Nunca foi da vontade de Jesus que um cristão fosse pobre.

Estas pessoas convenceram os seus fiéis de que “quanto mais dessem mais receberiam”: “serão abençoados na medida em que entreguem os dízimos aos pastores e esmolas aos templos”.

A IURD, Igreja Universal do Reino de Deus, fundada por Edir Macedo Bezerra, em 1977, conseguiu desta forma enormes recursos financeiros construindo templos gigantescos espalhando-se por todos os países da América Latina e muitos outros do resto do mundo transformando cinemas em Igrejas.

A IURD declara-se cristã, evangélica e pentecostal mas todas as organizações evangélicas recusaram aceitá-la como tal.

Trata-se apenas de um fabuloso negócio fraudulento em que caem pessoas incautas, necessitadas e desesperadas vivendo crises económicas e emocionais, atraídas por expectativas ilusórias e conduzidas a um fanatismo irracional.

A Teologia da Prosperidade é completamente oposta ao que foi a vida de Jesus: um fracasso económico e político terminando com a sua morte violenta.

A vida de Jesus não aparece vinculada nem ao êxito nem ao poder mas sim ao amor e ao compromisso com a justiça. A ideia de um Deus todo-poderoso e triunfador muda radicalmente com Jesus, um homem frágil que fracassa e é assassinado.

Só depois de morto e ressuscitado é que ele é convertido em rei do universo, juiz todo-poderoso, sentado no seu trono de glória.

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