quarta-feira, junho 30, 2010


ENTREVISTAS


FICCIONADAS


COM JESUS CRISTO


Entrevista Nº 36


TEMA - O Ateísmo?


Raquel – A entrevista a Jesus Cristo é hoje numa curva do caminho que vai de Jerusalém a Jericó. Esta paisagem desolada é, no entanto, o cenário de uma das suas mais importantes e recordadas parábolas. É assim ou estou enganada?

Jesus – Não…não estás enganada. Os Mestres da Lei perguntaram-me um dia qual era o Mandamento principal.

Raquel – E não sabiam eles que eram Mestres?

Jesus – Sabiam-no de sobra. Ama a Deus e ama ao teu próximo, disse-lhes. Mas eles insistiram: e quem é o próximo? Queriam provocar-me.

Raquel – E o senhor?

Jesus – Contei-lhes uma história para os provocar a eles:

- Uma vez, certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores que o roubaram e o abandonaram com ferimentos, meio morto. Por ali descia também um Sacerdote que vendo o homem ferido e caído no chão, passou ao lado. Semelhante ao Sacerdote passou um Levita (tomavam conta dos Santuários) que também passou ao lado. Certo Samaritano, que seguia o seu caminho, passou perto e vendo-o, compadeceu-se. Tratou-lhe as feridas, colocou-o sobre o seu próprio animal e levou-o a uma hospedaria. No outro dia tirou dois dinares entregando-os ao hospedeiro dizendo-lhe: “Cuida bem deste homem e se alguma coisa mais ele precisar no meu regresso te indemnizarei”.

Destas três, Sacerdote, Levita e Samaritano, este último foi o único que amou Deus.

Raquel – E funcionou a sua provocação?

Jesus – Sim, eles ficaram furiosos.

Raquel – E por quê tanta fúria?

Jesus – Por causa do Samaritano. Quando eu era jovem ouvia dizer: “Samaritano: pagano e marrano”. (samaritano é o mesmo que pagão e porco). Desprezavam-nos. Não eram judeus puros mas o que ainda era pior é que não acreditavam nos Sacerdotes, nem nos Templos, nem no Deus dos judeus.

Raquel – Eram ateus?

Jesus – Essa palavra não a usávamos no meu tempo, mas sim. Os samaritanos não acreditavam no nosso Deus. Eram… eram isso: ateus dos nossos dias.

Raquel – Como é essa coisa? Pode-se ser ateu de um deus e de outro não?

Jesus – Há deuses falsos que são ídolos. Há que derrubá-los, deixar de acreditar neles.

Raquel – Refere-se à actual crise de fé?

Jesus – No meu tempo, foram os Sacerdotes com os seus privilégios e os Levitas com as suas leis e mais leis que provocaram a crise da fé.


Raquel – Pois, neste tempo passa-se algo parecido. Ter-se-á já dado conta, muita gente afirma-se ateu por causa dos maus exemplos dos sacerdotes, dos pastores…

Jesus – Bem aventurados esses ateus, eles encontrarão deus.

Raquel – Uma nova Bem-aventurança?

Jesus – Olha, Raquel, os sacerdotes de Jerusalém adoravam um ídolo que exigia sacrifícios de sangue, impunha cargas insuportáveis, recusava as mulheres, os doentes… e eu revoltei-me contra esse deus e disse aos meus conterrâneos que não acreditassem nele. Eu também fui ateu, ateu desse deus.

Raquel – Então o senhor não condena o ateísmo?

Jesus – Como vou condená-lo? Pode ser um atalho para chegar ao Deus verdadeiro. É necessário deixar de acreditar em deuses falsos para procurar e encontrar Deus.

Raquel – Como explica esta afirmação tão… desconcertante?

Jesus – Expliquei-a neste caminho… escuta, Raquel, quando se encontra o verdadeiro Deus não se olha de cima, mas sim dos lados. O Sacerdote e o Levita acreditavam num deus falso, um deus das nuvens. Foi o samaritano aquele que, realmente, acreditava em Deus porque viu o homem ferido, aproximou-se dele e fez dele seu “próximo”.

Só acredita em Deus quem ama seu “próximo”.

Raquel – Desde o caminho do Bom Samaritano e, desde hoje, bom ateu, no deserto da Judeia, Raquel Perez, Emissoras Latinas.



NOTA

Desta parábola, a grande lição é a de que o Amor é o Dom Supremo. O samaritano, considerado ateu naquele tempo, pelo seu comportamento foi o único que praticou a filosofia cristã. Ele não julgou, não investigou, limitou-se a ser bom, amigo do “próximo”.

Ateísmo – Não é fácil negar a existência de Deus, por razões morais, espirituais e não só. Richard Dawkins, cientista e Prémio Nobel britânico, ateu militante, fã de Jesus por considerá-lo um dos homens mais adiantados em termos de ética e coerência considerando a época em que viveu, autor do best seller “A Desilusão de Deus”, ensina-nos, num outro livro de que é autor, “O Gene Egoísta”, sobre a existência de outros genes, diferentes nas suas estruturas bioquímicas, que se replicam e se transmitem biologicamente e que constituem a informação que configura os nossos corpos.

A essas outras estruturas de genes ele denominou de “Memes”. E o que são os “memes”? – São unidades de pensamento – ideias, valores, conceitos – que elaboram os cérebros e através da cultura e passando de cérebro para cérebro replicam-se, transmitem-se e herdam-se. Eles seleccionam-se, aparecem e desaparecem (lembrem-se das modas no vestuário) e uns prevalecem sobre outros.

O Dicionário de Oxford tem a seguinte definição para “Meme”: - Elemento de cultura que é auto-replicador e se transmite através da imitação.

Segundo Richard Dawkins, no património “Mémico” da humanidade nenhum “meme” é tão universal como o “meme” Deus.

No seu livro a “Desilusão de Deus” Richard Dawkins, ensina-nos que tudo terá começado nos primórdios da humanidade quando os filhos dos nossos antepassados remotos, em criança, eram uns, mais do que outros, obedientes aos pais e às pessoas mais velhas do grupo. Os que obedeciam, ou seja, os que acreditavam, tinham mais probabilidades de sobreviver e se reproduzirem transmitindo aos filhos as suas características de crença até que a sociedade humana evoluiu para comunidades crentes.

A religião terá sido um sub-produto, um “dano colateral”, como se diz agora relativamente às guerras modernas a propósito da morte de civis.

Começou-se por acreditar que era perigoso ir para o rio onde o crocodilo nos podia comer – crença boa – continuou-se acreditando que cortando o pescoço à cabra a caçada iria ser boa – crença ruim - . Este é o problema das crenças: distinguir as que são úteis das inúteis e perigosas.

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