DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 170
Soberbo quarentão: tudo quanto a bola de cristal e as sebentas cartas revelaram a dona Dinorá na tarde de profecia, amigas e comadres foram descobrindo em doutor Teodoro, ponto por ponto, sem faltar minúcia. O dinheirinho e o título universitário, a compleição, o talhe, a figura, o porte digno, os modos elevados, tudo; e, no entanto, naqueles tempos em que buscaram pelas ruas e praças, num afã de gargalhadas, face correspondente ao retrato da vidência, ninguém pensou no farmacêutico. Como explicar tamanho absurdo se estava na cara, bastando olhar e ver? Cegueira de todas as comadres e amigas ou engano desta detalhada narrativa, erro fatal para gáudio da crítica adversa?
Nem erro nem engano e, sim, uma espécie de obtusidade colectiva impedindo que comadres e amigas descobrissem no fundo discreto da farmácia, os óculos sobre o nariz, o correntão de ouro, curvado sobre as drogas, a misturar venenos para transformá-los em remédios, distribuidor de saúde ao domicílio e a preços módicos.
O cronista dos matrimónios de dona flor, de suas alegrias e aflições, foi apenas fiel à verdade não colocando doutor Teodoro na lista dos pretendentes cujas candidaturas as comadres propuseram, pois nenhuma delas se lembrou do boticário, não vindo seu nome à baila naqueles saborosos cavacos em torno da viuvez de dona Flor, quando todas queriam distraí-la. Aliás, pouco perdeu o doutor com tal esquecimento, quando muito, teria participado no sonho em que dona Flor se viu em roda de ciranda circundada de babaquaras, aspirantes à sua mão. Melhor para ele: nem em sonhos apareceu em papel ridículo, não se desgastando na estima da viúva.
Mas, por que tal cegueira, por que o esqueceram, não o descortinaram ao balcão da farmácia, junto aos vidros azuis e vermelhos, cercado por aquele odor de medicina, com a agulha da injecção pronta para picar braços e nádegas de todas as velhotas suas clientes? Se tanto o viam e com ele tratavam por que não o enxergaram?
Por sabê-lo impedido para o casamento e sem remédio; por isso, ao contarem solteiros pela rua, na relação não inscreviam o boticário, como se fosse casado, com mulher e filhos. Nem mesmo dona Norma, em sua meticulosa busca de noivo para a esmorecida Maria, sua vizinha e afilhada, em nenhum momento dele se lembrara. Doutor Teodoro? Esse não casou nem casará, não vale a pena nele se deter, perda de tempo; mesmo se quisesse construir um lar, não o poderia, uma lástima, coitado!
Soberbo quarentão: tudo quanto a bola de cristal e as sebentas cartas revelaram a dona Dinorá na tarde de profecia, amigas e comadres foram descobrindo em doutor Teodoro, ponto por ponto, sem faltar minúcia. O dinheirinho e o título universitário, a compleição, o talhe, a figura, o porte digno, os modos elevados, tudo; e, no entanto, naqueles tempos em que buscaram pelas ruas e praças, num afã de gargalhadas, face correspondente ao retrato da vidência, ninguém pensou no farmacêutico. Como explicar tamanho absurdo se estava na cara, bastando olhar e ver? Cegueira de todas as comadres e amigas ou engano desta detalhada narrativa, erro fatal para gáudio da crítica adversa?
Nem erro nem engano e, sim, uma espécie de obtusidade colectiva impedindo que comadres e amigas descobrissem no fundo discreto da farmácia, os óculos sobre o nariz, o correntão de ouro, curvado sobre as drogas, a misturar venenos para transformá-los em remédios, distribuidor de saúde ao domicílio e a preços módicos.
O cronista dos matrimónios de dona flor, de suas alegrias e aflições, foi apenas fiel à verdade não colocando doutor Teodoro na lista dos pretendentes cujas candidaturas as comadres propuseram, pois nenhuma delas se lembrou do boticário, não vindo seu nome à baila naqueles saborosos cavacos em torno da viuvez de dona Flor, quando todas queriam distraí-la. Aliás, pouco perdeu o doutor com tal esquecimento, quando muito, teria participado no sonho em que dona Flor se viu em roda de ciranda circundada de babaquaras, aspirantes à sua mão. Melhor para ele: nem em sonhos apareceu em papel ridículo, não se desgastando na estima da viúva.
Mas, por que tal cegueira, por que o esqueceram, não o descortinaram ao balcão da farmácia, junto aos vidros azuis e vermelhos, cercado por aquele odor de medicina, com a agulha da injecção pronta para picar braços e nádegas de todas as velhotas suas clientes? Se tanto o viam e com ele tratavam por que não o enxergaram?
Por sabê-lo impedido para o casamento e sem remédio; por isso, ao contarem solteiros pela rua, na relação não inscreviam o boticário, como se fosse casado, com mulher e filhos. Nem mesmo dona Norma, em sua meticulosa busca de noivo para a esmorecida Maria, sua vizinha e afilhada, em nenhum momento dele se lembrara. Doutor Teodoro? Esse não casou nem casará, não vale a pena nele se deter, perda de tempo; mesmo se quisesse construir um lar, não o poderia, uma lástima, coitado!
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