DONA FLOR
E SEUS DOIS
MARIDOS
MARIDOS
EPISÓDIO nº 223
Inês, coração volúvel porém eficiente conhecera em nua intimidade rapazes a granel. “Pois vou lhe dizer, menina: não encontrei até hoje, nenhum igual a ele, ainda guardo o gosto da sua pele e sinto atrás da orelha a ponta da sua língua, ouço o seu riso ao me tomar dinheiro.”
- A tomar dinheiro? – Mirtes sempre desejara conhecer um gigolô.
Deu-lhe Inês informações e endereços, magnânima. Escola de Culinária Sabor e Arte, entro o Cabeça e o Largo Dois de Julho. A professora, mulher dele, boa moça, não era feia, com seus cabelos lisos e cor de cobre. Entrasse Mirtes de aluna, as aulas ajudavam a matar o tempo e logo assanhado lhe botaria em cima o0 olho, a mão e seu canto de sereia, ai.
Não se esquecesse de lhe escrever depois, contando e agradecendo. Inês não tinha dúvidas sobre as deleitosas consequências do conúbio, úteis aliás, a todos os parceiros, inclusivé ao marido festejado: com seu diploma de doutora em culinária, Mirtes podia lhe servir quitutes baianos do melhor sabor. A professora era de primeira, mestra na arte, tinha mãos de fada.
Jamais dona Flor desconfiara, nem antes nem agora, de chamego entre o finado e aquela Inês, no tempo sisuda magricela, curiosa de temperos. Não fosse a posterior indiscrição da revoltada Mirtes e talvez nunca viesse a conhecer mais aquela estripulia do falecido. Mais uma menos uma, tinham sido tantas, e agora esta dona Flor casada com homem de outro estofo, com outras normas de procedimento, impoluto.
Quanto a Mirtes, apenas instalada na Bahia, buscou a Escola para nela se inscrever. Quis dona Flor convencê-la a esperar o início de nova turma, já se encontrando a actual no caruru, tendo dado o efó e o vatapá, sem falar em algumas sobremesas como doce de coco, beiju e ambrosia.
Mirtes tinha pressa, impossível esperar. Inventou próxima volta ao Rio, tempo curto em salvador, não lhe sobrando outra oportunidade para aprender ao menos uns quantos pratos, seu marido era maluco por comida de dendê. Dona Flor, a boba, ainda prometera nas folgas do tempo lhe ensinar ao menos o vatapá, o xinxim e o apeté.
Não lhe ensinou aqueles nem outros pitéus, pois foi rápida a passagem de Mirtes pela escola. Não tendo visto o marido da professora nos dois primeiros dias, no terceiro perguntou por ele a uma colega que lhe disse ser difícil avistar-se o doutor durante as aulas, preso á farmácia naquele mesmo horário. Doutor? Na farmácia? Não sabia que fosse farmacêutico, aquela louca Inês só lhe falara nas qualidades desportivas do baiano, de seu trabalho fora da cama nada lhe dissera. Mirtes até se enchera de esperanças: ia finalmente conhecer um verdadeiro gigolô.
Por acaso, naquele mesmo dia, logo depois desse diálogo, necessitou doutor Teodoro de um documento, veio buscá-lo. Pedindo milhares de desculpas, muito solene e cheio de dedos, atravessara entre as alunas.
- Quem é? – quis saber Mirtes.
- Doutor Teodoro, o marido. Eu lhe dizia ser difícil de aparecer e em seguida quem se vê? O próprio…
- O marido dela? Da professora? Esse?
- E de quem havia de ser?
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