terça-feira, novembro 16, 2010


INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTRVISTA Nº 70 SOB O TEMA:

“SOBRE A PEDRA DE PEDRO? (4)




Ler a Bíblia Com Distância e Com Suspeita


No seu Programa, o jornalista e investigador espanhol Pepe Rodriguez, esclarece que a frase: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mateus 16, 18), uma das mais repetidas e pregadas pela hierarquia da Igreja de Roma para se apresentar como “sucessora de Pedro” foi acrescentada em versões posteriores aos primeiros relatos evangélicos. De resto, nos quatro Evangelhos, há muitos destes “acrescentos”.

A miúdo, ouvimos crentes cristãos, católicos e evangélicos defender posições muito firmes apoiando-se no que disse “no que disse a palavra de Deus na Bíblia”. Mas, como foi posta por escrito essa tradição oral, como foi traduzida e divulgada essa palavra?

Primeiro, há que ter em conta que todos os livros da Bíblia foram escritos, copiados, lidos, estudados, discutidos, decididos, traduzidos, publicados, classificados, pregados, difundidos e explicados por homens, por varões.

Este é o primeiro enviezamento determinante para interpretar os “acrescentos” e os “suprimidos”. Para além disso, nenhum desses livros foi escrito no momento em que ocorreram os factos narrados.

Depois de muitos anos de tradição oral, por vezes séculos, pôs-se por escrito o que “ocorreu” ou melhor o que se recorda que tenha ocorrido, juntando, trocando, suprimindo, modificando.

Há também que ter em conta que durante séculos todos os livros da Bíblia, na sua versão em grego e latim – as únicas línguas aceites oficialmente – foram interpretados e controlados exclusivamente pela hierarquia eclesiástica que excomungava quem traduzisse a Bíblia para línguas faladas por pessoas que não conheciam o grego ou o latim.

No seu protesto contra as práticas do papa de Roma, Martinho Lutero, causou uma verdadeira revolução quando traduziu para o alemão os livros do Novo Testamento, em 1552 e os do antigo Testamento em 1534.

Desde então, os protestantes começaram a familiarizar-se, pouco a pouco, com a leitura directa da Bíblia, necessariamente aprendendo a ler e a desenvolver uma mentalidade crítica que se traduziu numa vantagem sobre os católicos no que respeita ao alfabetismo, com todas as consequências que isso teve e continua a ter na história de uns e de outros, protestantes e católicos. (Na Alemanha de hoje, 33% são luteranos, 32% católicos e 25% Não religiosos/ateus. Em Portugal 85% católicos e 6% Não crentes. A Alemanha "dá cartas" na Europa, Portugal prepara-se para pedir ajuda ao FMI.)
Em Espanha, por exemplo, Frei Luís de Leon foi condenado pela Inquisição a quatro anos de cárcere, no último terço do Séc. XVI, por ter o “bárbaro costume” de traduzir a Bíblia para o espanhol.

No campo católico, onde a “autoridade divina” vinha do Papa e não das escrituras… estas não eram lidas. De resto, as leituras eram suspeitas… ter uma Bíblia também. O latim era língua “sagrada”, as outras eram profanas. E o sagrado “não se entendia”, nem deveria entender-se… assim era mais misterioso.

Tiveram que passar quatro séculos para que o Vaticano recomendasse aos católicos que lessem a Bíblia.

O Concílio de Valência (1229), o Concílio de Trento (1545) e o Papa Clemente XI (1713) condenaram a leitura da Bíblia pelo povo nas suas línguas.

O Papa Leão XIII (1893) desejou que o povo lesse a Bíblia, mas a Bíblia a que ele se referia era a Vulgata Latina que, na realidade, excepto os sacerdotes, mais ninguém podia entender.

Somente no Séc. XX a “igreja imutável” permitiu aos leigos ter a Bíblia nas suas próprias línguas mas… elas tinham que ser aprovadas pela Igreja e deviam conter explicações, por um teólogo autorizado, dos textos “difíceis” no fim de cada página.

Assim, durante mil anos, do primitivo Séc. VI ao XVI, enquanto a Igreja Romana segurou a balança, a Bíblia permaneceu um livro fechado. A Igreja de Roma em vez de um império de luz, tornou-se num império de trevas, promovendo a ignorância, a superstição e mantendo o povo em escravidão
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