terça-feira, dezembro 14, 2010

DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 293


Zulmira contou, ainda alarmada, inocente vítima desse deboche interplanetário, dessa bolinagem de ectoplasmas.

Mostrei a Pequito, ele viu as marcas. Mostrei também às colegas, na aula de culinária, na escola de dona Flor ficou numa impressão, quase teve um desmaio.

Mostrou a todo o mundo só não mostrou a Cardoso e S.ª : por que essa prevenção com ele? Sem um exame in loco (como diria o cardeal Cauchon), impossível definir o fenómeno. Um tanto agastado Cardoso e S.ª respondeu:

- Os marcianos? Não creio. Com eles é só na transmissão de pensamento.

Só na transmissão de pensamento? Que trouxas… considerou Zulmira, voltando a fazer as unhas. Quanto a Pelancchi, ainda tinha dúvidas:

- Marcianos? E se não for?

- Deixe comigo e resolvo tudo…

Pelancchi confiava em Cardoso e S.ª, tivera ocasião de constatar a grandeza universal de seu saber. Mas, para assunto tão complexo, talvez valesse a pena não se reduzir ao místico do Hindustão; consultar, quem sabe, outros poderes mágicos. Mãe Octávia, por exemplo.

Cardoso e S.ª renovando o fumo do cachimbo, o olhar perdido mais além da janela e do horizonte, partiu na réstia de luz, sua voz vinha de luz:

- Tenho muito prestígio com os marcianos, não faz ainda quatro dias fui com eles de visita a Marte, andei todo o planeta, tem uma cidade só de prata e outra só de ouro… Lá os peixes voam pelos ares e o mar é um jardim de flores…

Agora não enxergava sequer as pernas de Zulmira, o seio farto nas rendas do decote, numa nave de luz chegara a Marte. “Está em transe”, sussurrou Pelancchi com respeito e Zulmira compôs as rendas do peignoir.

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