DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 295
- Eu estava nas profundas, preso, de mãos e pés atados, me deu trabalho demais me desamarrar para vir te ver, meu bem. Mas tu me chamou e eu vim atravessando o fogo e o frio, o nada e o não. Chego e tu me nega o pão, a água de beber, por quê?
- Ai, Vadinho…
- Por que tu me trata assim, como a um cão? Terminou meu bem ou hoje ou nunca mais. Quando esse barata tonta aparecer, diz a ele que tu não se sente bem, não está com disposição. Depois a gente vai arrosar a peladinha.
- Ah!, isso não… Sou mulher séria e honrada, não vou trair meu marido, quantas vezes já te disse?
O doutor, saindo do banheiro, no pijama limpo recende a sabonete. Seu aspecto é aprazível, sincero seu sorriso, honesto o olhar. Vadinho colhe na mão a rosa azul de dona Flor. Ah!, dona Flor, como podes ser assim calhorda?
- Teodoro, meu querido, me perdoa por hoje, não me sinto bem estou indisposta. Deixamos para amanhã, se você não se incomoda.
Doente? O doutor se inquieta. Já pela tarde, ela se queixara. Não seria mais que uma simples indisposição? Onde está o termómetro? O xarope, as pílulas, a caixa dos medicamentos? Não preciso de nada disso, meu querido, não te aflijas, vai dormir, amanhã estarei boa, completamente boa…
- … e ao teu dispor… - diz numa promessa dona Flor.
Como posso de repente ser assim, tão sem sentimentos, sem orgulho, sem decência, sem moral? – interroga-se dona Flor, sentindo pelo armado esposo uma ternura grata e um certo gosto pela farsa: na face o beija. Mas doutor Teodoro não se conforma: ela deve tomar um comprimido, umas gotas, um sedativo, ao menos para dormir de um sono só, despertar tranquila e repousada. Vai pelo remédio e pela água. Apenas ele sai, dona Flor sente-se presa de Vadinho.
- Maluco! Me solta, ele já está voltando.
Vadinho considera, objectivo e imparcial:
- Não é mau sujeito, esse teu segundo… Muito ao contrário. Sabe, meu bem, cada vez simpatizo mais com ele… Entre nós dois, tu estás muito bem servida. Ele para penas e cuidados, eu para a gente vadiar…
O doutor trás a moringa de água fresca, dois copos e um pequeno vidro com um líquido incolor:
- Tintura de valeriana, vinte gotas em meio copo de água e você vai dormir e descansar, querida.
Ergue o conta-gotas com atenção e calma mistura o sedativo à água. Alguém trocou os copos enquanto o doutor virou as costas por um instante? Quem, Vadinho ou dona Flor? Mas, se assim foi, como o doutor, farmacêutico e competente, não reconheceu o gosto activo da valeriana? Houve um milagre? Se houve, a esta altura dos acontecimentos, um milagre a mais, um milagre a menos, já não causa a ninguém surpresa ou mossa. Pode ser também que não tivesse havido troca, apenas dona Flor não bebera o sedativo, e o profundo sono do doutor se devesse tão-somente à chuva no telhado e à sua consciência limpa. Teve tempo apenas de beijar a esposa.
- Encornou… - disse Vadinho, aplicando o termo justo – Agora, nós, meu bem…
- Eu estava nas profundas, preso, de mãos e pés atados, me deu trabalho demais me desamarrar para vir te ver, meu bem. Mas tu me chamou e eu vim atravessando o fogo e o frio, o nada e o não. Chego e tu me nega o pão, a água de beber, por quê?
- Ai, Vadinho…
- Por que tu me trata assim, como a um cão? Terminou meu bem ou hoje ou nunca mais. Quando esse barata tonta aparecer, diz a ele que tu não se sente bem, não está com disposição. Depois a gente vai arrosar a peladinha.
- Ah!, isso não… Sou mulher séria e honrada, não vou trair meu marido, quantas vezes já te disse?
O doutor, saindo do banheiro, no pijama limpo recende a sabonete. Seu aspecto é aprazível, sincero seu sorriso, honesto o olhar. Vadinho colhe na mão a rosa azul de dona Flor. Ah!, dona Flor, como podes ser assim calhorda?
- Teodoro, meu querido, me perdoa por hoje, não me sinto bem estou indisposta. Deixamos para amanhã, se você não se incomoda.
Doente? O doutor se inquieta. Já pela tarde, ela se queixara. Não seria mais que uma simples indisposição? Onde está o termómetro? O xarope, as pílulas, a caixa dos medicamentos? Não preciso de nada disso, meu querido, não te aflijas, vai dormir, amanhã estarei boa, completamente boa…
- … e ao teu dispor… - diz numa promessa dona Flor.
Como posso de repente ser assim, tão sem sentimentos, sem orgulho, sem decência, sem moral? – interroga-se dona Flor, sentindo pelo armado esposo uma ternura grata e um certo gosto pela farsa: na face o beija. Mas doutor Teodoro não se conforma: ela deve tomar um comprimido, umas gotas, um sedativo, ao menos para dormir de um sono só, despertar tranquila e repousada. Vai pelo remédio e pela água. Apenas ele sai, dona Flor sente-se presa de Vadinho.
- Maluco! Me solta, ele já está voltando.
Vadinho considera, objectivo e imparcial:
- Não é mau sujeito, esse teu segundo… Muito ao contrário. Sabe, meu bem, cada vez simpatizo mais com ele… Entre nós dois, tu estás muito bem servida. Ele para penas e cuidados, eu para a gente vadiar…
O doutor trás a moringa de água fresca, dois copos e um pequeno vidro com um líquido incolor:
- Tintura de valeriana, vinte gotas em meio copo de água e você vai dormir e descansar, querida.
Ergue o conta-gotas com atenção e calma mistura o sedativo à água. Alguém trocou os copos enquanto o doutor virou as costas por um instante? Quem, Vadinho ou dona Flor? Mas, se assim foi, como o doutor, farmacêutico e competente, não reconheceu o gosto activo da valeriana? Houve um milagre? Se houve, a esta altura dos acontecimentos, um milagre a mais, um milagre a menos, já não causa a ninguém surpresa ou mossa. Pode ser também que não tivesse havido troca, apenas dona Flor não bebera o sedativo, e o profundo sono do doutor se devesse tão-somente à chuva no telhado e à sua consciência limpa. Teve tempo apenas de beijar a esposa.
- Encornou… - disse Vadinho, aplicando o termo justo – Agora, nós, meu bem…
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