ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS CRISTO Nº 79 SOB O TEMA:
“VIOLÊNCIA OU NÃO VIOLÊNCIA”
RAQUEL - Regressamos a Jerusalém, quando faltam poucos dias para a Páscoa, e continuamos as nossas entrevistas exclusivas colocando-lhe hoje uma questão de premente actualidade: “aprova ou condena a violência?
JESUS - Por que dizes que é tão actual?
RAQUEL - Venha, venha comigo a este quiosque ... Eu leio-lhe as títulos... 47 mortos em dois ataques... Novas ameaças dos EUA no Oriente Médio... Continuam as guerras tribais na África Central... O nosso mundo está muito violento.
JESUS - – E o meu país ... Nestes dias, vi soldados por todo o lado…
RAQUEL - Soldados israelitas que ocupam o território palestino ...
JESUS - Eu também vivi num mundo de muita violência, Raquel...
RAQUEL – Sem dúvida, mas nos filmes, o seu mundo parece sereno, idílico, flores e pássaros.
JESUS - Não, nada disso. Quando eu nasci, o meu país já estava ocupada pelos romanos.
RAQUEL – E isso que significa?
JESUS - Humilhações, morte. E os impostos. No nosso país o pagamento de impostos para o imperador de Roma era muito elevado, um saque.
RAQUEL - Então está familiarizado com o conceito de imperialismo?
JESUS - Muito familiarizado. Vi soldados romanos desde criança. Eles entravam nas aldeias, roubavam e violavam as mulheres. Desprezavam-nos, pensavam que eram os nossos donos.
RAQUEL – Lembra-se de um acontecimento particularmente sangrento?
JESUS - Era jovem quando em Séforis, capital da Galiléia, os romanos crucificaram centenas de rebeldes. Fui lá, vi com os meus próprios olhos. Houve sempre levantamentos contra os romanos.
RAQUEL - Guerrilha, a violência armada?
JESUS - Os romanos tinham espadas, escudos e cavalos. Como lidar com eles sem armas? Na Galiléia, na minha terra, nasceu o movimento dos zelotes, um grupo armado.
RAQUEL - O principal foco de resistência?
JESUS - Não, tinham antecedentes. Foram inspirados pelos Macabeus, que se levantaram contra o império grego cem anos antes. Minha mãe pôs o nome de Simão a um dos meus irmãos em homenagem a um grande chefe Macabeu.
RAQUEL - E o senhor envolveu-se nessa resistência?
JESUS - Todos nós participámos de uma forma ou de outra. Aninhados na luta ou a encobrir os combatentes. As mulheres levavam comida para os rebeldes que estavam escondidos nas cavernas da Arbel, eu lembro-me…
RAQUEL - E o senhor?
JESUS – Em criança levava mensagens. Avisava onde estavam os soldados... Em jovem, apoiei várias vezes, sim.
RAQUEL - Era um movimento nacionalista?
JESUS - Foi. Nós queríamos um país livre, sem romanos.
RAQUEL - Os zelotes eram um partido político?
JESUS – Estavam muito bem organizados. Faziam atentados. Muito corajosos mas muito fanáticos.
RAQUEL - E no seu grupo ... o senhor admitiu essas pessoas?
JESUS - Eu declarei o Reino de Deus na Galiléia e os primeiros que aderiram foram conterrâneos meus, do norte. Alguns eram fanáticos ou tinham sido. Eu não lhes perguntava sobre isso.
RAQUEL - Voltando ao ponto de partida ... Vocês aprovavam ou condenavam a violência?
JESUS - A ocupação do meu país pela força militar foi a violência. Os impostos recolhidos pelos romanos retirados do suor nosso povo foi também a violência.
RAQUEL - Numa mensagem, um ouvinte lembrou que Oscar Romero, que foi bispo de São Salvador, um santo de verdade, distinguiu entre a violência institucionalizada daqueles que estão no poder e "resposta violenta" daqueles que resistem. O que acha o senhor disto?
JESUS - Que é bem dito. Porque não podem ser medidos pelos mesmos padrões a violência dos que estão por cima com a resposta dos que estão por baixo. No meu tempo, como usar a mesma medida com os romanos e os zelotes?
RAQUEL - Que dirá o presidente dos EUA destas declarações, o que dirão os da União Europeia? Será que abrirão uma pasta especial contra o terrorismo internacional, acusando Jesus Cristo? De Jerusalém, Raquel Pérez, Emissoras Latinas.
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