TEREZA
BATISTA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 10
No castelo irá conhecer madame Gertrude, uma francesa que com o dinheiro ali ganho, comprara terras e casa na Alsácia, pretendendo voltar à pátria no próximo ano para casar-se e ter filhos, se Deus quisesse e ajudasse.
Abanava-se com o leque e um perfume forte, almiscarado, pesa no ar quente da tarde de Verão. Tereza ouvira em silêncio a proposta completa, com as diversas e sedutoras opções, demonstrando cortês interesse. Quando Veneranda ao terminar alargou o sorriso, Tereza lhe disse:
- Já fiz a vida, não vou esconder, posso voltar a fazer se tiver necessidade. No momento não necessito, mas lhe agradeço. Pode ser que um dia… – Aprendera maneiras com o doutor, quando lhe ensinavam uma coisa não a esquecia; na escola primária a professora Mercedes elogiava-lhe a inteligência viva e o gosto pelo estudo.
- Nem mesmo uma vez ou outra, bem paga, sem obrigação diária, para atender o capricho de alguém colocado lá em cima? Sabe que a minha casa é frequentada pelo melhor que há em Aracajú?
- Já ouvi falar, mas de momento não me interessa. Desculpe.
Veneranda mordeu o cabo do leque, descontente. Uma novidade daquelas, com ar de cigana na beleza singular, precedida de crónica picante, pão-de-ló para os últimos dentes ou as dentaduras de certos e determinados fregueses, dinheiro em caixa, em caixa e a rodo.
- Se um dia se decidir é só me procurar. Qualquer pessoa lhe diz onde é.
Muito obrigado; mais uma vez me desculpe.
Da porta da rua Veneranda se voltou:
- Sabe que conheci muito o capitão? Era freguês lá de casa.
Fechou-se em sombra o rosto de Tereza, o crepúsculo desceu de chofre sobre a cidade:
- Eu nunca conheci nenhum capitão.
- Ah! não? – Veneranda riu e se foi.
5
Ai! nenhum lhe toca o coração, nenhum lhe desperta o desejo dormido, acende a recôndita centelha! Para amigo, sim, qualquer deles: o rábula, o poeta, o pintor, o dentista, o cabaretier; para amante, não. Quem se conforma com amizade de mulher bonita? Coisas do coração, quem as pode entender e explicar?
Vasto mundo de Aracajú, onde andará o gigante? Aquele caboclo trigueiro, saído das águas, queimado de mar e vento, que fim levou ele? Apenas pressentido, entrevisto no fuzuê e no trago comemorativo, em boteco de fim de rua, fim de noite. Na madrugada sumiu, na luz primeira de antes do amanhecer; sendo os dois da mesma cor, de idêntica matéria, na aurora o gigante se dissolveu. Da janela do táxi, Tereza ainda o viu envolto na luz difusa, resto da noite, princípio do dia: tocava no chão a ponta dos pés, os braços no mar, os cabelos uma nuvem crespa de chuva no céu azul-escuro. Prometera voltar.
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