quarta-feira, janeiro 12, 2011

TEREZA BATISTA

CANSADA
DE GUERRA




Episódio Nº 2


Difícil para Tereza Batista foi aprender a chorar, pois nasceu para rir e alegre viver. Não quiseram deixar, mas ela teimou, teimosa que nem um jegue essa tal de Tereza Batista. Mal comparando, seu moço, pois de jegue não tinha nada afora da teimosia; nem mulher macho, nem paraíba, nem boca suja – ai, boca mais linda e perfumosa! – nem jararaca, nem desordeira, nem puxa-briga; se alguém assim lhe informou, ou quis lhe enganar ou não conheceu Tereza Batista. Tirana só em tratos de amor; como já disse e reafirmo, nasceu para amar e no amor era estrita.

Por que então a chamaram de Tereza Boa de Briga? Pois, meu compadre, exactamente por ser boa de briga, igual a ela não houve em valentia e altivez, nem coração tão de mel. Tinha aversão a badernas, nuca promoveu arruaças, mas, de certo pelo sucedido em menina, não tolera ver homem bater em mulher.


2


A badalada estreia de Tereza Batista no cabaré Paris Alegre, situado no Vaticano, na área do cais Aracajú, no país de Sergipe del-Rey, teve de ser adiada por alguns dias devido a trabalhos de prótese dentária efectuados na própria estrela do espectáculo, com evidente prejuízo para Floriano Pereira, em geral conhecido por Flori Pachola, o dono do negócio, maranhense de fibra. Flori aguentou firme, não se queixando nem pondo culpa levianamente em Fulano ou Beltrano, como de hábito acontece em tais casos.

A estreia da estrela cadente do samba – o Pachola era um porreta na propaganda, sem rival na invenção de frases e slogans publicitários – despertara evidente interesse, sendo o nome de Tereza Batista já de muitos conhecido, sobretudo em certos meios, na boca dos viajantes, no mercado, no porto, na zona em geral.

Fora o doutor Lulu Santos quem trouxera Tereza Batista à presença de Flori; doutor para os pobres, em verdade rábula celebrado em todo Sergipe, principalmente pela defesa nos júris, pelos epigramas corrosivos e por frases de espírito – seus admiradores atribuíam-lhe a autoria de quanto dito gracioso já existiu – se bem fosse de igual competência no cível e na cerveja: todas as tardes no Café e Bar Egipto despachando clientes, rindo dos fátuos e traçando gramotas, por entre fumaça de permanente charuto. A paralisia infantil aleijara-lhe as pernas e Lulu santos locomovia-se apoiado em duas muletas, fazendo-o no maior contentamento, com inalterável bom humor.

Amizade de longa data o ligava a Tereza Batista: consta ter sido ele quem há vários anos passados viajou ao interior da Bahia, a pedido e por conta do doutor Emiliano Guedes, dono de usina na divisa e de muitas terras nos dois estados, hoje falecido (e de que forma prazenteira!), com o fim de liquidar processo aberto contra Tereza, ilegal por ser ela menor de idade, mas nada disso vem ao caso nem aqui interessa a não ser a amizade da moça e do rábula, cujo rábula sozinho vale por uma turma inteira de bacharéis em Direito, com quadro de formatura, paraninfo, discurso, borla e capelo.

Casa cheia, muita animação, ambiente festivo e rumoroso. O Jazz-Band da Meia-Noite se desdobra, a freguesia gastando na cerveja, na batida, no uísque. No cabaré Paris Alegre a “juventude doirada de Aracajú se diverte a preços razoáveis” segundo os prospectos fartamente distribuídos na cidade, entendendo-se por juventude doirada de Aracaju empregados no comércio e nos escritórios, estudantes, funcionários públicos, caixeiros-viajantes, o poeta José Saraiva, o jovem pintor Jenner Augusto, uns quantos formados, outros tantos vagabundos e múltiplos profissionais do ofício e idade variável, alguns prolongando a juventude doirada além dos sessenta
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