TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 45
Ainda a sorrir vai pela bandeja de flandres. Na passagem à tia segura-a pelo braço, volta-a de costas e de frente, a exibi-la como sem querer.
- Que modos são esses, não enxerga a visita? Primeiro peça a bênção ao capitão.
Tereza toma da mão gorda e suarenta, roça os lábios nos dedos pejados de anéis de ouro e brilhante, repara no mais lindo de todos, um de pedra verde:
- A bênção, seu capitão.
- Deus lhe abençoe – A mão toca a cabeça da menina, desce pelo ombro.
Tereza diante de Rosalvo, o joelho no chão:
- A bênção, meu tio.
Um nó de raiva estrangula a garganta de Rosalvo: ah! um sonho acalentado tantos e tantos anos, vendo-a crescer, formar-se dia a dia, adivinhando a beleza rara, reprodução para melhor do que fora a mãe Marieta, um esplendor, e a tia Filipa, nos tempos de moça, um desvario, a ponto de ele, Rosalvo, tirá-la da vida e casar-se com ela. Há quanto tempo vem contendo a pressa, acumulando-se essa ânsia, preparando seus planos?
De repente, lá se ia tudo por água abaixo, na porta o caminhão espera com Terto Cachorro no volante. Desde a primeira visita do capitão, Rosalvo se deu conta. Então, por que diabo não agiu, não adiantou o relógio, a folhinha, o calendário da morte? Porque o tempo ainda não chegou, ela é uma criança impúbere, quem bem sabe é Rosalvo, sou eu quem bem sabe, espio pela madrugada, ainda não é tempo dela conhecer homem, Filipa, e não se vende uma sobrinha, a filha órfã de uma falecida irmã. Todos estes anos tenho esperado na paciência e no desejo, Filipa, e a casa do capitão, tu bem sabe, é um inferno. A filha da tua irmã, Filipa, o que tu vai fazer é um pecado, um pecado mortal, tu não tem medo do castigo de Deus?
- tá ficando uma moça – comenta Justiniano Duarte da Rosa, a língua humedecendo os lábios grossos, um brilho amarelo nos olhos miúdos.
- Já é moça, declara Filipa, assumindo as negociações. Mas é mentira, tu sabe que é mentira, Filipa, puta velha desgraçada, sem coração, ainda não chegou seu tempo de lua, não verteu sangue, é uma criança, tua sobrinha de sangue.
Rosalvo tapa a boca com a mão para não gritar. Ah! se já fosse moça, capaz de aceitar homem, eu a teria tomado por mulher, tenho tudo preparado, só falta cavar a cova para te enterrar, Filipa miserável, peito sem compaixão, mercadejando a sobrinha.
Rosalvo baixa a cabeça, maior que a decepção e a raiva é o medo.
O capitão estira as pernas curtas, esfrega as mãos uma na outra, pergunta:
- Quanto, comadre?
Pelos lados da cozinha, Tereza sumiu. Reaparece no quintal, às voltas com o cachorro, correm os dois, rolam no chão. Ladra o cão, Tereza ri, também ela um animal do campo, sadio e inocente. O capitão Justo toca seu colar de cabaços, os olhos miúdos, quase fechados:
- Diga quanto.
Ainda a sorrir vai pela bandeja de flandres. Na passagem à tia segura-a pelo braço, volta-a de costas e de frente, a exibi-la como sem querer.
- Que modos são esses, não enxerga a visita? Primeiro peça a bênção ao capitão.
Tereza toma da mão gorda e suarenta, roça os lábios nos dedos pejados de anéis de ouro e brilhante, repara no mais lindo de todos, um de pedra verde:
- A bênção, seu capitão.
- Deus lhe abençoe – A mão toca a cabeça da menina, desce pelo ombro.
Tereza diante de Rosalvo, o joelho no chão:
- A bênção, meu tio.
Um nó de raiva estrangula a garganta de Rosalvo: ah! um sonho acalentado tantos e tantos anos, vendo-a crescer, formar-se dia a dia, adivinhando a beleza rara, reprodução para melhor do que fora a mãe Marieta, um esplendor, e a tia Filipa, nos tempos de moça, um desvario, a ponto de ele, Rosalvo, tirá-la da vida e casar-se com ela. Há quanto tempo vem contendo a pressa, acumulando-se essa ânsia, preparando seus planos?
De repente, lá se ia tudo por água abaixo, na porta o caminhão espera com Terto Cachorro no volante. Desde a primeira visita do capitão, Rosalvo se deu conta. Então, por que diabo não agiu, não adiantou o relógio, a folhinha, o calendário da morte? Porque o tempo ainda não chegou, ela é uma criança impúbere, quem bem sabe é Rosalvo, sou eu quem bem sabe, espio pela madrugada, ainda não é tempo dela conhecer homem, Filipa, e não se vende uma sobrinha, a filha órfã de uma falecida irmã. Todos estes anos tenho esperado na paciência e no desejo, Filipa, e a casa do capitão, tu bem sabe, é um inferno. A filha da tua irmã, Filipa, o que tu vai fazer é um pecado, um pecado mortal, tu não tem medo do castigo de Deus?
- tá ficando uma moça – comenta Justiniano Duarte da Rosa, a língua humedecendo os lábios grossos, um brilho amarelo nos olhos miúdos.
- Já é moça, declara Filipa, assumindo as negociações. Mas é mentira, tu sabe que é mentira, Filipa, puta velha desgraçada, sem coração, ainda não chegou seu tempo de lua, não verteu sangue, é uma criança, tua sobrinha de sangue.
Rosalvo tapa a boca com a mão para não gritar. Ah! se já fosse moça, capaz de aceitar homem, eu a teria tomado por mulher, tenho tudo preparado, só falta cavar a cova para te enterrar, Filipa miserável, peito sem compaixão, mercadejando a sobrinha.
Rosalvo baixa a cabeça, maior que a decepção e a raiva é o medo.
O capitão estira as pernas curtas, esfrega as mãos uma na outra, pergunta:
- Quanto, comadre?
Pelos lados da cozinha, Tereza sumiu. Reaparece no quintal, às voltas com o cachorro, correm os dois, rolam no chão. Ladra o cão, Tereza ri, também ela um animal do campo, sadio e inocente. O capitão Justo toca seu colar de cabaços, os olhos miúdos, quase fechados:
- Diga quanto.
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