terça-feira, março 15, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA


Episódio Nº 55


Vaidosas, exibiam-lhe manchas roxas no pescoço, lábios mordidos. Em silêncio, sem risos nem comentários, Dóris escutava. Nenhum moço a convidara a uma volta atrás do outeiro.

Eis que de repente o capitão, homem rico e maduro, considerado solteirão definitivo, bugalhava os olhos na magrela, quem havia de dizer! O capitão Justo, homem de má fama, de péssima fama, pior não podia ser. Respeitado, sem dúvida, pelo dinheiro e pelos capangas, chefete municipal matreiro, prepotente, violento, sanguinário. Inclusive o doutor Ubaldo que antes de se meter em política não dizia mal de ninguém, benevolente ao extremo para os defeitos alheios, nunca tolerou Justiniano, “um monstro” segundo ele. Uma das razões da eleição do doutor, candidato da oposição, foi a coragem de denunciar nos comícios o conluio entre o antigo prefeito, o delegado e o capitão, associados contra a cidade.

Tantas e tais coisas tornaram-se públicas, tamanho foi o escândalo, a ponto de sensibilizar os Guedes, espécie de grei protectora da cidade, levando-os a retirar o apoio decisivo à “tenebrosa clique no poder”. Eleito, o doutor pouco ou nada pôde fazer contra os acusados, falto de provas e de solidariedade; contentou-se em administrar honradamente, em demasia, na opinião dos Guedes.

Tudo deve ter seu limite, inclusivé a honra administrativa, e ai daquele político incapaz de distinguir tais subtilezas da vida pública, curta será sua carreira.

De longe, dos campos de cana, da casa-grande da usina de açúcar, os Guedes primeiro elegeram, depois derrotaram o doutor Ubaldo Curvelo, incontinente da honradez.

O capitão Justo andara de corda curta durante aqueles anos, passara pelo dissabor de ver dois cabras seus serem presos numa rinha de galos.

Quando o doutor Ubaldo, nas eleições seguintes, foi vencido, Justiniano Duarte da Rosa atravessara a rua principal e a praça da Matriz montado a cavalo, descarregando a garrucha para o ar. O novo prefeito nem sequer tomara posse, já o medo se impunha novamente nas patas dos cavalos, nos tiros de revólver.

Pois não era outro senão Justiniano Duarte da Rosa, mais conhecido como capitão Justo, quem vinha pela calçada de olho na menina. Fora visto inclusivé na Matriz, ao crepúsculo, na hora da bênção: os olhos de suíno cravados em Dóris.

Dona Brígida põe as mãos na cabeça – que fazer, meu Deus? Vontade de correr a discutir com o padre Cirilo, com a comadre Teca Meneses, com o farmacêutico Trigueiros, mas a prudência a contém. Antes de sair comentando, deve estudar o assunto em todos os detalhes, sobra-lhe matéria para muita reflexão.

Sentadas em cadeiras, na calçada, após o jantar, a viúva e as vizinhas gozam a fresca da noite na diversão maior, inigualável – retalhar a vida alheia. Dóris ouve calada. No crivo das comadres não há perdão nem imunidade: os comerciantes uns ladrões, os maridos uns calhordas, as moças umas desavergonhadas, sem falar nos adultérios e nos mansos cornudos.

Ao ressoar dos passos do capitão, fez-se silêncio, nervoso, excitado silêncio, todos os olhos fitos em Justiniano e os dele fitos em Dóris. Dona Brígida pensou em levantar-se e ostensivamente retirar a filha do passeio, levá-la para dentro, bater a porta. A prudência, porém, a conteve mais uma vez, respondeu amável ao boa-noite do monstro e lhe sorriu.

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