TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 109
Na pressa de se vestir nem se lavou o capitão; quando Tereza veio com a bacia cheia, já ele enfiara a cueca, após limpar-se com a ponta do lençol. Tereza põe a calçola, quem lhe dera tomar um banho; fizera-o antes, terminada a labuta da casa e no armazém, bombeando água do poço para a pequena caixa do banheiro. Tereza de joelhos, calça meias e sapatos no capitão; depois vai-lhe passando a camisa, as calças, a gravata, o paletó, por último o punhal e o revólver.
Terto Cachorro espera na boleia do caminhão, em frente ao armazém; motorista, capanga e parceiro festejado nas danças, tocador de harmónica e o xaxado um porreta. Chico Meia-Sola já saíra para a interminável maratona da noite de São João; de casa em casa, bebendo aguardente, conhaque, licores – de jenipapo, de caju, de jurubeba, não faz questão de espécie ou marca. Pela manhã arrastar-se-á para a cama-de-vento num dos cubículos da casa, de mistura com fardos de carne seca, sacos de peixe salgado, o chão lamacento e as moscas incontáveis; se não fosse escornado em quarto de rapariga no derradeiro bordel da Cuia Dágua.
De branco trajado como ordena o figurino, um manda chuva, um prócer, ajeitando o laço da gravata, o capitão considerou por um instante a possibilidade de levar Tereza consigo, metida num vestido de Dóris, de pouco uso; moleca bonita, estampa digna de ser exibida no baile de Mundinho Rompe-Mato. Encontrando-se na usina pelo São João, o doutor Emiliano Guedes sempre dava um pulo com parentes e convidados no fandango de Alicate para mostrar aos hóspedes da capital “uma típica festa junina de roça!” A demora era pouca, um trago, uma contradança e o regresso aos luxos da casa da usina, mas o doutor, confiando o bigode, pesava com olhos de conhecedor a mulherada presente, Raimundo atento a qualquer demonstração de interesse, ao menor sinal de agrado, para tratar dos pormenores e colocar a escolhida à disposição do dono da terra.
O capitão gostaria de ostentar a moleca Tereza na vista e na inveja do mais velho dos Guedes, do senhor das Cajazeiras do Norte. Mas o doutor Emiliano anda em viagem de turismo pelas estranjas, recém embarcou e só voltará meses depois. Ainda assim o capitão chega a entreabrir os lábios para dar ordens a Tereza de se trajar para a festa, após medi-la da cabeça aos pés aprovativo.
Tereza adivinhando-lhe as intenções, foi novamente tomada de medo, não mais de maus-tratos e nojos de cama, um medo ainda maior: se o capitão a levasse, ficaria o moço esperando na chuva, junto ao portão do quintal, para sempre impossível a festa prometida, nunca mais aquela chama no peito, a lã de cabelo, a boca de cócegas.
Doutor Emiliano se divertia com as gringas na França e, ademais, se na festa aparecesse uma novidade, um pitéu, menina ao agrado do capitão e ele quisesse levá-la para a roça? Que fazer de Tereza? Pô-la de volta no caminhão, sozinha com Terto Cachorro? Mulher de Justiniano Duarte da Rosa não anda sozinha de noite com outro homem; embora cabra de confiança, não lhe consta fosse Terto capado e o diabo atenta no escuro. Mesmo não acontecendo nada, o povo espalha que aconteceu o pior, e quem pode provar o contrário? Justiniano Duarte da Rosa não nasceu para cabrão; dele tudo se pode dizer e tudo se diz pelas costas. Tratam-no de bandido cruel, de sedutor de menores, deflorador e tarado, de ladrão de terras, de gatuno no peso e nas contas, de trapaceiro nas rinhas de galo, de criminoso de morte – pelas costas, porque de frente cadê coragem? Nunca, porém o acusaram de corno, de chifrudo, devoto de São Cornélio, cabrão enganado por fêmea. Nem de corno nem de chibungo, nem de beija-flor chupador de xibiu. O jovem Daniel, com aquela cara de boneco, conversa malandra, olhos melosos, fama de gigolô, é bem capaz de lamber quirica, ora se é, o capitão não se engana.
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Terto Cachorro espera na boleia do caminhão, em frente ao armazém; motorista, capanga e parceiro festejado nas danças, tocador de harmónica e o xaxado um porreta. Chico Meia-Sola já saíra para a interminável maratona da noite de São João; de casa em casa, bebendo aguardente, conhaque, licores – de jenipapo, de caju, de jurubeba, não faz questão de espécie ou marca. Pela manhã arrastar-se-á para a cama-de-vento num dos cubículos da casa, de mistura com fardos de carne seca, sacos de peixe salgado, o chão lamacento e as moscas incontáveis; se não fosse escornado em quarto de rapariga no derradeiro bordel da Cuia Dágua.
De branco trajado como ordena o figurino, um manda chuva, um prócer, ajeitando o laço da gravata, o capitão considerou por um instante a possibilidade de levar Tereza consigo, metida num vestido de Dóris, de pouco uso; moleca bonita, estampa digna de ser exibida no baile de Mundinho Rompe-Mato. Encontrando-se na usina pelo São João, o doutor Emiliano Guedes sempre dava um pulo com parentes e convidados no fandango de Alicate para mostrar aos hóspedes da capital “uma típica festa junina de roça!” A demora era pouca, um trago, uma contradança e o regresso aos luxos da casa da usina, mas o doutor, confiando o bigode, pesava com olhos de conhecedor a mulherada presente, Raimundo atento a qualquer demonstração de interesse, ao menor sinal de agrado, para tratar dos pormenores e colocar a escolhida à disposição do dono da terra.
O capitão gostaria de ostentar a moleca Tereza na vista e na inveja do mais velho dos Guedes, do senhor das Cajazeiras do Norte. Mas o doutor Emiliano anda em viagem de turismo pelas estranjas, recém embarcou e só voltará meses depois. Ainda assim o capitão chega a entreabrir os lábios para dar ordens a Tereza de se trajar para a festa, após medi-la da cabeça aos pés aprovativo.
Tereza adivinhando-lhe as intenções, foi novamente tomada de medo, não mais de maus-tratos e nojos de cama, um medo ainda maior: se o capitão a levasse, ficaria o moço esperando na chuva, junto ao portão do quintal, para sempre impossível a festa prometida, nunca mais aquela chama no peito, a lã de cabelo, a boca de cócegas.
Doutor Emiliano se divertia com as gringas na França e, ademais, se na festa aparecesse uma novidade, um pitéu, menina ao agrado do capitão e ele quisesse levá-la para a roça? Que fazer de Tereza? Pô-la de volta no caminhão, sozinha com Terto Cachorro? Mulher de Justiniano Duarte da Rosa não anda sozinha de noite com outro homem; embora cabra de confiança, não lhe consta fosse Terto capado e o diabo atenta no escuro. Mesmo não acontecendo nada, o povo espalha que aconteceu o pior, e quem pode provar o contrário? Justiniano Duarte da Rosa não nasceu para cabrão; dele tudo se pode dizer e tudo se diz pelas costas. Tratam-no de bandido cruel, de sedutor de menores, deflorador e tarado, de ladrão de terras, de gatuno no peso e nas contas, de trapaceiro nas rinhas de galo, de criminoso de morte – pelas costas, porque de frente cadê coragem? Nunca, porém o acusaram de corno, de chifrudo, devoto de São Cornélio, cabrão enganado por fêmea. Nem de corno nem de chibungo, nem de beija-flor chupador de xibiu. O jovem Daniel, com aquela cara de boneco, conversa malandra, olhos melosos, fama de gigolô, é bem capaz de lamber quirica, ora se é, o capitão não se engana.
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