terça-feira, maio 24, 2011

TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA

Episódio Nº 108


Raimundo Alicate matava um porco, um cabrito, um carneiro, galinhas e frangos, festa de muita comilança. Cavaquinhos, harmónicas e violas, valsas, xotes, polcas, mazurcas, foxes e sambas-de-roda, música e dança a noite inteira. O capitão puxava quadrilha, bom de baile não perdia vez; bom de bebida, bom de garfo e olho a buscar no meio da concorrência material a seu gosto; quando se decidia, Raimundo, interesseiro e adulador, se encarregava do acerto. Daquela festa nunca saíra o capitão de mãos abanando.

Tereza engomara o terno branco, a camisa azul. A roupa lavada e passada, disposta em cima da cama, na beira, sentado nu, o capitão. Tereza lava e enxuga-lhe os pés, depois sai para esvaziar a bacia, trémula de medo. Não era o medo habitual de maus-tratos e pancada; hoje teme que ele, como soía fazer, a mande deitar, abrir as pernas, e nela se espoje antes de se vestir para a festa. Hoje não, meu Deus! Desagradável, penosa obrigação. Tereza submissa a cumpre quase todos os dias, no receio do castigo. Mas hoje, não, meu Deus! Que ele não se lembre!

Caso o capitão ordene, terá de obedecer, não há como se opor. Não adianta sequer mentir, dizendo-se incomodada, em dia de paquete; Justiniano adora tê-la nas regras, se excita ao ver o sangue machucado do mênstruo dizendo ao derrubá-la: é a guerra! (outra expressão aprendida com Veneranda). Viva a guerra! Assim sucede desde que o sangue da vida irrompera pela primeira vez, tornando-a mulher capaz. É a guerra, sujeira e nojo, fazendo-se nesses dias mais penosa a obrigação. Mas hoje seria ainda mais terrível. Hoje, não, meu Deus do Céu!

Regressa ao quarto; ai, meu deus! o capitão mudou da cama para a cadeira as peças de roupa, estirado ao comprido, o tronco forte, o corpo cevado, à espera – apenas o colar de argolas sobre os peitos gordos. Tereza sabe qual a sua obrigação – se o capitão se deitou deve ela deitar-se também, sem aguardar ordens. Desobedecer é impossível. Morta de medo, do medo permanente de apanhar, ainda assim Tereza, como se não o visse, anda em busca de roupa.

- Onde diabo vai? Por que não deita?

Marcha para a cama com pés de chumbo, por dentro um engulho, pior do que nos dias do incómodo – mas não tem jeito a dar, retira a calçola com a mão lenta.

- Depressa. Vamos!

Sobe na cama, deita-se, a mão pesada toca-lhe na coxa, abrindo-lhe as pernas. Tereza se contrai, um bolo na garganta; sempre lhe foi custoso, nunca tanto assim, porém; hoje é por demais, é outro sofrimento, maior, dói o coração. Quando ele a cobre e cavalga, a resistência interior é tamanha a ponto de lhe trancar as portas do corpo por ele arrombadas na porrada há mais de dois anos.

- ‘tá ficando donzela de novo ou será que tu andou passando pedra-ume? Assim faz Veneranda com as furadas de pouca idade, lasca-lhes pedra-ume na quirica para enganar os trouxas.

Para o capitão foi quase tão bom como quanto cabaço novo. Tereza, tensa, dura. Não mais aquele corpo amorfo, largado, inerte; agora, reteso, difícil, resistente – finalmente participando, pensa satisfeito o capitão, sentindo-se mais uma vez vitorioso sobre a rebelde natureza da menina, macho igual a ele não há outro.

De tão excitado, na hora de gozo, tomou-lhe da boca. Boca amarga, de fel.
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