terça-feira, junho 14, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA


DE


GUERRA


Episódio Nº 126




Foram oito noites exactas na cama do capitão, sendo que uma delas se prolongou pelo começo da manhã de domingo, enquanto Chico Meia-Sola curtia o porre da véspera.

No sábado à noite bebera duas garrafas de cachaça, mas o fizera no armazém – o patrão em viagem, ele não abandonava por nada deste mundo as mercadorias entregues à sua guarda.

Logo após o sino da igreja de Sant’Ana badalar as nove da noite, limite para os namoros, para o fútingue das moças na praça., Daniel chegava ao portão do quintal. Partia antes do sol raiar, nas últimas sombras. Durante a tarde (dormia de estirada até à hora de almoço, indo merendar com as irmãs Morais, dava uma entrada a pretexto de pedir a Chico notícias do capitão – ainda não telegrafou dando a data da chegada, doutorzinho. Cigarros americanos para Pompeu e Papa-Moscas, um níquel para Chico, derretidos em Tereza os olhos de quebranto.

Engordando nos doces e canjicas, confundindo as quatro irmãs com as reticentes conversas, com os gestos indecisos – as três mais velhas a suspirar, Teodora só faltando arrastá-lo a pulso para a cama – quem sabe, não fosse o turbilhão de Tereza, e Daniel faria o favor a Teó, merecedora por graciosa e estouvada.

Mas quem cavalga Tereza e por ela se deixa cavalgar, quem a faz transpor as portas da alegria e lhe ensina a cor da madrugada, noutra não pode pensar. Violada há cerca de dois anos e meio, possuída pelo capitão quase todos os dias, fechada no medo, conservara-se inocente, pura e crédula. De repente despertada mulher, nessas rápidas noites de veloz transcurso, abriu-se em poço de infinito prazer, floresceu em beleza. Antes era formosa menina, graça adolescente e simples, agora o óleo do prazer banhara-lhe rosto e corpo, o gosto e a alegria do amor acenderam-lhe nos olhos aquele fogo do qual o doutor Emiliano Guedes percebera o fulgor meses atrás.

Fora disso aprendeu também algumas palavras de ternura, as variações do beijo, o segredo de certas carícias. Não sendo pouco para quem nada tinha, não foi muito, pois tudo se passou num átimo de tempo, depressa de mais, a juventude de Dan não lhe permitia completa maestria no ofício, aquela lenta dilatação do prazer, a subtileza maior, a posse na maciota, devagar, bem devagar. Impetuoso e sôfrego, Daniel sabia a tacanha medida dessa aventura de férias no interior, o breve tempo de Tereza.

Tereza nada sabia nem desejava adivinhar, discutir, tirar a limpo. Tê-lo a seu lado, rolar na cama presa em seus braços, ser por ele montada e nele montar, satisfazer-lhe os desejos, paga na mesma moeda, escrava e rainha, que mais há-de querer? Ir embora com ele, certamente; mas havendo trato feito nesse sentido, estava o assunto encerrado, não cabendo perguntas ou discussão. Daniel, um anjo do céu, um deus menino, perfeição.

Prometera levá-la consigo, libertando-a da canga do capitão. Porque não imediatamente, enquanto Justiniano viaja? Tinha de esperar um dinheiro da Bahia, operação de pouca demora.

Promessa vaga, explicação ainda mais, de concreto as afirmações de valentia: meta-se o capitão a besta e aprenderá quem é homem de verdade, qual a diferença entre coragem e basófia.
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