TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 142
K
K Te Espero, anuncia sobre a porta a tabuleta primitiva, pedaço de madeira com letras rabiscadas em tinta negra: não vale melhor reclame o ínfimo boteco, nem sequer iluminado à luz eléctrica, bastando-lhe um lampião fumacento. Alguns homens bebem cachaça, mascam fumo de corda em companhia de duas mulheres. Parecem avó e neta, a velha Gregória e a menina Cabrita, esverdeada e ossuda, são duas raparigas à espera de freguês, de um níquel, qualquer quantia por menor que seja, nem todas as noites obtêm acompanhante.
Zacarias atravessa a porta, um rapagão alugado nas terras vizinhas, na fazenda do coronel Simão Lamego; encosta-se ao balcão, o lampião a lhe iluminar o rosto. Missu, dono do negócio, levanta as sobrancelhas numa pergunta muda.
Dois dedos da pura.
Missu serve a cachaça na medida do trabalhador agora a examinar com interesse a menina de pé contra a parede; viera para isso, para derrubar uma quenga, não o faz há um mês, falto de recursos. Limpa a boca com as costas da mão antes de tomar a pinga. Os olhos de Missu descem da face para mão do freguês. Zacarias levanta o copo grosso, abre a boca, as pústulas fazem-se mais visíveis em cima e em baixo dos lábios.
Missu conhece a bexiga de íntimo convívio: tivera alastrim forte, escapara com vida, mas as marcas cobrem-lhe a pele do rosto e do corpo. Zacarias emborca a cachaça, pousa o copo no balcão, cospe no chão de barro batido, paga, volta os olhos para a menina. Missu, recolhe o níquel, fala:
- Se mal lhe pergunto, o amigo já se deu conta que está com bexiga?
- Bexiga? Bexiga, nada. Umas perebas.
A velha Gregória tinha-se aproximado do trabalhador na expectativa: caso não se agrade da menina talvez ele a escolha, para ela faz-se cada vez mais difícil arranjar cliente. Ao ouvir Missu, fita a cara do rapaz, também ela entende do assunto, atravessara mais de um surto de varíola, sem nunca pegar doença, quem sabe porquê? Não há dúvida, bexiga e da negra. Afasta-se rápida e de passagem para a porta, segurando cabrita pelo braço, consigo a arrasta.
- Ei! Pra onde vão? Pare aí, dianho – Ainda reclama Zacarias.
As mulheres somem na escuridão. O trabalhador faz face aos homens de cabeça baixa, mascando fumo: fala para todos:
- Umas perebas, coisa à toa.
- Para mim é bexiga – repõe Missu – e é mais melhor vosmicê ir logo no doutor. Pra ver se ainda dá tempo.
Zacarias percorre a pequena peça com o olhar, os homens em silêncio; contempla depois as mãos, estremece, sai para fora.
Na distância, a velha Gregória arrastando à força a menina Cabrita, que resiste sem perceber porque motivo a velha não lhe permite atender ao moço e ganhar o dinheiro vasqueiro, cada dia mais vasqueiro, não sendo tempo de se desprezar freguês.
O fedor do pântano, a lama do chão, imenso céu de estrelas, Zacarias curvado, andando às pressas em direcção do centro da cidade. (clik na imagem)
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K Te Espero, anuncia sobre a porta a tabuleta primitiva, pedaço de madeira com letras rabiscadas em tinta negra: não vale melhor reclame o ínfimo boteco, nem sequer iluminado à luz eléctrica, bastando-lhe um lampião fumacento. Alguns homens bebem cachaça, mascam fumo de corda em companhia de duas mulheres. Parecem avó e neta, a velha Gregória e a menina Cabrita, esverdeada e ossuda, são duas raparigas à espera de freguês, de um níquel, qualquer quantia por menor que seja, nem todas as noites obtêm acompanhante.
Zacarias atravessa a porta, um rapagão alugado nas terras vizinhas, na fazenda do coronel Simão Lamego; encosta-se ao balcão, o lampião a lhe iluminar o rosto. Missu, dono do negócio, levanta as sobrancelhas numa pergunta muda.
Dois dedos da pura.
Missu serve a cachaça na medida do trabalhador agora a examinar com interesse a menina de pé contra a parede; viera para isso, para derrubar uma quenga, não o faz há um mês, falto de recursos. Limpa a boca com as costas da mão antes de tomar a pinga. Os olhos de Missu descem da face para mão do freguês. Zacarias levanta o copo grosso, abre a boca, as pústulas fazem-se mais visíveis em cima e em baixo dos lábios.
Missu conhece a bexiga de íntimo convívio: tivera alastrim forte, escapara com vida, mas as marcas cobrem-lhe a pele do rosto e do corpo. Zacarias emborca a cachaça, pousa o copo no balcão, cospe no chão de barro batido, paga, volta os olhos para a menina. Missu, recolhe o níquel, fala:
- Se mal lhe pergunto, o amigo já se deu conta que está com bexiga?
- Bexiga? Bexiga, nada. Umas perebas.
A velha Gregória tinha-se aproximado do trabalhador na expectativa: caso não se agrade da menina talvez ele a escolha, para ela faz-se cada vez mais difícil arranjar cliente. Ao ouvir Missu, fita a cara do rapaz, também ela entende do assunto, atravessara mais de um surto de varíola, sem nunca pegar doença, quem sabe porquê? Não há dúvida, bexiga e da negra. Afasta-se rápida e de passagem para a porta, segurando cabrita pelo braço, consigo a arrasta.
- Ei! Pra onde vão? Pare aí, dianho – Ainda reclama Zacarias.
As mulheres somem na escuridão. O trabalhador faz face aos homens de cabeça baixa, mascando fumo: fala para todos:
- Umas perebas, coisa à toa.
- Para mim é bexiga – repõe Missu – e é mais melhor vosmicê ir logo no doutor. Pra ver se ainda dá tempo.
Zacarias percorre a pequena peça com o olhar, os homens em silêncio; contempla depois as mãos, estremece, sai para fora.
Na distância, a velha Gregória arrastando à força a menina Cabrita, que resiste sem perceber porque motivo a velha não lhe permite atender ao moço e ganhar o dinheiro vasqueiro, cada dia mais vasqueiro, não sendo tempo de se desprezar freguês.
O fedor do pântano, a lama do chão, imenso céu de estrelas, Zacarias curvado, andando às pressas em direcção do centro da cidade. (clik na imagem)
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