sexta-feira, agosto 05, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA





Episódio Nº 171




- Boa noite. Está parando aqui moça de nome Tereza… Gabi não o deixou concluir; milagre de Tereza, aquisição sem preço, a fama chegara aos ouvidos do doutor, ali trazendo-o de cliente:

- É verdade, sim senhor, beleza de menina, menos de quinze anos, novinha em folha, coisa rica, às ordens do doutor.

- Ela vai comigo… - Tirou da carteira algumas notas, entregando-as à emocionada proxeneta: - Vá buscá-la…

- O doutor vai levar ela? Por esta noite ou por uns dias?

- De uma vez. Não vai voltar. Vamos, dê-se pressa.

Das mesas os clientes observavam em silêncio; Arruda retornara ao bar, mas, apalermado, desistira de servir. Gabi engoliu protesto, razões e argumentos, segurou o dinheiro, várias notas de quinhentos, nada ganharia em discutir, restando-lhe apenas esperar o regresso de Tereza quando o doutor se cansasse e a despedisse. Ia demorar um pouco, um mês ou dois, por aí, não mais.

- Sente-se doutor, tome alguma coisa enquanto preparo a mala e ela se arruma…

- Não precisa nada, basta a roupa do corpo, nada mais. Nem precisa se arrumar.

Colocou-a na garupa do cavalo e a levou embora.

9

Terminado o exame, doutor Amarílio cobre o corpo com o lençol:

- Fulminante, não foi?

- Disse ai e morreu, nem me dei conta… - Tereza estremece, cobre o rosto com as mãos.

O médico vacila na pergunta incómoda:

- Como foi? Jantou muito, comida pesada e logo depois… Não foi?

- Comeu somente uma posta de peixe, um pouco de arroz e uma rodela de abacaxi. Tinha tomado merenda às cinco horas, umas pamonhas. Depois, saímos, andando até à ponte, na volta ele sentou na rede, no jardim, e conversámos por mais de duas horas. Já passava das dez quando recolhemos.

- Sabe se ele teve algum aborrecimento ultimamente?

Tereza não respondeu, não tinha o direito de alardear os desgostos do doutor, repetir termos da conversa, queixas e agruras, nem mesmo para o médico. Morrera de repente, de que serve saber se de doença ou aperreação? Vai por acaso lhe restituir a vida? O médico prossegue:

- Falam que Jairo, filho dele deu um desfalque no Banco, um rombo sério, e que o doutor, ao tomar conhecimento…

Interrompe-se pois Tereza faz-se desentendida, ausente e rígida, a fitar o rosto do defunto; logo continua, numa explicação:

- Só desejo saber a causa do coração ter dado prego. Era um homem de boa saúde, mas cada um de nós tem seus motivos de aborrecimento, é isso que mata a gente. (clik na imagem e aumente)

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