sexta-feira, agosto 12, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA






Episódio Nº 177




Ao levantar-se às oito da manhã – em geral às sete já estava de pé, mas naquela noite demorara-se acordado até ao raiar da aurora no ledo ofício, na deleitosa brincadeira – já não enxergou Tereza sob os lençóis. Foi encontrá-la de vassoura em punho, enquanto a criada na sala só se moveu para sorrir e lhe desejar bom-dia. Emiliano não fez nenhum comentário, apenas convidou Tereza para o café:

- Já tomei, faz tempo. A moça vai servir o senhor. Desculpe, estou atrasada… – e prosseguiu a faina da limpeza.

Pensativo, o doutor tomou o café com leite, cuscuz de milho, banana frita, beijus, a acompanhar com a vista o movimento de Tereza pela casa. Ela varreu o quarto de dormir, recolheu o lixo, saiu com o urinol na mão para despejá-lo na latrina.

Parada na porta da cozinha, travesso olho de frete posto no patrão, a criada espera ele terminar para recolher os pratos.

Após o café, carregado de livros, o doutor ocupou a rede no jardim, dali se levantando pouco antes do meio-dia para tomar banho. Quando o viu de roupa trocada, Tereza lhe perguntou:

- Posso botar a mesa?

Emiliano sorriu:

- Depois que você tomar banho e se aprontar, depois de se vestir para o almoço.

Tereza não pensara tomar banho àquela hora, com tanto trabalho a enfrentar de tarde:

- Prefiro deixar o banho para depois da arrumação. Ainda tenho um bocado de coisas para fazer.

- Não, Tereza. Vai tomar banho agora mesmo.

Obedeceu, tinha o costume de obedecer. Ao atravessar o pátio, de volta do banheiro para o interior da casa, enxergou Alfredão conduzindo garrafas para o jardim, onde, diante de um banco de alvenaria, fora colocada pequena mesa desarmável, um dos últimos objectos chegados no caminhão. Ali, o doutor a esperava. De vestido limpo veio até ele e quis saber:

- Posso botar?

- Daqui a pouco. Sente-se aqui, comigo – Vamos beber à nossa casa.

Tereza não era de beber. Uma vez o capitão lhe dera um trago de cachaça, ela apenas provara, numa careta de repulsa.

De malvadez Justiniano a obrigou a esvaziar o copo e repetiu a dose. Nunca mais voltara a lhe oferecer bebida – eta moleca mais frouxa, só faltando chorar na rinha de galos, se engasgando com cachaça de primeira. Na pensão de Gabi, quando um cliente, sentando-se no bar, convidava uma mulher para beber na sua companhia, a obrigação da rapariga era pedir vermute ou conhaque. A beberagem servida por Arruda às mulheres em copos grossos e escuros não passava de chá de folhas, tendo de vermute e conhaque a cor e o preço, um bom sistema, sadio e lucrativo.

Por vezes o cliente preferia uma garrafa de cerveja, Tereza tomava uns goles sem entusiasmo. Nunca chegou a gostar realmente de cerveja nem mesmo quando aprendeu a apreciar os amargos, os bitters, tão da preferência do doutor.

Segurou o cálice e ouviu o brinde:

- Que a nossa casa seja alegre.

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