TEREZA
BATISTA
CANSADA
DA
GUERRA
Episódio Nº 227
Túlio espera jamais sentir necessidade de lar, da quietude, do sossego, da paz ali presentes, mesmo na morte. Quanto à mulher, está perfeitamente satisfeito com Apa, riqueza e segurança, alegre companheira. Viva e deixe viver, é a divisa de Túlio Bocatelli. Apenas de agora em diante precisa controlar os desperdícios. O capo podia ser perdulário, nascera rico, já seus bisavós possuíam terras e escravos, nunca sentira o gosto da miséria, Túlio passara fome, sabe o valor real do dinheiro, segurará as rédeas com mão firme.
- A escritura da casa está em nome de quem? Dele? Dela?
- No do doutor. Assinei como testemunha. Eu e mestre João…
- Aqui em Estância os imóveis são baratos.
Estivesse situada nas aforas de Aracaju, seria perfeita para encontros de amor. Em Estância, inútil. O melhor é vender a casa ou alugá-la. Levar os móveis para a Bahia, Túlio pensa utilizá-los em casa sua, na capital, para ele terminou-se Aracaju.
Doutor Amarílio entrega-lhe o atestado de óbito. Túlio guarda no bolso:
- Morreu dormindo?
- Dormindo? Bem… Na cama, mas não exactamente enquanto dormia…
- Que fazia então?
- O que um homem e uma mulher fazem na cama…
- Chiavando? Morreu em cima dela? Acidente!
A morte dos justos, a dos preferidos do bom Deus. Para a mulher, em compensação, uma calamidade. Nos seus tempos de cafetão, Túlio soubera de um caso assim, a mulher enlouquecera, nunca mais foi a mesma
- Poveraccia… Como é o nome todo dela? Tereza de quê?
- Tereza Batista.
- Será que ela pensa continuar aqui?
- Não creio. Disse que vai embora de Estância.
- O senhor acha que uns quinze ou vinte dias são suficiente para ela deixar a casa? Naturalmente a família vai querer vender ou alugar em seguida para que o povo se esqueça deste assunto.
Penso que é o bastante. Posso falar com ela.
- Eu mesmo falo…
Levantam-se, dirigem-se à sala de visitas transformada pelo doutor em gabinete de trabalho, para a qual se abre a porta da antiga alcova, onde estão livros e objectos de Tereza e onde ela se encontra arrumando a mala. Túlio pousa os olhos na moça e novamente a examina e admira, esplêndida fêmea, quem a herdará do velho capo? Aproxima-se:
- Escuta bela. Estamos nos primeiros dias de Maio, pode continuar a ocupar a casa até ao fim do mês.
- Não preciso.
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