quinta-feira, outubro 20, 2011

TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA

Episódio Nº 235



A velha Taviana, com quase cinquenta anos de meretrício, vinte e cinco dos quais de proxeneta, sabendo todo sobre a profissão e a natureza humana, ao conhecer Tereza enxergara nela uma fábrica de dinheiro, pedaço de mulher capaz de enriquecer castelo e castelo e casteleira e arrecadar substancioso pé-de-meia.

Planejou apresentá-la aos velhotes como casada, honesta, porém pobre, trazida ao castelo por dolorosa contingência de vida, imperativa necessidade, em desespero de causa, triste história.

Histórias podia contar várias, Taviana possuía nos arquivos orais do estabelecimento inesgotável estoque, todas verdadeiras e cada qual mais comovente. Com essa pequena farsa cresceriam o interesse e a generosidade dos beneméritos clientes, não podendo haver nada mais deleitável e confortador do que proteger mulher casada e honesta em precisão, praticando a caridade e pondo ainda por cima os chifres no marido, satisfazendo a alma e a matéria.

Bobela, Tereza recusara, não querendo fazer ainda mais penoso o obscuro ofício. Com o tempo tornaram-se muito amigas, mas Taviana, balançando a cabeça canosa, continuara a repetir o diagnóstico então estabelecido:

- É, Tereza, você não tem mesmo jeito, não nasceu para essa vida. Nasceu foi para dona de casa, mãe de filhos. Você precisa é de se casar.

3

De propósito, quem sabe, Taviana propiciou o conhecimento de Tereza Batista com Almério das Neves, cidadão amável, bem-falante, estabelecido com padaria em Brotas.

Não sendo rico encontra-se em próspera situação. Mantém com a cafetina velhos laços de amizade. Há uns quinze anos, conhecera no castelo a moça Natália, apelidada Nata de Leite devido à alvura da pele, acanhada nos modos, recente no ofício, uma daquelas nascidas, segundo Taviana, para mãe de família.

Iniciando, na época, vida de comerciante, Almério labutava dia e noite para fazer prosperar modesta padaria nas imediações da actual.

Após alguns encontros com Natália, logo ouviu da rapariga a patética narrativa da expulsão de casa pelo pai carrasco ao sabê-la comida pelo namorado bom-de-bico. Depois de chamá-la aos peitos em quarto boémio de estudante, mudou-se sem deixar novo endereço, sem lhe dizer adeus.

Almério sentiu-se tomado de paixão pela jovem e atraente vítima da sina e de dois calhordas. Tirou Nata de Leite do castelo, casou-se com ela, esposa mais direita não obteria entre as freiras de um convento. Pé-de-boi no trabalho e honradíssima. Não lhe deu filhos, é verdade, única falha de um casamento onde tudo o mais fora acerto.

Quando, passados os anos, as coisas melhoraram para eles e Natália pôde deixar a caixa da padaria, onde antes se plantava o dia inteiro, resolveram adoptar uma criança, órfã de pai e mãe.

A mãe morrera ao dar à luz e, seis meses após uma pneumonia vitimou o pai, ajudante de padeiro. Almério e Natália encarregaram-se do menino e no cartório lhe deram novos pais e novo sobrenome. (clik na imagem e aumente)

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