terça-feira, outubro 25, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA










Episódio Nº 239


- Porque gosto de outro, e se um dia ele voltar e me quiser, esteja eu onde estiver, fazendo seja o que for, largo tudo e vou com ele. Sendo assim, me diga, como me poderei casar? Só se eu não tivesse consideração consigo, fosse uma falsa. Mesmo fazendo a vida tenho brio.

Ficou o padeiro mudo e triste, os olhos perdidos na distância. Também calada e melancólica, Tereza a fitar os saveiros cortando o golfo no caminho de Recôncavo.

Que nome o novo proprietário teria dado ao Flor das Águas? Caía o crepúsculo sobre a cidade e o mar, queimando sangue no horizonte. Finalmente o entupigaitado Almério obteve palavras para romper o silêncio confrangedor:

- Nunca me rendi conta de ninguém em sua vida. É pessoa do meu conhecimento?

- Penso que não. É um mestre de saveiro, pelo menos foi. Agora anda embarcado em navio grande, não sei onde nem se vai voltar.

Ainda tem entre as suas a mão de Almério e de leve a aperta num gesto de amizade.

- Vou lhe contar tudo.

Contou do começo ao fim. Do encontro no cabaré Paris Alegre, em noite de briga, em Aracajú, à desesperada busca na Bahia, os desencontros e finalmente o relato de mestre Caetano Gunzá de volta de viagem demorada a Canavieiras, na barcaça Ventania. Quando terminou o sol desaparecera sob as águas, nos postes as lâmpadas se acenderam, no mar os saveiros eram sombras:

- Tendo enviuvado, foi-me procurar, não me encontrou. Quando cheguei, já tinha ido embora. Fiquei para esperar sua volta. Para isso estou aqui, na Bahia.

Com delicadeza solta a mão de Almério:

- Você há-de encontrar uma mulher para ser sua esposa e mãe do menino, direita como você merece. Eu não posso aceitar, me desculpe por favor, não me tome a mal.

O bom Almério, comovido às lágrimas, levava o lenço aos olhos húmidos, mas os de Tereza estavam secos, dois carvões apagados. Contudo, ele não se considerou inteiramente fora do páreo, não deu o jogo por perdido:

- Não tenho o que lhe desculpar, o destino é assim, desencontrado. Mas eu também posso esperar. Quem sabe, um dia…

Tereza não disse sim nem não, pra que feri-lo, magoá-lo?
Se Janu não regressasse um dia, ao leme de um saveiro ou no bojo de um lugre de bandeira estranha, Tereza carregaria no peito a vida inteira, luto de viúva. Em cama de castelo ou de pensão, a exercer ruim ofício, pode ser. Mas não em leito de amásia ou de esposa, isso jamais. Mas para que dizer, ofendendo a quem a honrava e distinguia?


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