sábado, outubro 22, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA





Episódio Nº 237




Enquanto os padeiros batiam a massa e esquentavam o forno, Almério aparecia no Flor de Lótus para um samba, um blue, uma rumba, um copo de cerveja e dois dedos de prosa. Muitas noites acompanhou Tereza até à porta de casa, antes de voltar à panificação.

A moça apreciava-lhe a companhia, conversa mansa e agradável, modos correctos. Jamais lhe propusera passar a noite com ela, na cama, transformando as agradáveis relações de cortesia em rabicho de amantes.

Cama, só a de profissional, uma vez por semana no castelo – no mais do tempo convivência amena, um bom amigo.

Na noite anterior à tarde do pedido de casamento, Almério demorou-se no Flor de Lótus até à hora da saída de Tereza, traçando umas batidas, conversando. Na porta do cabaré, convidou Tereza a acompanhá-lo até Brotas para conhecer a padaria, de táxi era um pulo, em meia hora ele a poria em casa.

Embora achando o convite um tanto estranho, Tereza não viu motivo para recusá-lo, tanto lhe falara ele sobre o grande forno e o balcão de fórmica que só lhe faltava mesmo era conhecer o estabelecimento.

Com orgulho de proprietário, de quem se fez por si – vim do nada, comecei de cesto de pão na cabeça, vendendo de casa em casa – mostrou-lhe as instalações, a asseada parte da fabricação, os padeiros e ajudantes batendo a massa, o forno aceso, as pás enormes de madeira, e a parte da frente, quatro portas abertas sobre a rua, onde a freguesia era atendida; aberta e iluminada especialmente para a visita de Tereza.

- Ainda há-de ser um empório. Ah! se a minha inesquecível Nata não houvesse faltado! Um homem só trabalha com disposição quando tem mulher a quem dedica amor.

Tereza elogiou, como devido, fabrico e balcão, recebeu sorrindo o tributo dos primeiros pães da madrugada. Ia encaminhar-se para o táxi, mas Almério lhe pediu para antes entrar por um minuto na casa ao lado, a residência.

Pintada de azul e branco, com as janelas verdes, trepadeiras a subir pelas grades, dois palmos de jardim revelando o cuidado dos moradores.

Com ela viva, valia a pena ver jardim e casa. Agora, anda tudo ao abandono.

Não a convidara para ver as trepadeiras. Atravessaram pelo corredor até ao quarto da criança. No berço , o menino dormia, segurando na mão um urso peludo, a chupeta caída sobre o peito.

- O Zeques… O nome é José. Zeques é o apelido.

- Que amor! Tereza tocou a face do menino, brincou com o cabelo anelado.

Demorou-se, comovida, na contemplação da criança, saiu na ponta dos pés para não acordá-la. No táxi quis saber:

- Que idade tem?

- Já fez dois anos. Dois e meio.

- O berço está pequeno para ele.

- É, sim, Preciso comprar uma cama, compro hoje mesmo. Menino sem o carinho de mãe, há coisas que nenhum pai sabe fazer. (clik na imagem)

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