TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 240
Na tarde do recusado pedido de casamento Tereza Batista repetiu para Almério das Neves, quase palavra por palavra, o relato de mestre Caetano Gunza. Embora repleto de acontecimentos desagradáveis, continha provas de amor e uma esperança:
- Um dia desses, sem dar aviso, o compadre desembarca no cais.
Assim dissera mestre Gunza na popa da barcaça, pitando o cachimbo de barro. Dessa esperança vive Tereza Batista. Almério das Neves, romântico e heróico, ouvira de olhos húmidos e garganta presa: narrativa mais comovedora, parecia novela de rádio!
Queria o padeiro casar com Tereza Batista, estava apaixonadíssimo, não dava o caso por perdido, quem sabe um dia? Mas se dependesse dele, naquele mesmo instante, vindo do golfo, saindo do crepúsculo, Januário Gereba de regresso tomaria da mão da amante perdida e inconsolável e na ermitã de Monte Serrat com ela se uniria em “bodas místicas”, ouvira a expressão em novela de rádio, adorara, sendo Almério o primeiro a felicitá-los.
Igualzinho a certo personagem de romance lido em folhetim na adolescência, generoso e desprendido, coração de ouro, Almério se dispõe ao sacrifício pela felicidade da bem-amada. Gestos assim servem de consolo em hora amarga como aquela, confortam.
Farrapos de frases arrastados pelos ventos sul, noite de temporal, tristezas no rumo do oceano revolto.
Por onde andará Januário Gereba, embarcadiço em cargueiro panamenho? Na voz de mestre Caetano Gunzá, os ecos surdos de abafada emoção.
Quer bem ao compadre, amigo de infância, irmão de esteira, na obrigação do bori, no candomblé, simpatiza com a moça, bonita e disposta.
Quando finalmente, os mastros da Ventania foram avistados cruzando a barra, sem perda de tempo Camafeu de Oxossi mandou a sobrinha levar um recado a Tereza. Mas só à noitinha ela o recebeu.
Tocou-se correndo para a Cidade Baixa, a barcaça fundeara ao largo. Em Água dos Meninos embarcou uma canoa, a bordo do veleiro mestre Gunzá a esperava, soubera por terceiros estar a moça doida por notícias de Januário. Alegrou-se ao sabê-lo vivo: haviam dado informação falsa ao compadre, ela não morrera na epidemia da bexiga. Ainda bem.
Durante mais de um mês, diariamente, Tereza viera ao Mercado Modelo e à rampa saber se a Ventania regressara de viagem. Procurara enxergar no porto a silhueta da barcaça, tinha-a nos olhos, ancorada na Ponte de Aracaju, recebendo carga de açúcar.
Há cerca de um mês e meio, a Ventania abrira as velas no rumo do Sul do estado, Canavieiras ou Caravelas, os porões cheios de fardos de xarque e barricas de bacalhau.
Data de regresso não prevista, os veleiros dependem da carga, do vento, das correntezas e do mar, dependem de Iemanjá lhes conceder bom tempo.
Na tarde do recusado pedido de casamento Tereza Batista repetiu para Almério das Neves, quase palavra por palavra, o relato de mestre Caetano Gunza. Embora repleto de acontecimentos desagradáveis, continha provas de amor e uma esperança:
- Um dia desses, sem dar aviso, o compadre desembarca no cais.
Assim dissera mestre Gunza na popa da barcaça, pitando o cachimbo de barro. Dessa esperança vive Tereza Batista. Almério das Neves, romântico e heróico, ouvira de olhos húmidos e garganta presa: narrativa mais comovedora, parecia novela de rádio!
Queria o padeiro casar com Tereza Batista, estava apaixonadíssimo, não dava o caso por perdido, quem sabe um dia? Mas se dependesse dele, naquele mesmo instante, vindo do golfo, saindo do crepúsculo, Januário Gereba de regresso tomaria da mão da amante perdida e inconsolável e na ermitã de Monte Serrat com ela se uniria em “bodas místicas”, ouvira a expressão em novela de rádio, adorara, sendo Almério o primeiro a felicitá-los.
Igualzinho a certo personagem de romance lido em folhetim na adolescência, generoso e desprendido, coração de ouro, Almério se dispõe ao sacrifício pela felicidade da bem-amada. Gestos assim servem de consolo em hora amarga como aquela, confortam.
Farrapos de frases arrastados pelos ventos sul, noite de temporal, tristezas no rumo do oceano revolto.
Por onde andará Januário Gereba, embarcadiço em cargueiro panamenho? Na voz de mestre Caetano Gunzá, os ecos surdos de abafada emoção.
Quer bem ao compadre, amigo de infância, irmão de esteira, na obrigação do bori, no candomblé, simpatiza com a moça, bonita e disposta.
Quando finalmente, os mastros da Ventania foram avistados cruzando a barra, sem perda de tempo Camafeu de Oxossi mandou a sobrinha levar um recado a Tereza. Mas só à noitinha ela o recebeu.
Tocou-se correndo para a Cidade Baixa, a barcaça fundeara ao largo. Em Água dos Meninos embarcou uma canoa, a bordo do veleiro mestre Gunzá a esperava, soubera por terceiros estar a moça doida por notícias de Januário. Alegrou-se ao sabê-lo vivo: haviam dado informação falsa ao compadre, ela não morrera na epidemia da bexiga. Ainda bem.
Durante mais de um mês, diariamente, Tereza viera ao Mercado Modelo e à rampa saber se a Ventania regressara de viagem. Procurara enxergar no porto a silhueta da barcaça, tinha-a nos olhos, ancorada na Ponte de Aracaju, recebendo carga de açúcar.
Há cerca de um mês e meio, a Ventania abrira as velas no rumo do Sul do estado, Canavieiras ou Caravelas, os porões cheios de fardos de xarque e barricas de bacalhau.
Data de regresso não prevista, os veleiros dependem da carga, do vento, das correntezas e do mar, dependem de Iemanjá lhes conceder bom tempo.
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