quinta-feira, outubro 27, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA



Episódio Nº 241


Aquela espera marcara os começos de Tereza Batista na cidade da Bahia e as primeiras relações por ela estabelecidas na busca de novas de mestre Januário Gereba e do saveiro Flor das Águas. Todos muito gentis, impossível povo mais educado; as notícias, porém, desencontradas. Ela viera à capital para saber de Januário, saiu perguntando.


Obtivera aqui e ali pedaços de história mas só mestre Caetano contou o enredo inteiro.


Após a epidemia de bexiga em Buquim, Tereza começara a descer o sertão, de cidade em cidade, de povoado em povoado, lentamente. Conhecera Esplanada, Cipó, Alagoinhas, Feira de Sant’ Ana. Viagem extensa e atribulada, Tereza sem recursos, obrigada a exercer nas piores condições.


Durante esses meses - quantos nem sabia – completou o exacto conhecimento da vida de rameira, tocou o ponto mais baixo, mas disposta a chegar ao mar de Gereba, prosseguiu até ao fim, obstinada.


Só em Feira de Sant’ Ana encontrara cabaré onde se oferece de dançarina a troco de quase nada e, ainda assim, para cobrar a paga mísera tivera de armar esporro sem tamanho.


Não fosse ter surgido em meio de confusão imponente velho de barbas e cajado, senhor na certa muito importante que dela se agradou, teria terminado presa em vez de receber os caraminguás – dinheiro magro, o justo para a passagem de marineti e as primeiras despesas na capital.


Menos mal que o velho senhor lhe acrescentou algum. Simpatizando com a coragem da rapariga e estando a ganhar no jogo de ronda bancado pelo dono do El Tango, no qual até então ninguém ganhara, não só forçou o tipo a pagar o ajustado e devido: juntou à parca quantia uma boa parte do obtido no baralho.


De pura bondade, pois nem sequer a reteve para dormir com ele, permitindo-lhe partir enquanto prosseguia dando a maior sorte no jogo para espanto e escândalo de Paco Porteño. Os baralhos marcados tinham perdido a valia, de nada adiantando tampouco a rapidez de mão, orgulho e capital do gringo.


Pela primeira vez Tereza topava com aquele velho em seu caminho, mas ele a tratou como se a conhecesse de longa data.


Na Bahia, iniciara a busca. De começo, timidamente, imaginando Gereba ainda casado. Não viera para lhe perturbar a vida, criar-lhe embaraços. Apenas queria localizá-lo para poder acompanhar-lhe os passos sem ser notada. Somente? Também gostaria de avistar o Flor das Águas, mesmo de longe. De longe?


Quem pode saber com exactidão o que Tereza esperava e pretendia se nem ela própria sabe? Buscava-o apenas, era tudo quanto tinha.


Na Rampa e no Mercado praticamente todos a conheciam e estimavam, nenhum dava notícias dele. Melhor dito: todos davam notícias, ninguém se negara a falar do saveirista, mas eram informações desencontradas quando não contraditórias. Uma coisa certa, contudo: a esposa de Januário falecera tempos atrás.


No candomblé do Bogum, onde ele tinha o posto de ogan há muitos anos, a mãe-de-santo Ronhoz confirmou: Gereba perdera a mulher, levada pela tísica, a pobrezinha. Os olhos fitos em Tereza, a iyalorixá não vacilou em reconhecê-la:


- Você é a moça que ele conheceu em Aracaju.


Depois do enterro, Januário estivera no terreiro em trabalhos de axexê, limpando o corpo antes de realizar uma viagem, de grande importância, segundo dissera.


Quem esperava era você, não era? Nunca mais apareceu. Consta ter voltado dessa viagem e iniciado outra.


Uma viagem? Duas? Vivo ou morto? Desaparecido? Onde? Tereza só conseguira saber a verdade quando, por fim, a Ventania regressou do Sul do estado carregado de cacau.

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