HOJE É
DOMINGO
Sim, quase que aposto que os tempos que aí vêm não vão ser “pêra doce”, não para todos e não da mesma maneira, mas nestas alturas, e sem que isso sirva de consolo para alguém, convêm que alarguemos as vistas para percebermos que o mundo é muito maior e mesmo aqui ao pé de nós há outras realidades verdadeiramente dramáticas.
Estamos na Palestina e a jornalista, profissional experiente, não afastou o microfone enquanto a expressão da jovem senhora se mantinha muda:
As mãos contorciam-se e os seus olhos negros, grandes, com as sobrancelhas bem delineadas, mantinham-se inexpressivos enquanto a boca entreaberta parecia tomar balanço para dizer qualquer coisa.
Finalmente, com nítida relutância, confessou:
“ Não há palavras, todas as palavras que eu pudesse utilizar para me referir aos israelitas seria estar a ofender essas palavras. Chamar-lhes animais seria estar a ofender os animais”
À sua frente, de costas para a câmara, estaria a sua casa destruída, uma casa de pessoas civis, palestinianas, adquirida e mobilada com o trabalho de todos os dias e de todos os anos.
Fiquei preso a este testemunho e à convicção de um terrível dilema para os judeus de Israel: quantas mais guerras ganharem mais pessoas perdem para sempre do outro lado da fronteira e mais inimigos ganham.
Neste conflito há qualquer coisa de errado desde a primeira hora. Com dois caminhos divergentes à partida e em que um deles é ignorado, posto de parte como senão existisse, ficou, apenas um como o único possível.
Quando os judeus começaram a instalar-se na Cisjordânia sabiam que iam ter por vizinhos os árabes que naturalmente viram neles concorrentes que lhes vinham disputar o território, a eles, que já lá estavam.
Numa estratégia de boa vizinhança, elementar a pessoas sensatas, teria competido aos judeus, em primeiro lugar, compreender essa primeira reacção dos árabes e posteriormente, através de políticas efectivas, demonstrar-lhes a vantagem de poderem beneficiar de uma vizinhança mais rica e tecnologicamente mais avançada.
Sem descurarem, naturalmente, o investimento na sua defesa, ali, o melhor investimento teria sido nos seus próprios vizinhos cujos níveis de bem-estar deveriam ter sido sempre motivo de preocupação dos israelitas.
Ter vizinhos satisfeitos teria sido o grande antídoto para a guerra e a solução para a paz. O passado histórico e religioso condenou esta solução óbvia.
O regime do Irão, dos Ayatollahs fanáticos que sonham dirigir um Império religioso na região para daí partirem à conquista do mundo perceberam isso perfeitamente.
Como dizia um outro testemunho no sul da palestina:
“É o hezbollah que me está a construir a casa e a ajudar-me no trabalho, na educação dos filhos, na saúde…” e o dinheiro para todas estas despesas de carácter social vem do Irão que tem tudo menos dificuldades financeiras.
Mas a preto e branco só os filmes e mesmo esses só para certas elites cinéfilas e os enredos em que de um lado estavam os bons e do outro os maus há muito que já não são levados a sério.
O que existe, de facto, são políticas que conduzem as sociedades e o mundo por determinados caminhos e, pressuposto, para certos objectivos.
Quando vejo desfilar nas ruas soldados de deus, vestidos de negro, auto-flagelando-se numa coreografia de povos primitivos e líderes religiosos barbudos, de turbante negro, subirem à tribuna rodeados de seguranças por todos os lados menos por cima apenas porque eles ainda não levitam, fico “pele de galinha”, “vejo” o mundo a andar para trás e a voltarmos aos tempos medievais.
Se considero a política bélica de Israel errada para os próprios interesses dos israelitas e para a paz em toda aquela região, considero, igualmente, altamente perigosa e ameaçadora no futuro para o mundo, a política do Irão e dos seus “enviados” Hamas e Hesbollah.
Viver num mundo de ódio, saber que milhares de pessoas que nem nos conhecem, nossos vizinhos, ali mesmo ao lado, desejam o nosso mal, a nossa morte, nos odeiam do fundo dos seus corações… é bem pior que as nossas dificuldades financeiras… pelo menos até agora.
(click na imagem da rua das "meninas", na parte antiga de Santarém quando, no tempo do Salazar, a prostituição era um negócio autorizado.)
Estamos na Palestina e a jornalista, profissional experiente, não afastou o microfone enquanto a expressão da jovem senhora se mantinha muda:
As mãos contorciam-se e os seus olhos negros, grandes, com as sobrancelhas bem delineadas, mantinham-se inexpressivos enquanto a boca entreaberta parecia tomar balanço para dizer qualquer coisa.
Finalmente, com nítida relutância, confessou:
“ Não há palavras, todas as palavras que eu pudesse utilizar para me referir aos israelitas seria estar a ofender essas palavras. Chamar-lhes animais seria estar a ofender os animais”
À sua frente, de costas para a câmara, estaria a sua casa destruída, uma casa de pessoas civis, palestinianas, adquirida e mobilada com o trabalho de todos os dias e de todos os anos.
Fiquei preso a este testemunho e à convicção de um terrível dilema para os judeus de Israel: quantas mais guerras ganharem mais pessoas perdem para sempre do outro lado da fronteira e mais inimigos ganham.
Neste conflito há qualquer coisa de errado desde a primeira hora. Com dois caminhos divergentes à partida e em que um deles é ignorado, posto de parte como senão existisse, ficou, apenas um como o único possível.
Quando os judeus começaram a instalar-se na Cisjordânia sabiam que iam ter por vizinhos os árabes que naturalmente viram neles concorrentes que lhes vinham disputar o território, a eles, que já lá estavam.
Numa estratégia de boa vizinhança, elementar a pessoas sensatas, teria competido aos judeus, em primeiro lugar, compreender essa primeira reacção dos árabes e posteriormente, através de políticas efectivas, demonstrar-lhes a vantagem de poderem beneficiar de uma vizinhança mais rica e tecnologicamente mais avançada.
Sem descurarem, naturalmente, o investimento na sua defesa, ali, o melhor investimento teria sido nos seus próprios vizinhos cujos níveis de bem-estar deveriam ter sido sempre motivo de preocupação dos israelitas.
Ter vizinhos satisfeitos teria sido o grande antídoto para a guerra e a solução para a paz. O passado histórico e religioso condenou esta solução óbvia.
O regime do Irão, dos Ayatollahs fanáticos que sonham dirigir um Império religioso na região para daí partirem à conquista do mundo perceberam isso perfeitamente.
Como dizia um outro testemunho no sul da palestina:
“É o hezbollah que me está a construir a casa e a ajudar-me no trabalho, na educação dos filhos, na saúde…” e o dinheiro para todas estas despesas de carácter social vem do Irão que tem tudo menos dificuldades financeiras.
Mas a preto e branco só os filmes e mesmo esses só para certas elites cinéfilas e os enredos em que de um lado estavam os bons e do outro os maus há muito que já não são levados a sério.
O que existe, de facto, são políticas que conduzem as sociedades e o mundo por determinados caminhos e, pressuposto, para certos objectivos.
Quando vejo desfilar nas ruas soldados de deus, vestidos de negro, auto-flagelando-se numa coreografia de povos primitivos e líderes religiosos barbudos, de turbante negro, subirem à tribuna rodeados de seguranças por todos os lados menos por cima apenas porque eles ainda não levitam, fico “pele de galinha”, “vejo” o mundo a andar para trás e a voltarmos aos tempos medievais.
Se considero a política bélica de Israel errada para os próprios interesses dos israelitas e para a paz em toda aquela região, considero, igualmente, altamente perigosa e ameaçadora no futuro para o mundo, a política do Irão e dos seus “enviados” Hamas e Hesbollah.
Viver num mundo de ódio, saber que milhares de pessoas que nem nos conhecem, nossos vizinhos, ali mesmo ao lado, desejam o nosso mal, a nossa morte, nos odeiam do fundo dos seus corações… é bem pior que as nossas dificuldades financeiras… pelo menos até agora.
(click na imagem da rua das "meninas", na parte antiga de Santarém quando, no tempo do Salazar, a prostituição era um negócio autorizado.)
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