TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 263
Antigamente redonda e portentosa mulata, dita Paulina Desordem ou Paulina Sururu, eleita rainha do Carnaval e coroada no Clube Carnavalesco Fantoches da Enterpe, em cujo carro-chefe desfilara coberta de lantejoulas pelas ruas da cidade, a actual e imponente caftina Paulina de Sousa, dona Paulina com o máximo respeito, no passar dos tempos tornara-se gordíssima e ordeira dona de quatro pensões de raparigas, no Pelourinho e no Taboão.
A mais poderosa figura da zona, depois de Vavá influindo sobre vasta e numerosa população. O mulherio a estimava: dona Paulina é rigorosa mas não deixa ninguém na mão, não é como outras que só fazem é sugar o sangue da gente.
Todas a tratavam de dona e as mais moças, vindas do interior, lhe tomavam a bênção; suas quatro casas eram exemplos de boa administração, sossegadas, oferecendo aos fregueses mulheres amáveis e sadias, silêncio e segurança. Nelas não sucediam escândalos, bafafás, roubos, bebedeiras, coisas tão comuns nos bordéis. Não havendo bar aberto em nenhuma delas, não eram vendidas bebidas alcoólicas aos clientes; em compensação, dona Paulina fornecia àqueles curiosos ou necessitados, literatura erótica, barata, porém eficaz, folhetos de cordel com trovas e desenhos de sacanagem e, para os mais abastados, fotos sensacionais. Pequeno adjutório ao comércio propriamente dito.
Dona Paulina de Sousa impunha a lei e a fazia cumprir. Bondosa e solidária não faltava ás mulheres nas necessidades mas não admitia a menor bagunça nos limites das pensões.
Inquilina sua tinha de se comportar, compreendendo estar em local de trabalho destinado a dar renda. Deboche, cachaça, maconha, vícios, porta afora. Quem não estivesse de acordo, arrumasse a trouxa e fosse cantar em outra freguesia.
Do agitado e alegre passado, além de lembranças e casos a relatar, dona Paulina guarda reservas de energia suficientes para cortar as asas a qualquer sirigaita metida a sebo ou de algum freguês novato, sem experiência do regulamento – quem quiser trepar fiado ou de graça vá trepar na puta que o pariu – pretendendo dar o beiço, espetar a despesa, regalar-se sem pagar.
Valia a pena vê-la nessas horas, indignada, movimentando-se rápida apesar do corpanzil, agressiva, uma fúria. Botava para correr até estivador.
Vivendo maritalmente com Ariosto Alvo Lírio, pagador da Prefeitura, pardo, alto e magro, educado e maneiroso, dona Paulina prepara-se para merecida aposentadoria. Em nome de Ariosto, por razões legais, adquirira casa e alguma terra em São Gonçalo dos Campos, de onde era oriunda e onde pretende viver pacificamente o resto da sua vida. Quando, dentro de cinco anos, o funcionário municipal se aposentar, ela passará adiante as prósperas pensões, não faltam candidatos à sucessão, indo cuidar da terra em companhia do amásio, quem sabe já marido.
Duas únicas coisas entristecem e irritam dona Paulina e uma delas é exactamente o facto de ser casada com Telémaco de Sousa, barbeiro de ofício e cachaceiro por vocação. Sujeito renitente, até agora escapou de sucessivos e poderosos trabalhos mandados fazer em sua intenção pela esposa, muito ligada a gente de Ifá, temíveis feiticeiros. O Fígaro já sofreu dois medonhos desastres de automóvel, num morreram três pessoas. No outro duas, sendo ele o único a escapar ileso. Pegou tifo brabo, o médico o desenganou e nem assim morreu, desconsiderando o doutor.
Na maior cachaça, voltando de passeio a Itaparica, caiu no mar e, sem saber nadar, não se afogou o mal agradecido.
A mais poderosa figura da zona, depois de Vavá influindo sobre vasta e numerosa população. O mulherio a estimava: dona Paulina é rigorosa mas não deixa ninguém na mão, não é como outras que só fazem é sugar o sangue da gente.
Todas a tratavam de dona e as mais moças, vindas do interior, lhe tomavam a bênção; suas quatro casas eram exemplos de boa administração, sossegadas, oferecendo aos fregueses mulheres amáveis e sadias, silêncio e segurança. Nelas não sucediam escândalos, bafafás, roubos, bebedeiras, coisas tão comuns nos bordéis. Não havendo bar aberto em nenhuma delas, não eram vendidas bebidas alcoólicas aos clientes; em compensação, dona Paulina fornecia àqueles curiosos ou necessitados, literatura erótica, barata, porém eficaz, folhetos de cordel com trovas e desenhos de sacanagem e, para os mais abastados, fotos sensacionais. Pequeno adjutório ao comércio propriamente dito.
Dona Paulina de Sousa impunha a lei e a fazia cumprir. Bondosa e solidária não faltava ás mulheres nas necessidades mas não admitia a menor bagunça nos limites das pensões.
Inquilina sua tinha de se comportar, compreendendo estar em local de trabalho destinado a dar renda. Deboche, cachaça, maconha, vícios, porta afora. Quem não estivesse de acordo, arrumasse a trouxa e fosse cantar em outra freguesia.
Do agitado e alegre passado, além de lembranças e casos a relatar, dona Paulina guarda reservas de energia suficientes para cortar as asas a qualquer sirigaita metida a sebo ou de algum freguês novato, sem experiência do regulamento – quem quiser trepar fiado ou de graça vá trepar na puta que o pariu – pretendendo dar o beiço, espetar a despesa, regalar-se sem pagar.
Valia a pena vê-la nessas horas, indignada, movimentando-se rápida apesar do corpanzil, agressiva, uma fúria. Botava para correr até estivador.
Vivendo maritalmente com Ariosto Alvo Lírio, pagador da Prefeitura, pardo, alto e magro, educado e maneiroso, dona Paulina prepara-se para merecida aposentadoria. Em nome de Ariosto, por razões legais, adquirira casa e alguma terra em São Gonçalo dos Campos, de onde era oriunda e onde pretende viver pacificamente o resto da sua vida. Quando, dentro de cinco anos, o funcionário municipal se aposentar, ela passará adiante as prósperas pensões, não faltam candidatos à sucessão, indo cuidar da terra em companhia do amásio, quem sabe já marido.
Duas únicas coisas entristecem e irritam dona Paulina e uma delas é exactamente o facto de ser casada com Telémaco de Sousa, barbeiro de ofício e cachaceiro por vocação. Sujeito renitente, até agora escapou de sucessivos e poderosos trabalhos mandados fazer em sua intenção pela esposa, muito ligada a gente de Ifá, temíveis feiticeiros. O Fígaro já sofreu dois medonhos desastres de automóvel, num morreram três pessoas. No outro duas, sendo ele o único a escapar ileso. Pegou tifo brabo, o médico o desenganou e nem assim morreu, desconsiderando o doutor.
Na maior cachaça, voltando de passeio a Itaparica, caiu no mar e, sem saber nadar, não se afogou o mal agradecido.
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