TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 294
Ouve explicações embrulhadas, pouco claras, o chefe da polícia perde-se em argumentos vagos. Enganar homem político com a experiência e a manha do governador não é fácil.
Trata-se de assunto de simples rotina? Porque então a polícia se mantém inflexível e violenta, dando lugar a uma onda inquietante de boatos? Pensativo ao telefone, bruscamente corta a confusa lengalenga do chefe da polícia. O importante no momento é liquidar o pânico nascente pondo fim às desordens no meretrício evitando uma decepção aos marinheiros (como disse com certa graça inesperada o energúmeno Pavão). Transmite ordens taxativas.
Amanhã, com tempo e calma, esclarecerá todo aquele assunto colocando-o em pratos limpos, algo suspeito e escuso se esconde por detrás dessa apressada mudança de zona. Quem sabe as rameiras lhe fornecerão o bom pretexto, ansiosamente esperado, para substituir o chefe da polícia, forçando-o a pedir a demissão?
Sua Excelência gosta de andar por estreitos caminhos tortuosos, se assim não fosse como tolerar a actividade política, os pequenos homens, a tolice dos sabidórios? Ama pegá-los pelo pé, com a mão na combuca.
Volta à sala, onde o vereador calcula as vantagens a tirar da situação. Sorri: Reginaldo é apenas um pequeno rato de esgoto, seus pensamentos mais secretos reflectem-se na face velhaca. Emissário ideal para levar às putas a mensagem de paz, pensa o Excelentíssimo.
Caro Pavão, mandei soltar as mulheres presas ontem e suspender toda e qualquer ordem de mudança. Vá e enuncie a boa nova. Se quiser, passe na Especializada e transmita pessoalmente as minhas ordens ao delegado – pequena manobra para desprestigiar o chefe da polícia – Acompanhe as pobres até às suas casas na Barroquinha e ponha esses votinhos no bolso do colete, são um presente para o amigo.
Eleitor meu é eleitor de Vossa Excelência! Incondicional!
60
Ainda digerindo pito governamental, vendo as coisas negras para o seu lado – se não manobrar com inteligência, sobrarei na primeira actividade – o chefe da polícia liga o telefone para o delegado de Jogos e Costumes, transmite-lhe a ordem de libertar as caftinas da Barroquinha e lhes permitir o regresso às casas, suspendendo a mudança.
Do outro lado do fio, o subordinado certamente argumenta, o chefe coça o queixo lamentando:
- Nem sempre se pode servir os amigos como se deseja. O assunto não marchou, aliás, marchou muito mal, infelizmente.
Solte as mulheres, dê garantias, mande nossos homens abandonar a zona, deixe apenas o policiamento normal.
Já impaciente, interrompe as queixas do delegado.
São ordens do governador, não posso fazer nada. Quanto ao velho, não se aflija, ele fica por minha conta, eu mesmo falo com ele. Não esqueça de me dar notícias, tenho de manter o governador informado.
O bacharel Hélio Cotias larga o telefone. O velho fica por minha conta; e Cármen, ficará por conta de quem? Esposa e tio vão-lhe infernar a vida. Tem vontade de largar tudo, mandar o cargo às favas, solicitar demissão, ir para casa, trancar-se a dormir, está exausto.
(click na imagem)
Ouve explicações embrulhadas, pouco claras, o chefe da polícia perde-se em argumentos vagos. Enganar homem político com a experiência e a manha do governador não é fácil.
Trata-se de assunto de simples rotina? Porque então a polícia se mantém inflexível e violenta, dando lugar a uma onda inquietante de boatos? Pensativo ao telefone, bruscamente corta a confusa lengalenga do chefe da polícia. O importante no momento é liquidar o pânico nascente pondo fim às desordens no meretrício evitando uma decepção aos marinheiros (como disse com certa graça inesperada o energúmeno Pavão). Transmite ordens taxativas.
Amanhã, com tempo e calma, esclarecerá todo aquele assunto colocando-o em pratos limpos, algo suspeito e escuso se esconde por detrás dessa apressada mudança de zona. Quem sabe as rameiras lhe fornecerão o bom pretexto, ansiosamente esperado, para substituir o chefe da polícia, forçando-o a pedir a demissão?
Sua Excelência gosta de andar por estreitos caminhos tortuosos, se assim não fosse como tolerar a actividade política, os pequenos homens, a tolice dos sabidórios? Ama pegá-los pelo pé, com a mão na combuca.
Volta à sala, onde o vereador calcula as vantagens a tirar da situação. Sorri: Reginaldo é apenas um pequeno rato de esgoto, seus pensamentos mais secretos reflectem-se na face velhaca. Emissário ideal para levar às putas a mensagem de paz, pensa o Excelentíssimo.
Caro Pavão, mandei soltar as mulheres presas ontem e suspender toda e qualquer ordem de mudança. Vá e enuncie a boa nova. Se quiser, passe na Especializada e transmita pessoalmente as minhas ordens ao delegado – pequena manobra para desprestigiar o chefe da polícia – Acompanhe as pobres até às suas casas na Barroquinha e ponha esses votinhos no bolso do colete, são um presente para o amigo.
Eleitor meu é eleitor de Vossa Excelência! Incondicional!
60
Ainda digerindo pito governamental, vendo as coisas negras para o seu lado – se não manobrar com inteligência, sobrarei na primeira actividade – o chefe da polícia liga o telefone para o delegado de Jogos e Costumes, transmite-lhe a ordem de libertar as caftinas da Barroquinha e lhes permitir o regresso às casas, suspendendo a mudança.
Do outro lado do fio, o subordinado certamente argumenta, o chefe coça o queixo lamentando:
- Nem sempre se pode servir os amigos como se deseja. O assunto não marchou, aliás, marchou muito mal, infelizmente.
Solte as mulheres, dê garantias, mande nossos homens abandonar a zona, deixe apenas o policiamento normal.
Já impaciente, interrompe as queixas do delegado.
São ordens do governador, não posso fazer nada. Quanto ao velho, não se aflija, ele fica por minha conta, eu mesmo falo com ele. Não esqueça de me dar notícias, tenho de manter o governador informado.
O bacharel Hélio Cotias larga o telefone. O velho fica por minha conta; e Cármen, ficará por conta de quem? Esposa e tio vão-lhe infernar a vida. Tem vontade de largar tudo, mandar o cargo às favas, solicitar demissão, ir para casa, trancar-se a dormir, está exausto.
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