GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 20
- Ouvi dizer que um virou na ponte do rio Cachoeira.
- Conversa fiada. Vão e vêm cheias. Um negoção.
- Olhe que agora se vê de um tudo em Ilhéus, hem, seu Nacib? Me contaram que no hotel novo vai ter até um tal elevador, uma caixa que sobe e desce sozinha…
- Quer acordar o Chico?
- Já estou indo… Que não vai ter mais escada, t’esconjuro!
Nacib ficou ainda uns momentos na janela olhando o navio da Costeira, do qual o prático se aproximava. Mundinho Falcão devia vir nesse navio, assim alguém dissera no bar. Cheio de novidades certamente. Chegariam também novas mulheres para os cabarés, para as casas da Rua do Unhão, do Sapo, das Flores.
Cada navio da Baía, de Aracaju ou do Rio trazia um carregamento de raparigas. Talvez também chegasse o automóvel do Dr. Demóstenes, o médico estava ganhando um dinheirão, era o primeiro consultório da cidade. Vali a pena vestir-se e ir ao porto, assistir ao desembarque.
Lá encontraria certamente a turma habitual, os madrugadores. E quem sabe se não lhe dariam notícias de uma boa cozinheira, capaz de arcar com o trabalho do bar?
Cozinheira em Ilhéus era raridade, disputada pelas famílias, pelos hotéis, pensões e bares. O diabo da velha… E logo quando ele havia descoberto essa preciosidade, a Risoleta!
Quando precisava estar com o espírito tranquilo… Por uns dias, pelo menos, não via outro jeito, ia ter de cair nas unhas das irmãs Dos Reis. Coisa complicada é a vida: ainda ontem tudo marchava tão bem, ele não tinha preocupações, ganhara duas partidas de gamão seguidas contra um parceiro da força do Capitão, comera uma moqueca de siris realmente divina em casa de Maria Machadão e descobrira aquela novata, a Risoleta…
E já hoje, de manhãzinha, estava atravancado de problemas… Uma porcaria! Velha maluca… A verdade é que sentia saudades dela, de sua limpeza, do café da manhã com cuscuz de milho, batata-doce, banana-da-terra frita, beijus… De seus cuidados materiais, de sua solicitude, mesmo dos seus resmungos. Quando uma vez ele caíra com febre, o tifo, na época endémico na região, como o paludismo e a bexiga, ela não arredara do quarto, dormia mesmo no chão. Onde arranjaria outra como ela?
Dª. Arminda voltava à janela:
- Já acordou seu Nacib. Está tomando banho.
- Vou fazer o mesmo. Obrigado.
- Depois venha tomar café com a gente. Café de pobre. Quero lhe contar o sonho que tive com o finado. Ele me disse: “Arminda, minha velha, o Diabo tomou conta da cabeça desse povo de Ilhéus. Só pensam em dinheiro, só pensam em grandezas. Isso vai terminar mal… muita coisa vai começar a acontecer…”
- Pois para mim, Dª. Arminda, já começou… com essa viagem de Filomena. Pra mim já começou.
Disse em tom de mofa, não sabia que tinha começado mesmo. O navio recebia o prático, manobrava em direcção à barra.
- Ouvi dizer que um virou na ponte do rio Cachoeira.
- Conversa fiada. Vão e vêm cheias. Um negoção.
- Olhe que agora se vê de um tudo em Ilhéus, hem, seu Nacib? Me contaram que no hotel novo vai ter até um tal elevador, uma caixa que sobe e desce sozinha…
- Quer acordar o Chico?
- Já estou indo… Que não vai ter mais escada, t’esconjuro!
Nacib ficou ainda uns momentos na janela olhando o navio da Costeira, do qual o prático se aproximava. Mundinho Falcão devia vir nesse navio, assim alguém dissera no bar. Cheio de novidades certamente. Chegariam também novas mulheres para os cabarés, para as casas da Rua do Unhão, do Sapo, das Flores.
Cada navio da Baía, de Aracaju ou do Rio trazia um carregamento de raparigas. Talvez também chegasse o automóvel do Dr. Demóstenes, o médico estava ganhando um dinheirão, era o primeiro consultório da cidade. Vali a pena vestir-se e ir ao porto, assistir ao desembarque.
Lá encontraria certamente a turma habitual, os madrugadores. E quem sabe se não lhe dariam notícias de uma boa cozinheira, capaz de arcar com o trabalho do bar?
Cozinheira em Ilhéus era raridade, disputada pelas famílias, pelos hotéis, pensões e bares. O diabo da velha… E logo quando ele havia descoberto essa preciosidade, a Risoleta!
Quando precisava estar com o espírito tranquilo… Por uns dias, pelo menos, não via outro jeito, ia ter de cair nas unhas das irmãs Dos Reis. Coisa complicada é a vida: ainda ontem tudo marchava tão bem, ele não tinha preocupações, ganhara duas partidas de gamão seguidas contra um parceiro da força do Capitão, comera uma moqueca de siris realmente divina em casa de Maria Machadão e descobrira aquela novata, a Risoleta…
E já hoje, de manhãzinha, estava atravancado de problemas… Uma porcaria! Velha maluca… A verdade é que sentia saudades dela, de sua limpeza, do café da manhã com cuscuz de milho, batata-doce, banana-da-terra frita, beijus… De seus cuidados materiais, de sua solicitude, mesmo dos seus resmungos. Quando uma vez ele caíra com febre, o tifo, na época endémico na região, como o paludismo e a bexiga, ela não arredara do quarto, dormia mesmo no chão. Onde arranjaria outra como ela?
Dª. Arminda voltava à janela:
- Já acordou seu Nacib. Está tomando banho.
- Vou fazer o mesmo. Obrigado.
- Depois venha tomar café com a gente. Café de pobre. Quero lhe contar o sonho que tive com o finado. Ele me disse: “Arminda, minha velha, o Diabo tomou conta da cabeça desse povo de Ilhéus. Só pensam em dinheiro, só pensam em grandezas. Isso vai terminar mal… muita coisa vai começar a acontecer…”
- Pois para mim, Dª. Arminda, já começou… com essa viagem de Filomena. Pra mim já começou.
Disse em tom de mofa, não sabia que tinha começado mesmo. O navio recebia o prático, manobrava em direcção à barra.
(Click na imagem da linda cidade de Ilhéus, vista do mar, com a linha do porto onde atracou o navio de Mundinho Falcão proveniente do Rio de Janeiro.)
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