GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 28
- Não liga? Deixa assim, de propósito. Para não entrar navio grande. Para a exportação continuar pela Baía.
- Também a Intendência não faz nada, O Intendente não tem voz activa. Só sabe dizer “Ámen” ao Governo.
- Ilhéus precisa mostrar o que vale.
O grupo vindo da banca de peixe envolvia-se nas conversas. O Doutor, com a sua habitual excitação, conclamava o povo contra os políticos, contra os governantes da Baía a tratar o município com desprezo, como se fosse ele o mais rico, o mais próspero do Estado, o que contribuía com maiores rendas para os cofres públicos.
Isto sem falar em Itabuna, cidade crescendo como um cogumelo, município também sacrificado à incapacidade dos governantes, à incúria, à má vontade para com o porto de Ilhéus.
- A culpa é mesmo nossa, devemos reconhecer – disse o capitão.
- Como?
- Nossa e de mais ninguém. E é fácil provar: quem é que manda na política de Ilhéus? Os mesmos homens de há vinte anos passados. Elegemos intendente, deputado e senador estadual, deputado federal, a gente que não tem nada a ver com Ilhéus, devido a compromissos antigos, do tempo em que Judas perdeu as botas.
- João Fulgêncio apoiava:
- É isso mesmo, os coronéis continuam a votar nos mesmos homens que os sustentaram naquele tempo.
- Resultado: os interesses de Ilhéus que se arranjem.
- Compromisso é compromisso…- defendeu-se o coronel Amâncio Leal – Na hora da necessidade foi com eles que a gente contou…
- As necessidades agora são outras…
- O Doutor brandia o dedo:
- Mas essa bandalheira vai acabar. Havemos de eleger homens que representem os verdadeiros interesses da terra.
- O coronel Manuel da Onças riu:
- E os votos, Doutor, onde os vão buscar?
O coronel Amâncio falou com uma voz suave:
- Ouça, doutor: fala-se muito de progresso, de civilização, da necessidade de mudar tudo em Ilhéus. Não ouço outra conversa o dia inteiro. Mas, diga-me uma coisa: quem é que fez esse progresso? Não fomos nós, os fazendeiros de cacau? Temos nossos compromissos, tomados numa hora difícil, não somos homens de duas palavras. Enquanto eu for vivo, meus votos são para o meu compadre Ramiro Bastos e para quem ele indicar. Nem quero saber o nome.
Foi ele quem me deu a mão forte quando a gente estava jogando a vida nessas brenhas…
O árabe Nacib incorporava-se à roda, ainda sonolento, preocupado e abatido:
- De que se trata?
O Capitão explicava.
- É o eterno atraso… Os coronéis não compreendem que não estão mais naquele tempo, que hoje as coisas são diferentes. Os problemas não são mais os de há vinte ou trinta anos passados.
(Click e aumente a imagem das lindas praias de areias brancas e finas, as mais lindas de todo o nordeste, 100 quilómetros de deleite. Ilhéus, fundada em 1534, entre o Oceano e a mata atlântica.)
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