GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 39
Nacib desceu pela Ladeira da Vitória, passou pelo cemitério. Lá em baixo a cidade brilhava ao sol, movimentada. O Ita, chegado de manhãzinha, descarregava. Desgraça de terra, falava-se tanto em progresso e não se podia conseguir nem mesmo uma cozinheira.
- Por isso mesmo – explicava-lhe João Fulgêncio quando o árabe parara na Papelaria Modelo para descansar – a mão-de-obra torna-se difícil e cara com a procura. Quem sabe se na feira?
A feira semanal era uma festa. Ruidosa e colorida. Um vasto descampado em frente do ancoradouro estendendo-se até às proximidades da Estrada de Ferro. Postas de carne seca, de sol, de fumeiro, porcos, ovelhas, veados, pacas e cotias, caça diversa.
Sacos de alva farinha de mandioca. Bananas cor de ouro, abóboras amarelas, verdes, jilós, quiabos, laranjas. Nas barracas serviam, em pratos de frandes, sarapatel, feijoada, moqueca de peixe. Camponeses comiam, o copo de cachaça ao lado. Nacib informou-se ali. Uma negra gorda, um torso na cabeça, colares e pulseiras, torceu o nariz:
- Trabalhar para patrão? Deus que me livre…
Pássaros de incrível plumagem, papagaios faladores.
- Quanto quer pelo louro, sinhá-dona?
- Oito mil réis porque é para vosmicê…
- Tão caro não pode ser.
- Mas é falador de verdade. Sabe cada palavrão…
O papagaio, como a provar, se esganiçava, cantava ai, seu Mé. Nacib passou entre montanhas de requeijão, o sol brilhava sobre o amarelo das jacas maduras. O papagaio gritava: “Tabaréu! Tabaréu!” Ninguém sabia de cozinheira.
Um cego, a cuia no Chão, contava na viola histórias dos tempos das lutas:
Amâncio, homem valente,
Atirador de primeira
Mais valente do que ele
Só mesmo Juca Ferreira.
Em noite de escuridão
Se encontravam na clareira.
“Quem vem lá?” – disse Ferreira.
É homem. Não é bicho não”
Seu Amâncio respondera
Com a mão na repetição.
Tremeram até os macacos
na noite de escuridão.
Os cegos às vezes eram bem informados. Não souberam dar notícias. Um deles, vindo do sertão, disse pestes da comida de Ilhéus. Não sabiam cozinhar, comida era de Pernambuco, não aquela porcaria dali, ninguém sabia o que era bom. Árabes pobres, mascates das estradas, exibiam as suas malas abertas, berliques e berloques, cortes baratos de chita, colares falsos e vistosos, anéis brilhantes de vidro, perfumes com nomes estrangeiros, fabricados em São Paulo. Mulatas e negras empregadas nas casas ricas, amontoavam-se ante as malas abertas:
- Compra, freguesa, compra. É baratinho… - a pronúncia cómica, a voz sedutora.
Longas negociações. Os colares sobre os peitos negros, as pulseiras sobre os braços mulatos, uma tentação! O vidro dos anéis faiscava ao sol que nem diamante.
- Tudo verdadeiro, tudo do melhor.
Nacib desceu pela Ladeira da Vitória, passou pelo cemitério. Lá em baixo a cidade brilhava ao sol, movimentada. O Ita, chegado de manhãzinha, descarregava. Desgraça de terra, falava-se tanto em progresso e não se podia conseguir nem mesmo uma cozinheira.
- Por isso mesmo – explicava-lhe João Fulgêncio quando o árabe parara na Papelaria Modelo para descansar – a mão-de-obra torna-se difícil e cara com a procura. Quem sabe se na feira?
A feira semanal era uma festa. Ruidosa e colorida. Um vasto descampado em frente do ancoradouro estendendo-se até às proximidades da Estrada de Ferro. Postas de carne seca, de sol, de fumeiro, porcos, ovelhas, veados, pacas e cotias, caça diversa.
Sacos de alva farinha de mandioca. Bananas cor de ouro, abóboras amarelas, verdes, jilós, quiabos, laranjas. Nas barracas serviam, em pratos de frandes, sarapatel, feijoada, moqueca de peixe. Camponeses comiam, o copo de cachaça ao lado. Nacib informou-se ali. Uma negra gorda, um torso na cabeça, colares e pulseiras, torceu o nariz:
- Trabalhar para patrão? Deus que me livre…
Pássaros de incrível plumagem, papagaios faladores.
- Quanto quer pelo louro, sinhá-dona?
- Oito mil réis porque é para vosmicê…
- Tão caro não pode ser.
- Mas é falador de verdade. Sabe cada palavrão…
O papagaio, como a provar, se esganiçava, cantava ai, seu Mé. Nacib passou entre montanhas de requeijão, o sol brilhava sobre o amarelo das jacas maduras. O papagaio gritava: “Tabaréu! Tabaréu!” Ninguém sabia de cozinheira.
Um cego, a cuia no Chão, contava na viola histórias dos tempos das lutas:
Amâncio, homem valente,
Atirador de primeira
Mais valente do que ele
Só mesmo Juca Ferreira.
Em noite de escuridão
Se encontravam na clareira.
“Quem vem lá?” – disse Ferreira.
É homem. Não é bicho não”
Seu Amâncio respondera
Com a mão na repetição.
Tremeram até os macacos
na noite de escuridão.
Os cegos às vezes eram bem informados. Não souberam dar notícias. Um deles, vindo do sertão, disse pestes da comida de Ilhéus. Não sabiam cozinhar, comida era de Pernambuco, não aquela porcaria dali, ninguém sabia o que era bom. Árabes pobres, mascates das estradas, exibiam as suas malas abertas, berliques e berloques, cortes baratos de chita, colares falsos e vistosos, anéis brilhantes de vidro, perfumes com nomes estrangeiros, fabricados em São Paulo. Mulatas e negras empregadas nas casas ricas, amontoavam-se ante as malas abertas:
- Compra, freguesa, compra. É baratinho… - a pronúncia cómica, a voz sedutora.
Longas negociações. Os colares sobre os peitos negros, as pulseiras sobre os braços mulatos, uma tentação! O vidro dos anéis faiscava ao sol que nem diamante.
- Tudo verdadeiro, tudo do melhor.
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