GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 44
Com sua recusa botara de vez uma pedra em cima da ideia. Foi o que disse a Tonico quando este, à noite, veio lhe falar do caso relatando as queixas de Clóvis:
- Tu precisa de jornal diário? Eu também não. Então Ilhéus não precisa. – E falou de outra coisa.
Qual não foi sua surpresa ao ver, nos postas da praça e nas paredes, dias depois, anúncios do próximo aparecimento do jornal. Mandou chamar Tonico:
- Que história é essa de jornal?
- De Clóvis?
- Sim, tem uns papéis dizendo que vai sair. As máquinas já chegaram e estão sendo montadas.
- Como é isso? Neguei meu apoio. Onde ele achou dinheiro? Na Baía?
- Aqui mesmo, pai, Mundinho Falcão…
E quem animara a fundação do Clube Progresso, quem dera dinheiro aos rapazes do comércio para fundar os clubes de futebol? A sombra de Mundinho Falcão projectava-se por toda a parte. Seu nome soava cada vez mais insistentemente aos ouvidos do coronel. Ainda agora, o árabe Nacib falara nele em sua chegada a anunciar a vinda de engenheiros do Ministério da Viação para estudar o caso da barra.
Quem lhe encomendara engenheiros, quem lhe entregara a solução dos problemas da cidade? Desde quando ele era autoridade?
- Quem deu essa comissão a ele? – A voz brusca do velho interrogava Nacib como se este tivesse alguma responsabilidade.
- Ah, isso lá não sei… Estou vendendo o peixe pelo preço que comprei…
As flores coloridas do jardim brilham à luz do dia esplêndido, pássaros trinam nas árvores em torno. O coronel fecha a cara, Nacib não tem coragem de despedir-se. O velho está zangado, de repente começa a falar. Se pensam que ele está acabado, estão enganados. Ainda não morreu nem é um inútil. Querem luta? Pois vamos lutar, que outra coisa ele fez na vida? Como plantou suas roças, marcou os amplos limites das suas fazendas, construiu seu poder?
Não foi herdando de parentes, crescendo à sombra de irmãos, nas grandes capitais como esse de Mundinho Falcão… Como liquidara os adversários políticos? Foi rompendo a mata, a Parabellum na mão, os jagunços a segui-lo. Qualquer ilheense de mais idade poderá contar. Ninguém esqueceu ainda essas histórias. Esse Mundinho Falcão está muito enganado, veio de fora, não conhece as histórias, era melhor primeiro informar.
O coronel bate com o bico da bengala no cimento do passeio. Nacib escuta em silêncio.
A voz cordial do professor Josué o interrompe:
- Bom dia, coronel. Tomando sol?
O coronel sorri, estende a mão ao jovem:
- Conversando aqui com o amigo Nacib. Sente-se.
Faz lugar no banco – Na minha idade tudo o que resta é tomar sol…
Ora, coronel, poucos moços valem o senhor.
Pois eu estava dizendo a Nacib que ainda não estou enterrado. Tem quem pense por aí que não valho mais nada…
Com sua recusa botara de vez uma pedra em cima da ideia. Foi o que disse a Tonico quando este, à noite, veio lhe falar do caso relatando as queixas de Clóvis:
- Tu precisa de jornal diário? Eu também não. Então Ilhéus não precisa. – E falou de outra coisa.
Qual não foi sua surpresa ao ver, nos postas da praça e nas paredes, dias depois, anúncios do próximo aparecimento do jornal. Mandou chamar Tonico:
- Que história é essa de jornal?
- De Clóvis?
- Sim, tem uns papéis dizendo que vai sair. As máquinas já chegaram e estão sendo montadas.
- Como é isso? Neguei meu apoio. Onde ele achou dinheiro? Na Baía?
- Aqui mesmo, pai, Mundinho Falcão…
E quem animara a fundação do Clube Progresso, quem dera dinheiro aos rapazes do comércio para fundar os clubes de futebol? A sombra de Mundinho Falcão projectava-se por toda a parte. Seu nome soava cada vez mais insistentemente aos ouvidos do coronel. Ainda agora, o árabe Nacib falara nele em sua chegada a anunciar a vinda de engenheiros do Ministério da Viação para estudar o caso da barra.
Quem lhe encomendara engenheiros, quem lhe entregara a solução dos problemas da cidade? Desde quando ele era autoridade?
- Quem deu essa comissão a ele? – A voz brusca do velho interrogava Nacib como se este tivesse alguma responsabilidade.
- Ah, isso lá não sei… Estou vendendo o peixe pelo preço que comprei…
As flores coloridas do jardim brilham à luz do dia esplêndido, pássaros trinam nas árvores em torno. O coronel fecha a cara, Nacib não tem coragem de despedir-se. O velho está zangado, de repente começa a falar. Se pensam que ele está acabado, estão enganados. Ainda não morreu nem é um inútil. Querem luta? Pois vamos lutar, que outra coisa ele fez na vida? Como plantou suas roças, marcou os amplos limites das suas fazendas, construiu seu poder?
Não foi herdando de parentes, crescendo à sombra de irmãos, nas grandes capitais como esse de Mundinho Falcão… Como liquidara os adversários políticos? Foi rompendo a mata, a Parabellum na mão, os jagunços a segui-lo. Qualquer ilheense de mais idade poderá contar. Ninguém esqueceu ainda essas histórias. Esse Mundinho Falcão está muito enganado, veio de fora, não conhece as histórias, era melhor primeiro informar.
O coronel bate com o bico da bengala no cimento do passeio. Nacib escuta em silêncio.
A voz cordial do professor Josué o interrompe:
- Bom dia, coronel. Tomando sol?
O coronel sorri, estende a mão ao jovem:
- Conversando aqui com o amigo Nacib. Sente-se.
Faz lugar no banco – Na minha idade tudo o que resta é tomar sol…
Ora, coronel, poucos moços valem o senhor.
Pois eu estava dizendo a Nacib que ainda não estou enterrado. Tem quem pense por aí que não valho mais nada…
(Click na imagem)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home