GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 55
Mundinho Falcão não dizia nada, sorria. Na porta do cinema apareciam Diógenes e o casal de artistas. Viram os outros na mesa, no passeio do bar, para lá se dirigiram.
Nacib acrescentava:
- É isso mesmo. Seu Mundinho para ele é um forasteiro.
- Ele disse “forasteiro” – perguntou o exportador.
- Forasteiro, sim, foi a palavra que usou.
Mundinho Falcão tocou no braço da Capitão.
- Pode procurar o homem, Capitão. Estou decidido. Vamos tocar música para o velho dançar… – Disse a última frase para Nacib.
O Capitão levantou-se, esvaziou o cálice, o casal de artistas estava chegando. Que diabo estariam os outros planejando? – cogitava Nacib. O Capitão cumprimentava:
- Desculpem-me, estava de saída, coisa urgente.
Os homens levantavam-se da mesa, arrastavam cadeiras. Uma sombrinha aberta. Anabela sorria, coquete. O Príncipe, com a sua piteira comprida, estendia a mão longa e magérrima, nervosa.
- Quando é a estreia? – perguntou o doutor.
- Amanhã… estamos acertando com seu Diógenes. O dono do cinema, barba por fazer, explicava numa voz eternamente desanimada e lamentosa de cantador de hinos sacros.:
- Creio que ele pode agradar. A meninada gosta desses truques de prestidigitação. E mesmo gente grande. Mas ela…
- Porque não? – perguntou Mundinho enquanto Nacib servia novos aperitivos.
Diógenes coçou a barba:
- O senhor sabe, isto aqui ainda é um lugar atrasado. Essas danças dela, quase nua, as famílias não vêm.
- Enche de homens… afirmou Nacib.
Diógenes estava cheio de dedos para explicar. Não querendo confessar ser ele próprio, protestante e pudico quem se sentia melindrado com as danças ousadas de Anabela:
- É coisa para cabaré… Não fica bem no cinema.
O Doutor, muito cortês e fino, desculpava a cidade ante a sorridente artista:
- A senhora desculpe. Terra atrasada, onde as ousadias da arte não são compreendidas. Acham tudo imoral.
- Danças artísticas – a voz cavernosa do prestidigitador.
- É claro, é claro… Mas…
Mundinho Falcão divertia-se.
- Ora, seu Diógenes…
- No cabaré ela pode até ganhar mais. Trabalha no cinema com o marido, nos truques. Depois dança no cabaré…
À voz de ganhar mais, iluminou-se o olhar o olhar do Príncipe. Anabela queria saber a opinião de Mundinho:
- O que é que acha?
- Bem, não é. Mágica no cinema, dança no cabaré… Perfeito.
- E o dono do cabaré? Será que se interessa?
- Isso vamos saber logo… – dirigia-se a Nacib. – Nacib, faça-me um favor: mande o rapaz chamar Zeca Lima, quero falar com ele. Com pressa, que venha logo.
Nacib gritou uma ordem ao negrinho Tuísca, que saíu correndo. Mundinho dava boas gorjetas. O árabe pensava na voz de mando do exportador, parecia a voz do coronel Ramiro Bastos quando mais moço, ordenando sempre, ditando leis. Alguma coisa estava para suceder.
O movimento aumentava, chegavam novos fregueses, animavam-se as mesas. Chico Moleza corria de um lado para o outro. Nhô-Galo reapareceu, juntou-se à roda. Também o coronel Ribeirinho, os olhos a engolir a dançarina. Anabela resplandecia entre todos aqueles homens. O Príncipe Sandra, com o seu ar de subalimentado, muito digno na cadeira, fazia cálculos do dinheirão a ganhar ali…
Praça para demorar, tirar a barriga da miséria.
- Essa ideia do cabaré não é má…
- Que ideia? – desejava saber Ribeirinho.
- Ela vai dançar no cabaré.
- No cinema, não?
- No cinema só mágicas. Pràs famílias. No cabaré a dança dos sete véus…
(Click na imagem)
Nacib acrescentava:
- É isso mesmo. Seu Mundinho para ele é um forasteiro.
- Ele disse “forasteiro” – perguntou o exportador.
- Forasteiro, sim, foi a palavra que usou.
Mundinho Falcão tocou no braço da Capitão.
- Pode procurar o homem, Capitão. Estou decidido. Vamos tocar música para o velho dançar… – Disse a última frase para Nacib.
O Capitão levantou-se, esvaziou o cálice, o casal de artistas estava chegando. Que diabo estariam os outros planejando? – cogitava Nacib. O Capitão cumprimentava:
- Desculpem-me, estava de saída, coisa urgente.
Os homens levantavam-se da mesa, arrastavam cadeiras. Uma sombrinha aberta. Anabela sorria, coquete. O Príncipe, com a sua piteira comprida, estendia a mão longa e magérrima, nervosa.
- Quando é a estreia? – perguntou o doutor.
- Amanhã… estamos acertando com seu Diógenes. O dono do cinema, barba por fazer, explicava numa voz eternamente desanimada e lamentosa de cantador de hinos sacros.:
- Creio que ele pode agradar. A meninada gosta desses truques de prestidigitação. E mesmo gente grande. Mas ela…
- Porque não? – perguntou Mundinho enquanto Nacib servia novos aperitivos.
Diógenes coçou a barba:
- O senhor sabe, isto aqui ainda é um lugar atrasado. Essas danças dela, quase nua, as famílias não vêm.
- Enche de homens… afirmou Nacib.
Diógenes estava cheio de dedos para explicar. Não querendo confessar ser ele próprio, protestante e pudico quem se sentia melindrado com as danças ousadas de Anabela:
- É coisa para cabaré… Não fica bem no cinema.
O Doutor, muito cortês e fino, desculpava a cidade ante a sorridente artista:
- A senhora desculpe. Terra atrasada, onde as ousadias da arte não são compreendidas. Acham tudo imoral.
- Danças artísticas – a voz cavernosa do prestidigitador.
- É claro, é claro… Mas…
Mundinho Falcão divertia-se.
- Ora, seu Diógenes…
- No cabaré ela pode até ganhar mais. Trabalha no cinema com o marido, nos truques. Depois dança no cabaré…
À voz de ganhar mais, iluminou-se o olhar o olhar do Príncipe. Anabela queria saber a opinião de Mundinho:
- O que é que acha?
- Bem, não é. Mágica no cinema, dança no cabaré… Perfeito.
- E o dono do cabaré? Será que se interessa?
- Isso vamos saber logo… – dirigia-se a Nacib. – Nacib, faça-me um favor: mande o rapaz chamar Zeca Lima, quero falar com ele. Com pressa, que venha logo.
Nacib gritou uma ordem ao negrinho Tuísca, que saíu correndo. Mundinho dava boas gorjetas. O árabe pensava na voz de mando do exportador, parecia a voz do coronel Ramiro Bastos quando mais moço, ordenando sempre, ditando leis. Alguma coisa estava para suceder.
O movimento aumentava, chegavam novos fregueses, animavam-se as mesas. Chico Moleza corria de um lado para o outro. Nhô-Galo reapareceu, juntou-se à roda. Também o coronel Ribeirinho, os olhos a engolir a dançarina. Anabela resplandecia entre todos aqueles homens. O Príncipe Sandra, com o seu ar de subalimentado, muito digno na cadeira, fazia cálculos do dinheirão a ganhar ali…
Praça para demorar, tirar a barriga da miséria.
- Essa ideia do cabaré não é má…
- Que ideia? – desejava saber Ribeirinho.
- Ela vai dançar no cabaré.
- No cinema, não?
- No cinema só mágicas. Pràs famílias. No cabaré a dança dos sete véus…
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