sábado, março 24, 2012

GABRIELA

CRAVO
E

CANELA


Episódio Nº 56


- No cabaré? Óptimo… Vai pegar enchente… Mas porque não dança no cinema? Eu pensei…

- Danças modernas, coronel. Os véus vão caindo um a um…

- Um a um? Todos sete?

- As famílias podiam não gostar…

- Ah! Lá isso é… Um a um… Todos? É melhor mesmo na cabaré… Mais animado.

Anabela ria, fitava o coronel com uns olhos prometedores. O Doutor repetia:

- Terra atrasada. Onde a arte é expulsa para os cabarés.

- Nem cozinheiro se encontra – lastimou-se Nacib.

O professor Josué descia a rua em companhia de João Fulgêncio. Chegara a hora do aperitivo. O bar regurgitava de gente. O próprio Nacib era obrigado a andar entre as mesas, servindo. Os fregueses reclamavam os salgados e doces, o árabe repetia explicações, praguejava contra a velha Filomena.

O russo Jacob, suando em bicas, despenteado e o cabelo ruivo, queria saber do jantar do dia seguinte:

- Não se preocupe. Não sou mulher-dama para faltar ao trato.

Josué, muito homem de sociedade, beijava a mão de Anabela. João Fulgêncio, que não frequentava o cabaré, protestava contra a pudicícia de Diógenes:

- Escândalo, coisa nenhuma. Isso é carolice desse protestante…

Mundinho Falcão espiava a rua, esperando a volta do Capitão. De quando em vez, ele e o Doutor trocavam olhares. Nacib acompanhava aqueles olhares, a impaciência do exportador. A ele não enganavam: alguma coisa estava sendo tramada.

O vento, vindo do mar, arrastava a sombrinha de Anabela, deixada aberta ao lado da mesa. Nhô-Galo, Josué, o Doutor, o coronel Ribeirinho, precipitaram-se para segurá-la. Apenas Mundinho Falcão e o Príncipe Sandra ficaram sentados. Mas quem a trouxe foi o Doutor Ezequiel Prado, que vinha chegando, os olhos empapados de ébrio.

- Meus respeitos, minha senhora…

Os olhos de Anabela, de longas pestanas negras, passavam de homem a homem, demoravam-se em Ribeirinho.

- Gente distinta! - disse o Príncipe Sandra.

Tonico Bastos, vindo do cartório, caía nos braços de Mundinho falcão, grandes demonstrações de amizade.

- E o Rio, como o deixou? Lá é que se vive…

Seus olhos mediam Anabela, seus olhos de conquistador, do homem irresistível da cidade.

- Quem me apresenta? – perguntou.

Nhô-Galo e o Doutor sentavam-se ao lado de um tabuleiro de gamão. Noutra mesa, alguém contava a Nacib as maravilhas de uma cozinheira. Tempero como o dela, nunca tinha visto… Só que estava no Recife, empregada de uma família Coutinho, pernambucanos importantes.

- De que diabo me serve?


(Click na imagem de Tonico Bastos, filho mais novo do coronel Ramiro Bastos, "conquistador, o homem irresistível da cidade". )

Site Meter