GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 72
- Obrigação de dentista é tratar dos doentes e não recitar versos às clientes bonitas, meu amigo. É o que eu afirmo e reafirmo: esses costumes depravados de terras decadentes estão querendo nos dominar… Começa a sociedade de Ilhéus a penetrar-se de veneno, direi melhor: de lama dissolvente…
- É o progresso, doutor.
- A esse progresso eu chamo de imoralidade… – Passou os olhos ferozes pelo bar: Chico Moleza chegou a estremecer.
A voz fanhosa de Nhô-Galo se elevou:
- De que costumes o senhor fala? Dos bailes, dos cinemas… Mas eu vivo aqui há mais de vinte anos e sempre conheci Ilhéus como uma terra de cabarés, de bebedeira farta, de jogatina, de mulheres-damas… Isso não é de agora, sempre existiu.
- São coisas para homens. Não que eu as aprove. Mas não são coisas que atinjam as famílias como esses Clubes onde mocinhas e senhoras vão dançar, esquecidas das obrigações familiares. O cinema é uma escola de depravação…
Agora o Capitão colocava outra pergunta: como podia um homem – e essa era também uma questão de honra – recusar uma mulher bonita quando ela, enleada por suas palavras, achando-o parecido com santo de igreja, tonteada pelo perfume em ondas das melenas negras, caía-lhe nos braços, obturados os dentes, mas para sempre ferido o coração? O homem tem também sua honra de macho.
Ao ver do Capitão o dentista era mais vítima do que culpado, mais digno de dó do que de reprovação.
- Que faria você, seu Dr. Maurício, se a dona Sinhàzinha, com aquele corpo que deus lhe deu, nua e de meias pretas se atirasse em cima de você? Saía correndo pedindo socorro?
Alguns ouvintes – o árabe Nacib, o coronel Ribeirinho, mesmo o coronel Manuel das Onças com seus cabelos brancos – pesaram a pergunta e a acharam irrespondível.
Todos eles haviam conhecido Dª Sinhàzinha, haviam-na visto atravessar a praça, as carnes presas no vestido apertado, indo para a igreja, o ar sério e recolhido… Chico Moleza, esquecido de servir, suspirou ante a visão de Sinhàzinha nua, atirando-se-lhe nos braços. Com o que foi expulso por Nacib.
- Vai servir, moleque. Onde já se viu?
Dr. Maurício sentia-se já em pleno júri:
- Vade retro!
Não era o dentista esse inocente que o Capitão (quase ia dizendo o “nobre colega” descrevia. E para lhe responder ia buscar à Bíblia, o livro dos livros, o exemplo de José…
- Que José?
- O que foi tentado pela mulher do faraó…
- Esse cara era brocha… - riu Nhô-Galo.
Dr. Maurício fuzilou com os olhos o funcionário da Mesa das Rendas:
- Tais pilhérias não se coadunam com a seriedade do assunto. Não era nenhum inocente o tal Osmundo. Bom dentista podia ser, mas era também um perigo para a família ilheense…
E o descreveu como se estivesse perante o juiz e os jurados: bem-falante, apurado no vestir – para quê toda aquela elegância em terra onde ao fazendeiros andavam de calça de montaria e botas altas?
- Obrigação de dentista é tratar dos doentes e não recitar versos às clientes bonitas, meu amigo. É o que eu afirmo e reafirmo: esses costumes depravados de terras decadentes estão querendo nos dominar… Começa a sociedade de Ilhéus a penetrar-se de veneno, direi melhor: de lama dissolvente…
- É o progresso, doutor.
- A esse progresso eu chamo de imoralidade… – Passou os olhos ferozes pelo bar: Chico Moleza chegou a estremecer.
A voz fanhosa de Nhô-Galo se elevou:
- De que costumes o senhor fala? Dos bailes, dos cinemas… Mas eu vivo aqui há mais de vinte anos e sempre conheci Ilhéus como uma terra de cabarés, de bebedeira farta, de jogatina, de mulheres-damas… Isso não é de agora, sempre existiu.
- São coisas para homens. Não que eu as aprove. Mas não são coisas que atinjam as famílias como esses Clubes onde mocinhas e senhoras vão dançar, esquecidas das obrigações familiares. O cinema é uma escola de depravação…
Agora o Capitão colocava outra pergunta: como podia um homem – e essa era também uma questão de honra – recusar uma mulher bonita quando ela, enleada por suas palavras, achando-o parecido com santo de igreja, tonteada pelo perfume em ondas das melenas negras, caía-lhe nos braços, obturados os dentes, mas para sempre ferido o coração? O homem tem também sua honra de macho.
Ao ver do Capitão o dentista era mais vítima do que culpado, mais digno de dó do que de reprovação.
- Que faria você, seu Dr. Maurício, se a dona Sinhàzinha, com aquele corpo que deus lhe deu, nua e de meias pretas se atirasse em cima de você? Saía correndo pedindo socorro?
Alguns ouvintes – o árabe Nacib, o coronel Ribeirinho, mesmo o coronel Manuel das Onças com seus cabelos brancos – pesaram a pergunta e a acharam irrespondível.
Todos eles haviam conhecido Dª Sinhàzinha, haviam-na visto atravessar a praça, as carnes presas no vestido apertado, indo para a igreja, o ar sério e recolhido… Chico Moleza, esquecido de servir, suspirou ante a visão de Sinhàzinha nua, atirando-se-lhe nos braços. Com o que foi expulso por Nacib.
- Vai servir, moleque. Onde já se viu?
Dr. Maurício sentia-se já em pleno júri:
- Vade retro!
Não era o dentista esse inocente que o Capitão (quase ia dizendo o “nobre colega” descrevia. E para lhe responder ia buscar à Bíblia, o livro dos livros, o exemplo de José…
- Que José?
- O que foi tentado pela mulher do faraó…
- Esse cara era brocha… - riu Nhô-Galo.
Dr. Maurício fuzilou com os olhos o funcionário da Mesa das Rendas:
- Tais pilhérias não se coadunam com a seriedade do assunto. Não era nenhum inocente o tal Osmundo. Bom dentista podia ser, mas era também um perigo para a família ilheense…
E o descreveu como se estivesse perante o juiz e os jurados: bem-falante, apurado no vestir – para quê toda aquela elegância em terra onde ao fazendeiros andavam de calça de montaria e botas altas?
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