GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 73
Não já era prova de decadência dos costumes, responsável pela decadência moral? Revelara-se, logo ao chegar à cidade, um dançarino emérito no tango argentino. Ah! Esse clube onde aos sábados e domingos moças e rapazes, mulheres casadas, iam rebolar-se… esse tal de Clube Progresso, que melhor se chamaria Clube da Esfregação… Nele o pudor e o recato desapareciam… Qual mariposa, Osmundo namorara, em seus oito meses de Ilhéus, meia dúzia das mis belas moças solteiras, pulando de uma para a outra, leviano coração.
Porque moças casadouras não lhe interessavam, queria era mulher casada, banquetear-se gratuitamente em mesa alheia.
Um malandrim, desses muitos que agora começam a aparecer nas ruas de Ilhéus. Pigarreou, balançou a cabeça, já agradecendo as palmas que no júri não faltariam, apesar das repetidas proibições do juiz.
Também no bar não faltaram aplausos.
- Bem dito… - apoiou o fazendeiro Manuel das Onças.
- Não há dúvida, é isso mesmo… - disse Ribeirinho – Foi bom exemplo, Jesuíno agiu como devia.
- Não discuto isso, falou o Capitão – Mas a verdade é que você, Dr. Maurício e muitos outros são contra o progresso.
- Desde quando progresso é safadeza?
- São contra, sim, e não me venha com essa história da safadeza numa terra cheia de cabarés e mulheres perdidas. Onde cada homem rico tem sua rapariga. Vocês são contra o cinema, um clube social, até às festas familiares. Vocês querem as mulheres em casa trancadas na cozinha…
- O lar é a fortaleza da mulher virtuosa.
_ Quanto a mim, não sou contra nada disso – explicou o coronel Manuel das Onças – Até gosto de um cinema para me distrair quando a fita é cómica. Arrastar o pé, não, não estou mais na idade. Mas isso é uma coisa e outra é achar que mulher casada tem direito de enganar o marido.
- E quem disse isso? Quem está de acordo?
Nem mesmo o Capitão, homem vivido, tendo morado no Rio e reprovando muitos dos actos de Ilhéus, nem mesmo ele sentia-se com coragem para opor-se de frente à lei feroz.
Tão feroz e rígida que o pobre Dr. Felismino, médico chegado a Ilhéus, uns quantos anos antes, para tentar a clínica, ali não pudera continuar após ter descoberto os amores de sua esposa Rita com o agrónomo Raul Lima e havê-la abandonado ao amante. Feliz, aliás, com a inesperada oportunidade de livrar-se da mulher insuportável com a qual casara nem ele mesmo sabia porquê.
Poucas vezes sentira-se tão satisfeito como ao descobrir o adultério: o agrónomo, enganado a respeito de suas intenções, a correr, seminu, pelas ruas de Ilhéus. A Felismino vingança nenhuma parecia melhor, mais refinada e tremenda: entregar ao amante os desperdícios de Rita, seu amor ao luxo, seu insuportável mandonismo.
Mas Ilhéus não possuía tanto senso de humor, ninguém o compreendera, consideravam-no um cínico, covarde e imoral, sua iniciada clientela esfumou-se, houve quem lhe negasse a mão, apelidaram-no de “Boi Manso”. Não teve outro jeito, foi-se embora para sempre.
Porque moças casadouras não lhe interessavam, queria era mulher casada, banquetear-se gratuitamente em mesa alheia.
Um malandrim, desses muitos que agora começam a aparecer nas ruas de Ilhéus. Pigarreou, balançou a cabeça, já agradecendo as palmas que no júri não faltariam, apesar das repetidas proibições do juiz.
Também no bar não faltaram aplausos.
- Bem dito… - apoiou o fazendeiro Manuel das Onças.
- Não há dúvida, é isso mesmo… - disse Ribeirinho – Foi bom exemplo, Jesuíno agiu como devia.
- Não discuto isso, falou o Capitão – Mas a verdade é que você, Dr. Maurício e muitos outros são contra o progresso.
- Desde quando progresso é safadeza?
- São contra, sim, e não me venha com essa história da safadeza numa terra cheia de cabarés e mulheres perdidas. Onde cada homem rico tem sua rapariga. Vocês são contra o cinema, um clube social, até às festas familiares. Vocês querem as mulheres em casa trancadas na cozinha…
- O lar é a fortaleza da mulher virtuosa.
_ Quanto a mim, não sou contra nada disso – explicou o coronel Manuel das Onças – Até gosto de um cinema para me distrair quando a fita é cómica. Arrastar o pé, não, não estou mais na idade. Mas isso é uma coisa e outra é achar que mulher casada tem direito de enganar o marido.
- E quem disse isso? Quem está de acordo?
Nem mesmo o Capitão, homem vivido, tendo morado no Rio e reprovando muitos dos actos de Ilhéus, nem mesmo ele sentia-se com coragem para opor-se de frente à lei feroz.
Tão feroz e rígida que o pobre Dr. Felismino, médico chegado a Ilhéus, uns quantos anos antes, para tentar a clínica, ali não pudera continuar após ter descoberto os amores de sua esposa Rita com o agrónomo Raul Lima e havê-la abandonado ao amante. Feliz, aliás, com a inesperada oportunidade de livrar-se da mulher insuportável com a qual casara nem ele mesmo sabia porquê.
Poucas vezes sentira-se tão satisfeito como ao descobrir o adultério: o agrónomo, enganado a respeito de suas intenções, a correr, seminu, pelas ruas de Ilhéus. A Felismino vingança nenhuma parecia melhor, mais refinada e tremenda: entregar ao amante os desperdícios de Rita, seu amor ao luxo, seu insuportável mandonismo.
Mas Ilhéus não possuía tanto senso de humor, ninguém o compreendera, consideravam-no um cínico, covarde e imoral, sua iniciada clientela esfumou-se, houve quem lhe negasse a mão, apelidaram-no de “Boi Manso”. Não teve outro jeito, foi-se embora para sempre.
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